Uma notícia boa e outra ruim. Assim o cinema brasileiro recebeu as pré-indicações ao Oscar 2020, anunciadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, na última segunda-feira (16). Democracia em vertigem, da mineira Petra Costa, ficou entre os 15 semifinalistas da categoria dedicada aos documentários em longas-metragem. Mas A vida invisível, de Karim Aïnouz, não conseguiu um lugar entre os 10 selecionados para a disputa de Melhor Filme Internacional. Desde 1999 o Brasil não emplaca um candidato na competição.
Produzido por Rodrigo Teixeira, que tem bom trânsito em Hollywood e assina coproduções como Ad astra, o longa de Aïnouz venceu a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, que costuma ser um manancial de filmes para a categoria dedicada às produções estrangeiras no Oscar. A temática feminista elevou a expectativa do produtor por uma indicação. “O trabalho é bem feito e temos uma chance boa. Os norte-americanos com quem conversei entenderam a importância disso no país e vão fazer de tudo para que o filme chegue lá”, disse o produtor ao Estado de Minas, em setembro. Não foi o suficiente.
Quem confirmou o favoritismo foi o sul-coreano Parasita, de Bong Joon-ho, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Com uma reflexão sobre as relações de classe temperada com doses de cinema de gênero que incluem comédia, drama e terror, o filme também foi indicado ao Globo de Ouro e é apontado como possível indicado também nas categorias principais do Oscar – a exemplo do que ocorreu com Roma, de Alfonso Cuarón, neste ano.
A lista prévia também confirmou a presença dos muito falados candidatos da Espanha (Dor e glória, drama quase biográfico de Pedro Almodóvar, estrelado por Antonio Banderas), da França (Os miseráveis, de Ladj Ly), do Senegal (Atlantique, da diretora Mati Diop) e da Rússia (Uma mulher alta, de Kantemir Balagov, de apenas 28 anos). Todos esses filmes receberam prêmios no Festival de Cannes.
As surpresas da pré-seleção ficaram com os outros cinco selecionados, que configuram uma forte presença dos países do Leste Europeu e a total ausência dos sulamericanos.
Honeyland, da Macedônia do Norte, conta a história de Hatidze, a última caçadora de abelhas da Europa, e ganhou três prêmios em Sundance. A Hungria compareceu com Aqueles que ficaram; a República Tcheca, com Pássaro pintado, e a Polônia, com Corpus Christi. Esses três últimos países já venceram o Oscar da categoria ao menos uma vez e possuem cada um ao menos o dobro de indicações que o cinema brasileiro, que tem apenas quatro (considerando os anos em que a República Tcheca era parte da Tchecoslováquia). A Estônia completa a lista com Tõde ja õigus. O país nórdico foi indicado apenas uma vez, em 2015, com Mandariinid, que foi superado pelo polonês Ida.
DOCUMENTÁRIOS
Pelo menos entre os documentários o bom momento do cinema brasileiro foi traduzido em indicação. Embora Democracia em vertigem tenha sido recebido com entusiasmo pela crítica internacional – foi apontado em uma lista do jornal The New York Times como um dos melhores filmes de 2019 –, a batalha nessa categoria é acirrada.Defensora (EUA) conta a história de Lea Tsemel, advogada que defende a causa palestina nas cortes israelenses há quase 50 anos.
Privacidade hackeada, também norte-americano, fala do escândalo de vazamento de dados pessoais do Facebook–Cambridge Analytica, enquanto Indústria americana aborda a instalação de uma fábrica chinesa em Ohio e os impactos disso na sociedade local. O filme, exibido pela Netflix, é produzido pela Higher Ground Productions, que pertence a Barack e Michelle Obama. Outro norte-americano presente é Virando a mesa do poder, focado em três mulheres envolvidas com as campanhas nas eleições do congresso norte-americano no passado.
Além da política, os documentários concorrentes trazem também histórias inspiradoras, caso de Midnight family, premiado em pelo menos oito festivais internacionais. Filmado no México pelo norte-americano Luke Lorentzen, o longa acompanha uma família que atende emergências voluntariamente com uma ambulância própria. Outro exemplo é The biggest little farm, de John Chester, sobre um casal que se muda da cidade para cuidar de uma fazenda ao lado de Los Angeles, com o objetivo de viver de modo mais harmônico com a natureza.
Ainda constam na lista For sama, produção britânica que retrata a história da cineasta síria Waad al-Kateab, que filmou sua vida familiar na cidade de Aleppo, durante a guerra civil no país, período em que deu à luz uma filha; além de Honeyland, o mesmo pré-selecionado na categoria de Melhor Filme Internacional.
Há ainda filmes sobre dramas reais ou a respeito da beleza natural do planeta. The cave (Síria, Dinamarca, Alemanha, EUA, Qatar) acompanha a médica Amani Ballor em um hospital improvisado em uma caverna, apelidado The Cave, durante a guerra na Síria. Apollo 11, de Todd Douglas Miller, faz um resgate histórico da missão da Nasa que levou o homem à Lua pela primeira vez na história, em 1969, e venceu cinco prêmios apenas no Critics' Choice Documentary Awards.
Aquarella, do russo Victor Kossakovsky, explora as possibilidades estéticas da água na Terra. Fecham a lista The Apollo, sobre o teatro nova-yorquino Apollo Theater, palco do início das carreiras de Aretha Franklin, Jimi Hendrix, Diana Ross, The Jackson 5 e Billie Holiday; Maiden (Reino Unido), que conta a história da marinheira Tracy Edwards, comandante da primeira tripulação internacional exclusivamente feminina na Whitbread Round the World Race, e o chinês One child nation, sobre as consequências da política do filho único no gigante asiático.
Além de Melhor Filme Internacional e Melhor Documentárioem Longa-metragem, a Academia também anunciou pré-indicados nas categorias Melhor Cabelo e Maquiagem, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Canção Original, Melhor Documentário em Curta-metragem, Melhor Animação em Curta-metragem e Melhores Efeitos Visuais.
Alguns dos filmes em “língua estrangeira” apareceram. O espanhol Dor e glória também está em Melhor Trilha Sonora, enquanto o Coreano Parasita figura entre os pré-selecionados de Melhor Música Original, com A glass of soju.
As shortlists, como são originalmente chamadas, já incluem alguns títulos de peso do cinema hollywoodiano, apontados há meses como favoritos no Oscar 2020. É o caso de Coringa, pré-indicado em Trilha Sonora e Cabelo e Maquiagem. O épico de guerra 1917, de Sam Mendes, que estreará em janeiro, apareceu em três listas prévias: Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora e Efeitos Visuais. Essas três categorias ainda contemplaram outros sucessos de crítica e bilheteria, como Era uma vez em Hollywood, Vingadores: Ultimato, O rei Leão e a superprodução da Netflix O irlandês, que aparece em Efeitos Visuais. A lista final dos indicados será divulgada no dia 17 de janeiro, com cinco finalistas por categoria. A entrega das estatuetas está marcada para 9 de fevereiro, em Los Angeles. (*Colaborou Frederico Gandra)
Onde assistir
Parte dos filmes presentes na lista de pré-indicados está em cartaz no cinema.
Outros são exibidos no catálogo da Netflix ou da Amazon. Saiba onde vê-los
>> Uma mulher alta - Em cartaz no Cine Belas Artes
>> Parasita - em cartaz no Cine Belas Artes
>> A vida invisível - Em cartaz nos cinemas de BH
>> Democracia em vertigem - Netflix
>> Atlantique - Netflix
>> Indústria americana - Netflix
>> O irlandês - Netflix
>> One child nation - Amazon Prime Video