Com trabalhos que reúnem tendências como o construtivismo e a arte pop, ligados à programação visual, publicidade, fotografia e cinema, em integração à cultura pop, o artista mineiro Raymundo Colares (1944-1986), nascido em Grão Mogol, tem parte de sua obra exposta pela primeira vez em Belo Horizonte.
Com curadoria da crítica e escritora carioca Lígia Canongia, a exposição Raymundo Colares: de volta à estrada será aberta nesta terça-feira (5), às 10h, na Galeria do Centro Cultural Minas Tênis Clube. Os 30 trabalhos permanecerão expostos até o dia 2 de fevereiro.
Lígia conta que, entre as obras selecionadas para essa individual, constam pinturas, gravuras, guaches, os famosos gibis, o diário pessoal e farto material documental sobre a vida e a produção do artista, que iniciou sua trajetória na década de 1960, sob a influência da pop art norte-americana. “Para muitos, inclusive, esse foi o movimento que deflagrou o período contemporâneo nas artes visuais”, ressalta a curadora.
Ela aponta Colares como um dos artistas mais importantes da arte contemporânea brasileira. “Trazer a exposição dele para Minas, que é o seu estado natal, será corrigir um esquecimento que houve em relação à importância dessa obra. Será um chamado à atenção pública para um artista mineiro que é de suma importância para a historiografia da arte neste país. Ele está no mesmo patamar de Lygia Clark e Amilcar de Castro. Então é um mérito que ainda precisa ser reconhecido em Minas.”
Lígia lembra que a obra de Colares já foi reunida em duas retrospectivas no Rio de Janeiro e uma outra em São Paulo, além de contar com diversas citações em catálogos internacionais. “Suas obras custam uma fortuna e ele, simplesmente, é desconhecido do grande público mineiro. Esta mostra proporcionará uma grande oportunidade de cobrir essa lacuna no conhecimento da população local e trazer reconhecimento para a importância dessa obra. Colares é citado em todos os livros da arte contemporânea brasileira.”
MORTE TRÁGICA
Essa é a segunda retrospectiva de Colares com a curadoria de Lígia Canongia – a primeira foi realizada em 1997, no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro. “Estou tentando há muitos anos fazer uma exposição dele aqui em Minas e agora surgiu esta oportunidade. Infelizmente, ele teve um fim trágico em 1986, quando morreu queimado por um incêndio em um hospital, na cidade de Montes Claros. Embora tenha tido uma vida muito curta, deixou uma obra muito expressiva, pois produziu bastante. Os principais museus e os grandes colecionadores brasileiros têm obra dele.”
Colares estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e depois se transferiu para o Museu de Arte Moderna, que, como observa a curadora, era um lugar de contato mais direto com a expressão contemporânea e mundial e onde passou a ser aluno de artistas muito importantes.
“Colares também tem um segmento da produção que se chama Gibis. Ele tinha uma grande admiração pelas histórias em quadrinhos e isto influenciou até na sua maneira de estruturar as formas dentro da tela.”
Lígia lembra que o artista produziu livros manuseáveis, feitos de cores e recortes. “A história dele tem tudo a ver com um pouco da fragmentação cubista, com a decomposição e não com a composição. Esses livros são de páginas coloridas, todas recortadas e, quando se manuseia um recorte ou outro, vai se movendo a própria imagem, a cor e a forma transformando-se. Estamos colocando três réplicas desses gibis para o público manusear e acompanhar esse desdobramento das páginas.”
A exposição conta também com um painel de informações sobre a biografia de Colares. “Colocamos poemas, cartas que ele trocou com o artista Antônio Manoel e com Hélio Oiticica, além de retratos com a família, amigos. Fizemos um painel documental muito rico”, afirma.
• Raymundo Colares: de volta à estrada
Exposição de obras do artista, na galeria do Centro Cultural Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360). Desta terça-feira (5) a 2 de fevereiro, das 10h às 20h (terça a sábado) e das 11h às 19h (domingos e feriados). Entrada franca.
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