O Inhotim abre à visitação neste sábado (9) para uma obra monumental e inédita que integra seu acervo permanente. Desta maneira, a instituição em Brumadinho pretende mostrar que, a despeito dos sucessivos revezes sofridos nos últimos anos, continua sendo uma instituição vital e em constante movimento.
Um dos maiores artistas vivos, na opinião de Allan Schwartzman, curador-chefe e diretor-artístico do instituto, o norte-americano Robert Irwin (1928) tem um trabalho pioneiro na seara da percepção. “Sempre foi uma prioridade minha trabalhar com ele, porque é um artista grande e influente e, ao contrário de outros de sua geração, há poucas obras permanentes dele. A maior parte de suas instalações são para exposições temporárias”, afirma Schwartzman.
Vindo de Nova York, o diretor-artístico acompanharia ontem (8), a inauguração da obra de Irwin para um grupo de convidados. A partir deste sábado (9), esta e outras novidades de Inhotim serão abertas ao público.
Além da obra de Irwin, Inhotim inaugura mostra temporária na Galeria Mata; uma instalação de Gisela Motta, Leandro Lima e Claudia Andujar; e um novo jardim poético. Após restauração, três destaques do parque em Brumadinho serão reabertos: De lama lâmina, obra de Matthew Barney; Narcissus garden, de Yayoi Kusama e a galeria True rouge, de Tunga.
Obra escultórica em concreto, aço inox e vidro, com 6,3m x 14,6m (um dos maiores, se não o maior, do artista), o trabalho de Irwin foi instalado na área mais alta do parque, que até então estava fechada. O projeto havia sido adquirido há cinco anos por Inhotim e sua confecção foi realizada em conjunto com o escritório do artista, hoje com 91 anos.
“Quando um artista vai realizar um trabalho de grande porte em Inhotim, o local é central para a obra. Este trabalho especialmente, pois ele é uma peça de arquitetura que se abre sobre a terra. O local tinha que ser proeminente, pois a partir dele você pode ver onde está em relação com o ambiente que o cerca”, diz Schwartzman.
A obra, sem título, não é arquitetura, “embora utilize a linguagem da arquitetura”, explica o diretor-artístico. “Ela lida com espaço e luz, temas centrais na obra de Irwin (um dos pioneiros, a partir dos anos 1960, do movimento Light and Space, que reuniu artistas do Sul da Califórnia), e se parece mais com uma escultura do que a maioria das obras dele.” Há um ano a Galeria Lago exibe a instalação Black3, de Irwin, feita com lâmpadas fluorescentes.
VITALIDADE
VITALIDADE
Desde fevereiro em Inhotim, Renata Bittencourt, atual diretora-executiva (entrou no lugar de Antônio Grassi, alçado ao posto de diretor-presidente), afirma que as inaugurações desta semana buscam reforçar dois sentidos para o instituto. “De um lado, o dinamismo como uma instituição vinculada à cidade de Brumadinho (boa parte de seus 600 funcionários vive na cidade). Do outro, a vitalidade como instituição e o papel que Inhotim ocupa no cenário cultural.”
A importância institucional deve ser reforçada em meio à crise que afetou o instituto a partir de 2017. Naquele ano, Bernardo Paz, seu fundador, renunciou à presidência da instituição – o empresário foi condenado em primeira instância a nove anos e três meses de prisão por sonegação fiscal.
No ano seguinte, um surto de febre amarela em Minas Gerais tirou público de Inhotim – até o fim do verão de 2018, a instituição exigiu o cartão de vacinação para os visitantes. A queda se acentuou, chegando a 40%, após o rompimento da barragem de minério da Vale, em Brumadinho, em 25 de janeiro – Inhotim fica a 18 quilômetros da Barragem do Córrego do Feijão, centro da tragédia, que matou, em 25 de janeiro, 252 pessoas – 18 seguem desaparecidas.
De acordo com Renata, Inhotim vem recuperando seu público gradativamente. De janeiro a setembro, a instituição recebeu 220 mil pessoas, segundo ela. Esse número, faltando três meses para terminar o ano, deverá superar o de 2018, que foi de 250 mil. “Nos dias gratuitos (quartas-feiras) de julho, chegamos a ter mais de 10 mil pessoas. O público se disse motivado a ir, até como uma maneira de ser solidário (às vítimas da tragédia que devassou a região). Então vimos que percepção tinha se transformado.”
Um pool de empresas – Vale, Itaú, Taesa e Vivo – responde pelo patrocínio de Inhotim. Verba vinda de doações e a renda da bilheteria, da loja e dos restaurantes complementam o orçamento. “Vamos ter um ano de saúde financeira, no entanto seguimos procurando”, diz ela. O desafio para um futuro próximo, de acordo com Renata, é salientar a importância de Inhotim, “pois nem sempre o poder da economia da cultura é tão evidente para a sociedade”.
Para Schwartzman, pensar Inhotim é essencial. “Criamos algo do nada, e hoje Inhotim é uma das instituições artísticas mais inovadoras do mundo. Manter este legado saudável e vivo é realmente importante.” Mesmo em meio à inauguração, o diretor-artístico já está de olho no próximo ano.
No segundo semestre de 2020, será inaugurada a galeria dedicada à artista japonesa Yayoi Kusama (que ficará em uma parte mais alta do parque, entre a galeria de Adriana Varejão e o prédio Cosmococa). “Temos hoje aproximadamente 12 projetos de trabalhos permanentes que estão em diferentes estágios de desenvolvimento. A maior parte deles está pronta para começar a ser executada. Agora é uma questão de ter os meios para fazê-lo”, diz Schwartzman.
INHOTIM
Rua B, 20, Brumadinho, (31) 3571-9700. A série de inaugurações do Instituto de Arte Contemporânea vai contar com uma programação especial neste sábado (9). A partir das 9h30, haverá visitas mediadas e, às 15h, uma palestra-concerto com José Miguel Wisnik e Kristoff Silva. Ingressos: R$ 44 e R$ 22 (meia). Transporte: vans Belvitur (R$ 66 ida e volta, informações (31) 3290-9180) e ônibus Saritur (R$ 41,05 a ida e R$ 37,15 a volta. Mais informações: www.saritur.com.br).
O QUE HÁ DE NOVO
Confira as inaugurações deste fim de semana no Inhotim
YANO-A
A videoinstalação, na Galeria Claudia Andujar, uniu o trabalho da artista com a dupla Gisela Motta e Leandro Lima. Criada em 2005 para a Galeria Vermelho, em São Paulo, na mesma época em que Andujar ganhou uma grande retrospectiva na Pinacoteca, a obra Yano-a se apropria da fotografia Wakata-ú, Tiy (1974, tudo o que corre, em yanomâmi), que mostra uma maloca incendiada.
“Pensamos em uma obra que pudesse atualizar o trabalho dela”, comenta Gisella Motta. A imagem original é projetada em uma tela, e outra fonte de luz (de um projetor de vídeo) exibe as labaredas. “Estas são resultantes de todos os registros (fotos) que a Claudia fez naquele dia. A sequência de stills cria uma imagem em movimento”, explica. O fogo tremulando reforça a ideia de que a maloca é continuamente incendida.
GALERIA MATA
Para dialogar com a obra de Robert Irwin, uma das galerias de Inhotim dedicadas a exposições temporárias abriga a mostra Visão geral, que apresenta seis trabalhos escultóricos de artistas brasileiros.
“Apenas o de Sara Ramo (Fissuras) não é de Inhotim, foi empréstimo. Os demais são do acervo, alguns já expostos em outras ocasiões”, afirma o curador associado Douglas de Freitas. Máquina do mundo, de Laura Vinci, abre a exposição. “É uma máquina que transporta bem devagar, de um lado para outro, pó de mármore, material que é símbolo da escultura. Com isto, cria uma ideia de ampulheta, discutindo a passagem do tempo”, diz o curador.
Dois trabalhos de Iran do Espírito Santo, Sem título e Barril de petróleo, ocupam o espaço seguinte, em uma montagem diferente da que já foi vista anteriormente em Inhotim. Na terceira sala, Sara Ramo questiona “o que é ordem e desordem” em um trabalho que mostra uma obra em construção. José Damasceno cria objetos escultóricos a partir de carpete em Método para arranque e deslocamento.
Inédito em Inhotim, Mix (Boom), de Alexandre da Cunha, reconfigura um objeto comum (velhos tambores), aqui transformados em escultura. Já Seção diagonal, de Marcius Galan, fecha a mostra com um trabalho sobre ilusão de ótica.
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