Amado por uns e odiado por outros, o cantor e compositor Walter Franco morreu na madrugada de ontem, aos 74 anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido há duas semanas. Paulistano, Walter Rosciano Franco foi contemporâneo de importantes movimentos musicais brasileiros, como a Bossa Nova e o Tropicalismo, mas não chegou a se filiar a nenhum deles, o que contribuiu para sua fama de artista “maldito”. Franco manteve-se sempre na vanguarda.
A notícia de sua morte foi dada pelo filho Diogo, que agradeceu a todos pelas orações e boas vibrações manifestadas pelos fãs em diversas partes do Brasil. Diogo já havia sinalizado há alguns dias que as condições do seu pai não eram nada boas. O corpo de Franco foi velado ontem numa casa funerária no Centro de São Paulo, e a cremação estava prevista para o início da noite.
Polêmico, Franco viveu momentos tumultuados na carreira, como a participação no Festival Internacional da Canção de 1972, realizado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Ele disputou com Cabeça, que terminou sendo vaiada pelo público e perdeu o primeiro lugar para Fio Maravilha, de Jorge Benjor, defendida pela voz de Maria Alcina. Mais tarde, o poeta concreto Augusto de Campos traduziu Cabeça para o inglês.
São de Franco também canções marcantes na história da música brasileira, como Vela aberta, Seja feita a vontade do povo, Serra do luar, Coração tranquilo, Respire fundo e Me deixe mudo canalha. Várias de suas composições foram gravadas por grupos como Titãs, Ira! e Camisa de Vênus e artistas como Chico Buarque e Leila Pinheiro.
Ontem, Lobão comentou a morte de Walter Franco com um post em que disse: “Morre um dos maiores gênios criativos da música brasileira, Walter Franco. Muita tristeza, o Brasil fica mais pedestre do que nunca com sua falta”. Os Titãs também usaram suas contas em rede social para lamentar a morte: “Nossos sentimentos à família, amigos e fãs do Walter Franco, o brilhante compositor, músico e amigo que morreu ontem. Walter foi um dos mais criativos e instigantes compositores da MPB e influenciou muito o nosso trabalho”.
VANGUARDA PAULISTA
O início da carreira de Franco se deu nos anos 1970, quando integrou a chamada Vanguarda Paulista, na qual se destacavam também Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Suas músicas tinham arranjos sofisticados, que ficavam a cargo de mãos competentes, como as dos maestros, arranjadores e compositores Júlio Medaglia e Rogério Duprat, este último um dos maiores responsáveis pela ascensão do tropicalismo, movimento de ruptura cultural que, na música, tem como marco o lançamento, em 1968, do disco Tropicália ou Panis et Circencis. Entre os tropicalistas mais destacados estavam Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e o próprio Duprat.
Em 1975, Franco lançou Revolver, que se tornou o seu álbum mais celebrado pela crítica. As 14 faixas também caíram no gosto do público, embora acentuassem a afirmação de Franco como um músico alternativo, avesso aos padrões e tendências vigentes na época.
Na era de ouro dos festivais, Franco teve participações destacadas, como no Festival da Tupi, realizado em 1979 pela Rede Tupi de Televisão, cuja final foi no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. Sua música Canalha ficou em segundo lugar, perdendo para Quem me levará sou eu (Dominguinhos e Manduka), interpretada por Fagner. O terceiro lugar coube a Bandolins, de Oswaldo Montenegro. Canalha acabou entrando no álbum Vela aberta, lançado em 1980.
DISCOGRAFIA
Tema do hospital (1971 – compacto simples)
Ou não (1973)
Revolver (1975)
Respire fundo (1978)
Vela aberta (1979)
Walter Franco (1982)
Tutano (2001)
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