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Estado de Minas

As séries de TV que marcaram 2019: realidade renovou a ficção

Seriados saltaram em 2019 para o topo da lista de produtos mais vistos pelos brasileiros. Produções baseadas em casos reais se destacaram


postado em 30/12/2019 08:00 / atualizado em 30/12/2019 08:29

A premiada Chernobyl, da HBO, é apontada como uma das principais séries de TV em 2019(foto: HBO/Divulgação)
A premiada Chernobyl, da HBO, é apontada como uma das principais séries de TV em 2019 (foto: HBO/Divulgação)

Desde a chegada dos serviços on-demand, discute-se o modo de consumo da televisão. Para o espectador, a principal mudança é que, agora, há mais opções, seja em catálogo, seja na forma como decide usufruir do conteúdo. Principalmente, no quesito das séries. Pesquisa do Kantar Ibope Media mostrou o aumento nos minutos dedicados às produções seriadas. Em 2010, as séries de TV correspondiam apenas a 2% do consumo do público. Nove anos depois, o número pulou para 51%.

Com o maior consumo do público e a maior concorrência no streaming em 2019, emissoras e plataformas precisam se diferenciar, entregando, cada vez mais, produtos de maior qualidade. Isso pôde ficar claro em 2019. O grande destaque do ano foram as ficções baseadas em fatos reais. Quatro delas chamaram bastante atenção, tanto do público quanto da crítica especializada, o que garantiu a indicação a vários prêmios.

O acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986, foi o fio condutor da minissérie da HBO Chernobyl, apontada por muitos como a produção do ano. A trama de Craig Mazin levou o principal prêmio do Emmy e deve brilhar em janeiro também no Globo de Ouro. O trunfo da narrativa foi resgatar uma história triste e trágica de forma honesta.

Olhos que condenam (Netflix) abordou injusta condenação de cinco adolescentes(foto: Atsushi Nishijima/Netflix)
Olhos que condenam (Netflix) abordou injusta condenação de cinco adolescentes (foto: Atsushi Nishijima/Netflix)
Também não faltou realismo a outras três minisséries que se inspiraram em acontecimentos do mundo real. De Ava DuVernay, Olhos que condenam, da Netflix, expôs a dura vida de cinco jovens que foram acusados injustamente de estupro no Central Park e só anos depois conseguiram a absolvição do caso. Outro sucesso entre as minisséries foi The act, do serviço de streaming Hulu. Com Patricia Arquette, a trama retratou a história de Gypsy Rose e Dee Dee Blanchard, que ganhou notoriedade em 2015, quando Dee Dee foi assassinada pela própria filha.

Indicado ao Globo de Ouro, outro sucesso foi Inacreditável, da Netflix, que se baseou nos relatos do livro Falsa acusação: Uma história verdadeira, sobre um estupro que foi tratado como uma denúncia falsa, apesar de fazer parte de mais um caso de um estuprador em série dos Estados Unidos. Impactante, a narrativa serviu como alerta em um ano de crescimento dos casos de violência contra a mulher.

Força feminina nas séries de TV

Por mais que o empoderamento feminino tenha sido a palavra de ordem do ano passado, 2019 colheu os frutos desse debate baseado na reafirmação da força feminina. E um dos nomes que mais representaram isso foi o da atriz Phoebe Waller-Bridge, coroada com três Emmys em 2019 (melhor atriz em série de comédia, melhor roteiro em série de comédia e melhor série de comédia).
 
A atriz Phoebe Waller-Bridge conquistou o público na comédia Fleabag (Amazon)(foto: Amazon Prime/Divulgação)
A atriz Phoebe Waller-Bridge conquistou o público na comédia Fleabag (Amazon) (foto: Amazon Prime/Divulgação)
Ela é criadora, roteirista e estrela da série Fleabag, que entrou no catálogo da Amazon Prime Vídeo. O humor diferenciado de Phoebe Waller-Bridge fez com que a artista dominasse o mundo da comédia em 2019. Na série, a atriz e dramaturga britânica mostrou uma personagem feminina de verdade, natural, com todos os anseios e defeitos. 
 
Naturalização também foi o jeito escolhido por Euphoria, da HBO, para contar a história de Rue (Zendaya), uma jovem com problemas psicológicos que perpassam pelo vício em drogas. Mesmo que a escolha pela narrativa tenha sido envolta de polêmica, a trama agradou ao público mais jovem, exatamente por tentar expor a realidade nua e crua da nova geração, abordando temas tabus.

O ano feminino ainda marcou o adeus de Veep, sátira política também da HBO protagonizada por Julia Louis-Dreyfus. A intérprete da vice-presidente Selina Meyer mostrou sua grandiosidade na história da TV e que as mulheres sabem, sim, fazer comédia. Na reta final, duas grandes estrelas televisivas, Jennifer Aniston e Reese Witherspoon, fizeram a diferença no drama The morning show, aposta certeira do Apple TV+, sobre os bastidores de um programa matutino exibido nos Estados Unidos.

Adaptações de HQs para o streaming

É natural que o mundo do audiovisual se inspire em produções literárias, tanto nas obras clássicas quanto em best-sellers e histórias em quadrinhos. Em 2019, não foi diferente. Porém, a maior parte das atrações conseguiu entregar boas adaptações, o que é sempre um desafio.

Um dos grandes hits do gênero foi The Boys, da Amazon Prime Vídeo. A série foi capaz de popularizar o serviço, principalmente em novos locais como o Brasil, onde a trama angariou fãs. A narrativa, que vem das HQs de Garth Ennis e Darick Robertson, brinca com a figura dos super-heróis, longe de serem “bonzinhos” aqui. Pelo contrário, Os Seven são caçados por um grupo de humanos que conhece bem a podridão daquele grupo.
 
Misturando adaptação e o mundo dos heróis, a Netflix apostou em The umbrella academy, inspirada na HQ de Gerard Way e do brasileiro Gabriel Bá, e se deu bem ao mostrar a trama de uma família disfuncional que reúne jovens com superpoderes em busca de salvar o mundo. Assim como a HBO com Watchmen, história que inclui o debate sobre o racismo dentro de um mundo onde policiais, humanos e heróis estão em confronto.

Dos livros, dois clássicos adaptados se destacaram. Na Amazon Prime Vídeo, a versão seriada de Good omens, de Neil Gaiman, com David Tennant e Michael Sheen sobre o apocalipse. A HBO chamou a atenção com a adaptação, agora para as telinhas, da saga de Philip Pulmann His dark materials, que acompanha a protagonista Lyra Belacqua (Dafne Keen), uma jovem encarregada de executar missão especial entre as fronteiras do mundo.

Surpresas no sistema on-demand

Algumas atrações conseguiram se destacar mesmo sem grande divulgação ou fortes expectativas do público. Esse foi o caso de duas séries da Netflix. Sex education e Boneca russa, que estrearam em janeiro e em fevereiro, respectivamente. A primeira é mais um exemplo de boa trama para o público jovem. Retratando o início da vida sexual, a série foi além de tabus ao mostrar a história de Otis (Asa Butterfield), adolescente virgem que entende tudo sobre sexo, graças à vivência ao lado da mãe, Jean (Gillian Anderson), terapeuta sexual extremamente liberal.

Conhecida por Orange is the new black, Natasha Lyonne teve a oportunidade de brilhar na dramédia Boneca russa. Apesar da premissa batida, a série conseguiu misturar drama e comédia na história de Nadia, uma mulher que vive repetidamente o dia de sua própria morte.
 
The morning show (Apple TV ) narra bastidores de programa matutino nos EUA(foto: Apple TV /Divulgação)
The morning show (Apple TV ) narra bastidores de programa matutino nos EUA (foto: Apple TV /Divulgação)
Agradando ao público que outrora se encantou com Black mirror e criou a máxima “isso é muito Black mirror” ao retratar um futuro distópico, mas bastante realista, a HBO ganhou fãs com Years and years, que acompanha a família Lyon (o clã ainda tem os cônjuges e filhos dos irmãos, outra irmã e uma matriarca, avó deles) por 15 anos, a contar de 2019. Porém, na realidade alternativa em que Donald Trump é reeleito, a chanceler Angela Merkel morre, o mundo tem inovações tecnológicas e confrontos entre países.

Séries brasileiras de destaque

Há algum tempo, o Brasil busca se firmar na produção seriada. E 2019 foi emblemático. A Netflix conseguiu, finalmente, fidelizar o público brasileiro com as séries nacionais. Tudo começou com Coisa mais linda, protagonizada por um grupo de mulheres, que, no fim dos anos 1950, quer encontrar o seu espaço no mundo machista. Depois, a plataforma chamou a atenção com Sintonia, de Kondzilla, que se passa na favela paulista e retrata a história de três amigos de infância, Doni (Jottapê), Rita (Bruna Mascarenhas) e Nando (Christian Malheiros). Além do drama Irmandade, que se passa na cadeia, e Ninguém tá olhando, comédia sobre anjos com Kéfera no elenco.

A HBO também agradou com a série nacional Pico da neblina, que retrata o universo de drogas e do tráfico sob um ponto de vista inovador. Na narrativa, o protagonista Bira (Luis Navarro) vive um dilema quando a maconha é legalizada no Brasil. Com uma construção bem-feita e um protagonista empático (créditos ao roteiro e ao trabalho de Luis Navarro), é possível entender os diferentes pontos de vista do personagem.
 
A Globo foi outra que se destacou no mundo das séries. Três delas conquistaram o público e foram bastante elogiadas. O drama médico Sob pressão, mais uma vez, agradou. O sucesso foi tão grande que a trama que encerraria a história terá uma sequência, com previsão de estreia depois de 2021. Seguindo os passos de Sob pressão, a emissora lançou Segunda chamada, história sobre a educação de adultos, outra atração que levantou discussões e teve atuações destacáveis. O ano ainda teve a força feminina mesclada à luta pela natureza na produção nacional Aruanas, que contou com um elenco de dar inveja: Leandra Leal, Camila Pitanga, Debora Falabella e Taís Araújo foram as protagonistas da atração.nistas.


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