“A única literatura de que tive inveja na vida”, anotou Virginia Woolf (1882-1941) em seu diário, quando da morte da escritora neozelandesa Katherine Mansfield (1888-1923). Uma apaixonada pela obra da autora de Mrs. Dalloway e Orlando, a atriz e diretora Cynthia Paulino foi apresentada à obra de Mansfield por causa de Woolf.
O conto A casa de bonecas provocou enorme impacto em Cynthia Paulino. “Não conseguia dormir de tanto que chorei”, comenta ela, que se lançou à aventura de levar a narrativa de um grupo de meninas para o palco. Há tempos não me sentia tão acompanha as lembras de três irmãs – interpretadas pelas atrizes Bella Michielini, Izabella Azevedo e Samara Martuchelli – que, ao ganhar de presente uma casa de bonecas, precisam lidar com um mundo de aparências.
“O texto fala de um tema difícil que é a infância, mas sem cair em nada melodramático. É muito triste, mas muito doce também”, diz Paulinho, que levou uma parte de sua vida pessoal para a montagem. “Não tenho saudades da minha infância, que sempre teve brigas, confusões. Eu não tinha silêncio, paz. E o texto vai ao encontro disso, mas sem pesar, ficar analisando.”
Segundo a diretora, que assinou ainda a dramaturgia, A casa de bonecas transita entre as personagens do conto e de histórias pessoais. “É como um jogo, em que começamos a falar sobre isso. E pretendemos continuar, pois não há nada resolvido.”
No palco, o cenário é formado por centenas de bonecas de pano – pouco mais de 200 – confeccionadas a mão pela equipe. “Achei legal ritualizar o processo, pois, ao longo da vida, você vai sendo várias crianças. E quanto mais velhos ficamos, mais percebemos que há uma criança dentro de nós de quem temos que cuidar”, afirma.
Há tempos não me sentia tão
Montagem da Companhia Teatro Adulto com direção de Cynthia Paulino. Teatro João Ceschiatti –Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3263-7400. Quinta (10), sexta (11) e sábado (12), às 20h; domingo (13), às 19h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).