Jornal Estado de Minas

Do riso ao choro em novo filme de Catherine Deneuve

De perto ninguém é normal. Na família de Andréa (Catherine Deneuve), menos ainda. Na véspera de seu aniversário, a matriarca reúne marido, filhos, netos e agregados para a comemoração. É verão, estão todos na residência da família, um casarão histórico enorme que já viu dias melhores no Sudoeste da França. A chegada da filha mais velha, Claire (Emmanuelle Bercot), sumida havia alguns anos, traz o caos. Ninguém sai ileso daquele fim de semana.



Esse é o cenário da produção francesa Feliz aniversário, em cartaz em Belo Horizonte. O longa trouxe ao Brasil seu diretor e roteirista Cédric Kahn, que também interpreta Vincent, o filho bem-sucedido de Andréa e Jean (Alan Artur). Ele é o oposto de Romain (Vincent Macaigne), um cineasta de filmes que ninguém viu. Chega em casa com a nova namorada decidido a fazer um documentário familiar. Entre um take e outro vem o telefonema que abala as estruturas familiares.

Claire estava na chuva, chorando, pedindo que alguém fosse buscá-la. Ao chegar, já no almoço, revela o que realmente foi fazer ali: pegar a parte dela da casa, que deve ser vendida o quanto antes. Se no começo o filme se apresenta como uma comédia, à medida que o clima vai esquentando – e há brigas e acertos de contas para lá de exagerados – a narrativa vai se desenhando como um drama.

Cédric Kahn afirma que Feliz aniversário tem um quê de autobiográfico. “Nunca pensei em atuar em um filme que escrevi e dirigi (este é seu décimo longa-metragem). Mas quando entendi que é um filme pessoal, que fala da minha família, assumi o risco e fiz um dos papéis como uma experiência.” É tudo verdade? “Sim e não. O fantástico da ficção é que você pode falar algo que é falso com um fundo de verdade e vice-versa. Me inspirei na minha família para criar os personagens. Mas quando meus parentes viram o filme, eles sentiram que não era com eles”.



As gravações ocorreram num casarão no interior da França que também acaba se tornando uma espécie de personagem. As filmagens, seguindo a ordem do roteiro, foram feitas durante seis semanas. Dirigindo pela primeira vez Catherine Deneuve, Cédric Kahn admite que ficou temeroso em um momento inicial. “Achei que seria complicado, pois ela filmou com grandes cineastas. Para um diretor, é um pouco intimidador. Mas ela é de uma inteligência tal que sabe diminuir a pressão. Como fazíamos uma família, as relações (no set) também precisavam ser simples”.

VIÉS FEMININO 

As mulheres – a mãe, a filha, a neta, a namorada do filho – é que têm a personalidade forte e conduzem a narrativa. “Até então, os homens é que tinham o papel mais importante em meus filmes. Mas na minha família, as mulheres é que são assim, poderosas, um tanto cômicas quanto dramáticas”, ele comenta. Para o diretor, família é “um lugar” onde os problemas são varridos para baixo do tapete. E quando aparecem, vêm no grau máximo.

A música tem destaque no drama. Executada durante três vezes durante o filme, a canção L'amour, l'amour, l'amour, clássico francês de Marcel Mouloudji, acaba sendo a tradução daquela fatídica reunião familiar: “Amar é uma primavera assustadora/Uma luz suave e, muitas vezes, uma ruína”.