As mulheres da cidade servo-bósnia de Srebrenica protestaram ontem, em frente à embaixada sueca em Sarajevo, contra a entrega do Prêmio Nobel de Literatura ao escritor austríaco Peter Handke. O grupo critica a postura pró-Sérvia do autor durante as guerras dos anos 1990 na ex-Iugoslávia.
Em outubro, a Academia sueca anunciou o reconhecimento da obra de Peter Handke, considerado "herdeiro de Goethe". Suas posturas pró-sérvios durante o conflito iugoslavo provocaram, porém, violentas polêmicas no passado.
A entrega dos Prêmios Nobel ocorre em 10 de dezembro, dia do aniversário da morte de Alfred Nobel. As mulheres de Srebrenica, cidade da Bósnia oriental que foi palco do pior massacre cometido na guerra da Bósnia (1992-1995), disseram esperar que a Academia sueca mude sua decisão.
Algumas levavam cópias de uma foto de Peter Handke em Srebrenica, tirada, segundo elas, na "primavera de 1996", meses depois de as forças sérvias da Bósnia matarem 8 mil homens e adolescentes bósnios muçulmanos, em julho de 1995.
Após uma breve concentração, elas entregaram ao embaixador da Suécia uma carta para o casal real sueco. No texto, pedem-lhe que "impeça uma vergonha, não apenas para o povo sueco", mas "uma vergonha para a civilização".
NEGACIONISTAS
"Nos reunimos para lhes dizer que não estamos de acordo com a atribuição do prêmio a um dos que apoiavam o crime e o genocídio", declarou à imprensa Munira Subasic, presidente de uma associação de mães de Srebrenica. Em sua carta, essas mulheres defendem que "o combate contra os negacionistas do genocídio é o pior dos combates". "O Prêmio Nobel a Handke é um apoio à nossa humilhação" por parte dos negacionistas, afirmam.
Em 1996, um ano depois do final dos conflitos na Bósnia e na Croácia, Handke publicou o polêmico panfleto Justiça para a Sérvia. De origem eslovena por parte materna, o escritor, nascido em 6 de dezembro de 1942 em Caríntia (Sul da Áustria), aparece como um dos poucos intelectuais ocidentais pró-sérvios.
O autor, de 76 anos, que vive perto de Paris, condenou em 1999 os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre a Sérvia. Os ataques aéreos foram lançados para forçar Slobodan Milosevic, homem forte de Belgrado naquela época, a retirar suas tropas da então província sérvia de Kosovo.
Em 2006, Handke assistiu ao enterro de Milosevic, que faleceu antes de ser julgado por crimes contra a humanidade e genocídio. Feito cidadão honorário da cidade de Belgrado, em fevereiro de 2015, Peter Handke nunca renegou seu compromisso pró-sérvio.
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