O longa-metragem alemão O menino que fazia rir, que está em sua segunda semana em cartaz em Belo Horizonte (Cine Belas Artes, 16h), teve quase 4 milhões de espectadores em seu país, um número astronômico, que poucas obras logram alcançar na Alemanha.
Mesmo assim, a diretora Caroline Link diz que não passou por sua cabeça, nem pela dos produtores, inscrever o longa ao Oscar. "Sempre nos pareceu um filme muito local. Está sendo uma surpresa descobrir que o filme pode ir bem com audiências no exterior", afirma.
O menino que fazia rir se baseia no livro do comediante Hape Kerkeling, que pertence à mesma geração da diretora, nascida em 1964. "Hape escreveu dois livros de sucesso; este foi o segundo. O primeiro também foi filmado (Então, vou nessa!, 2015) e teve empatia com o público, mesmo não tendo números tão expressivos como o nosso. Hape é profundo, é humano, e as pessoas percebem isso", diz Caroline.
No limite, é uma história de família, e Hape se espelha nos pais, tios e avós para fazer rir. Mas não apenas neles. "No final, ele diz que carrega a família dentro dele, mas também a paisagem, as flores, as aves. Pode parecer banal, mas é verdadeiro. Se você conversa cinco minutos com ele, percebe que é muito autêntico."
Para Caroline, que teve uma infância não exatamente similar, mas na mesma época, em outra cidade pequena, era importante colocar na tela essa atmosfera particular de uma Alemanha para a qual a 2ª Guerra Mundial, com todas as suas feridas, ainda era uma experiência recente. É uma história de perdas. Pessoas próximas ao pequeno Hape morrem, mas ele segue com sua irresistível vocação para fazer rir.
"Dizem que todo grande palhaço é triste, e Hape é a expressão dessa melancolia, que transforma em força vital." O papel do garoto ficou com Julius Weckauf, de 11 anos. "Já dirigi muitas crianças e confesso que gosto desse frescor que elas trazem. Julius é incrível e, com os demais atores, sinto que criamos uma família de verdade. Ele era estreante, e a mãe, a avó são conhecidas da TV, mas ninguém é superstar. Realçam o aspecto de pessoas comuns que o filme retrata."
Comuns, mas um tanto extravagantes. O passeio de carruagem, o prazer do garoto de se travestir. Hape chega a brigar com um parente que diz que ele daria uma linda garotinha. "É só representação!" É um filme muito bonito. Ao ouvir que seu filme tem tido bom desempenho nos cinemas brasileiros, a diretora diz: "Saber que o filme chega tão longe, ao Brasil, com esse acolhimento, gratifica a alma. O mundo anda tão difícil. Levar um pouco de calor humano às pessoas, sem falsificar a realidade, é tudo que quero."