Foi por causa de Dominguinhos (1941-2013) que a cantora paulista Mariana Aydar se aproximou do cantor, compositor e acordeonista sergipano Mestrinho. O encontro se transformou em uma grande amizade, sempre norteada pelo sanfoneiro pernambucano, considerado herdeiro musical de Luiz Gonzaga (1912-1989).
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Vira e mexe, Mariana e Mestrinho se apresentam pelos palcos do país. Nesta quinta-feira (14), a dupla vai abrir um dos eventos mais importantes dedicados aos ritmos nordestinos: o Festival Rootstock Brasil, que chega à 18ª edição – a terceira em Belo Horizonte. Até sábado (16), a Serraria Souza Pinto receberá o melhor do forró, baião, xote e afins.
“É uma honra estar neste festival, ainda mais ao lado do Mestrinho. Não vão faltar músicas do Dominguinhos e também do Jackson do Pandeiro, que completaria 100 anos agora, o grande homenageado do evento”, afirma Mariana.
O forró sempre esteve presente na vida da cantora, filha do músico Mario Manga, do grupo Premê, e da produtora Bia Aydar, que foi empresária de Gonzagão. “Forró é, ao mesmo tempo, pop e muito rock’n’roll. Se você analisar, sanfona, zabumba e triângulo não deixam de formar um power trio. São instrumentos potentes e preenchem tudo. O gênero vai muito além da música nordestina”, diz Mariana.
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A primeira experiência musical da cantora paulista foi em uma banda de forró, a Caruá, da qual fez parte por três anos. Tempos depois, conheceu o instrumentista e cantor Duani (um dos criadores do grupo carioca Forróçacana, que, aliás, participará do Rootstock ao lado de Geraldo Azevedo). Os dois se casaram e tiveram a filha Brisa. “Ela é fruto do forró. Certa vez, eu e Duani demos uma canja no Roostock e foi muito bacana. Ao longo dos anos, conheci muitas pessoas desse meio, nordestinas ou não, e sempre estou aprendendo com elas.”
Em abril, Mariana Aydar lançou Veia nordestina – primeiro em EP e agora em disco completo. O projeto dá uma repaginada no forró. A cantora sempre quis experimentar algo novo dentro do ritmo, trazendo outros elementos a ele. “Tive várias influências, apesar de minha base ser o forró pé de serra. Acho importante dar essa incrementada, essa renovada”, explica.
Mariana sempre gostou de arrasta-pé. Faz questão de aproveitar o festival mineiro para balançar o esqueleto. “Amo dançar forró, ele me move muito. Acho até que aprendi a cantar forró dançando. Quero aproveitar o espaço só para isso e me jogar. Vou a BH não só para cantar, mas dançar”, avisa.
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Além de 18 shows, a programação inclui 12 DJs, workshops de dança e música, palestras, feira de produtos e de comidas típicas. “É um festival completo, que abrange tudo ligado ao universo forrozeiro. BH ama forró, tem programação de segunda a segunda, em todas as regiões. Muitos a consideram a capital do forró fora do Nordeste, tanto é que o Rootstock Brasil acabou migrando do interior de São Paulo para cá”, destaca o organizador do evento, Tomás Dias.
Devido à localização da capital, o festival atrai gente de vários cantos do país. Tomás Dias reclama do fato de nem o poder público nem grandes empresas reconhecerem a importância do evento. “A gente faz tudo sem patrocínio, público e privado. Rootstock é fruto do amor e da dedicação de apaixonados pelo forró. Ele segue firme por causa da fidelidade do público, que valoriza as nossas raízes.”
JACKSON
Um dos destaques é a exposição Jackson é 100, Jackson é pop, que rememora momentos marcantes da trajetória de Jackson do Pandeiro, o homenageado desta edição. A mostra vem direto do Museu de Arte Popular da Paraíba para Belo Horizonte, reunindo acervo pessoal do cantor e compositor paraibano.
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Artistas locais também têm espaço no evento, como os blocos de carnaval com repertório forrozeiro Pisa na Fulô e Baião de Rua, e o grupo Xote das Meninas. “Além de serem daqui de BH, é uma banda formada só por mulheres. É importante a gente trazer à tona a questão feminina. Infelizmente, não só no forró, mas também em outros estilos musicais ainda é raro ver grupos só de mulheres”, observa Tomás.
ZECA
Na sexta-feira (15), uma das atrações mais aguardadas é o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro, que ouve forró desde criança. Entre suas lembranças mais marcantes estão as festas juninas, que se dividiam entre a tradição do forró e as brincadeiras do bumba meu boi e do tambor de crioula.
“Genival Lacerda participou do meu primeiro disco. Depois, colaborei com vários artistas do gênero, ou que transitam por ele, como Elino Julião, Elba Ramalho, Trio Nordestino, Fagner, Forróçacana, Rastapé, etc. Agora criei o Forró do safadinho pra me divertir, divertir as pessoas e tentar impulsionar o nosso pé de serra. A concorrência anda desleal”, brinca ele. No projeto, Baleiro apresenta forrós autorais e suas versões para clássicos de Genival Lacerda, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos e João do Vale.
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O repertório dele no Rootstock será focado no forró genuíno, trazendo de Dominguinhos, Gonzagão, Flávio José, João do Vale e Accioly Neto a canções do disco dedicado ao gênero que ele está preparando para 2020. Jackson do Pandeiro está no setlist de Zeca. “Ele foi o rei do ritmo, do suingue, da divisão divertida e inesperada. Também inovou ao colocar elementos de samba no forró. Um gênio. Influenciou todos nós.”
Zeca acaba de lançar o disco O amor no caos – Vol. 2, que traz sete composições autorais, além da parceria com o maranhense Marcos Magah e um poema do francês Tristan Corbière musicado por ele. “Tem participações especiais das cantoras Diana Pequeno, Jade Baraldo, Tatiana Parra e da portuguesa Susana Travassos. É um disco mais acústico, mais reflexivo e mais emocionado que o volume 1”, explica.
Ao se referir ao título do projeto, Zeca Baleiro diz que sempre achou que a vida caótica e tudo que surgiu de civilizatório foi para dar sentido a essa desordem. “Nada mais civilizatório que o amor. Falo menos do amor romântico e mais do amor cotidiano – afeto, empatia, compaixão. É um exercício difícil, ainda mais em meio a essa pobre e tenebrosa polarização política. Como ter empatia por alguém que pensa e age de um modo exatamente oposto ao seu? Quando as visões de mundo se chocam desse jeito, é muito difícil praticar esse amor. Mas é necessário investir nisso, não vejo outra saída. Vejo luz no fim desse túnel político, sim, pois o Brasil é culturalmente imenso e um projeto de nação lindo. Um dia, quem sabe, ele se realiza”, conclui.
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FESTIVAL ROOTSTOCK BRASIL
De quinta (14) a sábado (16), na Serraria Souza Pinto. Av. Assis Chateaubriand, 889, Centro. Ingressos – Avulso noite/shows (3º lote):
R$ 140 (inteira), R$ 70 (meia) e R$ 75 (solidário). Avulso workshop: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Passaporte (3º lote): R$ 420 (inteira), R$ 210 (meia) e R$ 220 (solidário). Ingresso solidário mediante doação de 1 litro de leite ou 1kg de alimento não perecível, exceto açúcar, farinha e fubá. Vendas e informações no site Sympla.
SHOWS
QUINTA (14)
» Das 20h às 5h
DJ Adriano Lopes
2 Dobrado
DJ Sampa
Ó do Forró
DJ Paulinho
Mestrinho e Mariana Aydar
SEXTA (15)
» Das 17h às 5h
Xote das Meninas
DJ Fred Boi
DJ Xeleléu
Trio Estopim e Marimelo
Trio Alvorada e Biliu de Campina
DJ Flávio Bruno
Zeca Baleiro
DJ Cacai Nunes
Trio Dona Zefa
Os 3 do Nordeste
Bloco Baião de Rua
SÁBADO (16)
» Das 18h às 5h
DJ Ivan
DJ Black
Trio Potiguá e Karenn Fontes
Edson Duarte
DJ James Lima
Trio Nordestino
DJ Vhinny
Forróçacana e Geraldo Azevedo
Nando Nogueira e Nicolas Krassik
Bloco Pisa na Fulô