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Estado de Minas CINEMA/ESTREIA

'Escândalo' mostra queda de aliado de Trump na Fox por assédio sexual

Com três indicações ao Oscar, filme é baseado em história real envolvendo chefão do canal conservador americano


16/01/2020 04:00 - atualizado 15/01/2020 18:42

Charlize Theron (Megyn Kelly), Nicole Kidman (Gretchen Carlson) e Margot Robbie (Kayla Pospisil) em cena do filme. Charlize e Margot foram indicadas ao Oscar por seus desempenhos como atriz e atriz coadjuvante
Charlize Theron (Megyn Kelly), Nicole Kidman (Gretchen Carlson) e Margot Robbie (Kayla Pospisil) em cena do filme. Charlize e Margot foram indicadas ao Oscar por seus desempenhos como atriz e atriz coadjuvante (foto: Paris Filmes/Divulgação)

No elevador da Fox News, as três loiras se entreolham. A mais velha é Gretchen Carlson (Nicole Kidman), que já teve dias melhores. Megyn Kelly (Charlize Theron) é a estrela da cobertura política do canal. Mais jovem do grupo, Kayla Pospisil (Margot Robbie), que as duas mulheres mal olham, está um tanto incomodada no meio delas. A chegada do elevador ao segundo andar da sede do canal definirá o destino desse trio. É ali que fica o todo-poderoso Roger Ailes (John Lithgow), o presidente do canal conservador que foi o maior aliado na eleição de Donald Trump.
 
Estamos no meio da narrativa de O escândalo, filme de Jay Roach que estreia nesta quinta-feira (16), no Brasil. Com três indicações ao Oscar – atriz para Charlize Theron, atriz coadjuvante para Margot Robbie e cabelo e maquiagem (Kazu Hiro, Anne Morgan, Vivian Baker) – o filme acompanha, com uma lente de aumento (e alguma dose de ficção), uma história que abalou a imprensa norte-americana em 2016.
 
Em 7 de julho daquele ano, Gretchen, ex-âncora da Fox News, processou Ailes por assédio sexual. Sua alegação era de que o ex-chefe a havia demitido depois de, anos antes, ela rechaçá-lo sucessivamente em seus avanços sexuais. Dezesseis dias mais tarde, Ailes teve que pedir demissão da rede de Rupert Murdoch.

Fosse Ailes apenas um executivo do alto escalão, o estrago não seria tão grande. Só que ele era uma das figuras mais proeminentes do conservadorismo americano contemporâneo. Foi consultor de mídia para os presidentes Richard Nixon, Ronald Reagan e George Bush, além de ter sido o homem por trás da ascensão de Trump. Sua trajetória – incluindo a derrocada – estão retratadas na minissérie The loudest voice (inédita no Brasil), que acabou de garantir a Russell Crowe um Globo de Ouro de melhor ator.
 
Já O escândalo se concentra nas denúncias que culminaram com a saída de Ailes da Fox News – ele morreu em maio de 2017, aos 77 anos. Tendo a personagem de Megyn Kelly como protagonista, o longa busca apresentar três pontos de vista sobre as (perigosas) ligações de trabalho entre o chefão e as jornalistas, cada uma delas vítima de Ailes.
 
Jay Roach (mais conhecido pela franquia Austin Powers) filmou O escândalo seguindo a escola de Adam McKay (A grande aposta e Vice) – um dos roteiristas é Charles Randolph, que teve a mesma função no filme de McKay sobre a crise financeira global de 2008. O escândalo traz montagem nervosa, ritmo frenético e situações sempre no limite. Há algumas quebras de quarta parede, narrações em off e muita ironia. Por vezes, ele mistura elementos documentais e nos pegamos sem saber se aquilo foi real ou não.
 
Das três personagens, Kayla Pospisil é a única ficcional – foi criada a partir de depoimentos de mulheres assediadas por Ailes. Figuras muito populares da imprensa americana, Gretchen Carlson e Megyn Kelly estão muito bem representadas na tela – a semelhança entre Nicole Kidman e Charlize Theron com as figuras reais é impressionante.
 
Mas é Charlize quem captura todos os olhares. A caminhada, a confiança, a frieza, a voz que nunca se eleva, tudo faz parte da armadura para personificar o estilo Fox News – vale dizer, Megyn Kelly demorou a resolver abrir o jogo com Ailes, chefe com quem mantinha boa relação. O filme é aberto com a narração da personagem, que leva o espectador a se familiarizar com o mundo daquela corporação de mídia: do porão, o “chão de fábrica” dos jornalistas, até os escritórios onde estão os executivos que Ailes comanda.
 
“As pessoas não param de assistir (televisão) quando há um conflito. Elas param quando não há um”, diz, a certo momento da trama, Ailes. Mal sabia ele que os conflitos de bastidores que o tiveram como vilão se tornariam um prato cheio para a indústria do audiovisual.


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