Jornal Estado de Minas

Dois papas revolucionam a Igreja Católica

O papa é pop, quarto álbum da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, foi lançado em 1990. Porém, seu título talvez faça mais sentido agora, 30 anos depois. Pelo menos no que diz respeito a produções de sucesso recente na TV e no cinema, ele nunca foi tão pop. Na segunda-feira, a HBO lançou nos Estados Unidos o primeiro episódio de The new pope (O novo papa), série criada e dirigida pelo cineasta italiano Paolo Sorrentino, diretor do premiado filme A grande beleza.




A trama é uma derivação de The young pope (O jovem papa), minissérie lançada em 2016 e exibida no Brasil pela Fox em 2017. O personagem de Jude Law – o galante e carismático Lenny Belardo, eleito o primeiro pontífice norte-americano, Pio XIII – está de volta na ficção ambientada em nossos tempos, centrada nos bastidores políticos do Vaticano e seus jogos de interesses.

Diferentemente do longa Dois papas (Netflix), dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, sucesso de público e crítica pela abordagem sensível e reflexiva sobre a religião, o poder e a Igreja Católica, a história criada por Sorrentino traz abordagem desse contexto marcada pelo sarcasmo e ironia. The young pope conquistou audiência com um pontífice dono de inusitada sensualidade. Na nova minissérie, com oito episódios, o caminho é semelhante – o primeiro vídeo de divulgação viralizou na internet por trazer Pio XIII saindo do mar de sunga branca.

Há outro nome de peso no elenco da nova série: John Malkovich. Ele interpreta João Paulo III (nascido John Brannox, aristocrata e ex-roqueiro punk inglês), que assume o papado depois de Pio XIII sofrer um ataque cardíaco, no final de The young pope, e entrar em coma por meses.



João Paulo III é o protagonista da nova história. Tem a missão de conduzir a Igreja Católica de forma mais moderada, diferentemente da arrebatadora e polêmica postura adotada por Pio XIII/Belardo, que conquistava multidões, mas apavorava os cardeais.

O personagem de Jude Law segue em coma, enquanto uma legião de seguidores clama por sua canonização. Ainda é um mistério a participação de Pio XIII na sequência da trama.

CAOS 

No episódio inicial de The new pope, o novo pontífice tenta contornar um cenário caótico. A primeira escolha para substituir Pio XIII foi um cardeal franciscano, Francisco II, interpretado por Marcello Romolo. Ele propõe uma verdadeira revolução na Igreja Católica, abrindo arquivos históricos confidenciais, doando vários bens aos pobres e abrigando refugiados no Vaticano. Tais aspectos evidenciam o viés crítico da série, que se estende para temas ainda mais polêmicos, como a sexualidade dos cardeais e o celibato.

Francisco II não dura muito tempo, por circunstâncias suspeitas. Dá lugar a Brannox, que terá de conciliar interesses radicalmente conflitantes para manter a ordem na Igreja Católica. Nesse jogo, o cardeal Angelo Voiello (Silvio Orlando) tem grande importância, como secretário de Estado do Vaticano.



Assim como The young pope, a nova produção traz cenas polêmicas no limiar entre sensualidade e erotismo envolvendo figuras da Igreja Católica. Numa delas, um grupo de jovens freiras dança em volta de um crucifixo fosforescente, como se estivessem na boate. Gravadas em um monastério desativado de Veneza, as cenas receberam críticas da comunidade cristã local.

De acordo com o jornal britânico The Telegraph, o padre Gianmatteo Caputo, oficialmente encarregado do patrimônio cultural veneziano, considerou a cena “ofensiva e sem qualquer contexto narrativo que a justifique”.

Com episódios de pouco menos de uma hora, a minissérie The new pope terá capítulos exibidos semanalmente nos EUA até fevereiro. Por enquanto, não há previsão de estreia da produção no Brasil.