E a chuva? Se vier mesmo, que venha. Em sua décima edição, montada em meio ao aguaceiro que caiu sobre Belo Horizonte ao longo desta semana, o Planeta Brasil não planejou mudar em nada o que havia definido. A despeito de boatos de cancelamento, a organização informou ontem que estão mantidas todas as atrações do evento nos horários previstos para este sábado (25), na Pampulha.
Para o público, os organizadores fazem apenas uma recomendação: levar capa de chuva (é proibido entrar com guarda-chuvas) e usar sapatos impermeáveis. No mais, é olhar para o céu e torcer para que a água dê uma trégua, já que serão 14 horas (das 12h deste sábado às 2h de domingo) de música.
Décima e maior edição do festival, o Planeta Brasil torna-se, a partir de hoje, o primeiro evento a ocupar toda a área do Mineirão – a Esplanada (com 80 mil metros quadrados), como vem ocorrendo nos anos anteriores, e o gramado (7 mil metros quadrados), a novidade deste ano, que vai receber o BH Dance Festival.
Bandas e atrações de maior peso se concentram nos palcos, enquanto DJs e projetos de música eletrônica ficarão na área do gramado. Também no evento será inaugurada a tirolesa do Mineirão, que vai percorrer um trajeto de 220 metros (a uma altura de 35 metros) do gramado. A partir deste sábado, ela ficará como atração fixa do estádio.
E a música? Caetano Veloso e Marcelo Falcão são algumas das grandes atrações nacionais desta edição. Mas é o crescimento do rap que se destaca na programação de 2020. Com o rapper-celebridade Tyga (é ex-de Kylie Jenner, do clã dos realities Kardashian) como um dos headliners, o festival celebra o hip-hop com várias atrações. Tem os pioneiros Racionais MCs; o rapper do momento, o mineiro Djonga, e seu apadrinhado, Sidoka; além de Baco Exu do Blues, visto hoje como um dos nomes mais inventivos do estilo.
KL Jay conta que o show dos Racionais será diferente do que o grupo fez em setembro, no KM de Vantagens Hall, para comemorar seus 30 anos de carreira. Mas terá a mesma banda. “O momento pede uma coisa nova, ainda mais porque não temos música nova por enquanto”, comenta o DJ, que continua abrindo o show e fazendo as passagens de uma música para outra. O Racionais lança em breve o DVD dos 30 anos, gravado no final de 2019, em São Paulo.
Sobre o destaque para o rap no festival, KL Jay vê os Racionais como uma inspiração para quem veio depois. “Acho que a gente tem que ser pé no chão. Não fomos apenas nós que plantamos, mas eles também. Esses nomes são jovens, mente aberta e estão sabendo lidar com a fama, a mídia e o dinheiro.” Para o veterano, o baiano Baco Exu é o destaque. “Ele é muito foda, inteligente, talentosíssimo, sofisticado. É um jovem ambicioso, que tem força.”
Baco Exu acha que sua música descaracteriza o gênero. “Sou Baco Exu do Blues. Faço música, e nem toda música minha é rap. Falo o que quero falar, a classificação (do gênero) fica para os outros”, comenta ele, que despontou em 2016 com a faixa Sulicídio, em que denunciava a concentração do rap em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em cinco anos, ele destaca, a situação melhorou. Mas pouco, na opinião de Baco Exu. “Houve uma descentralização, mas ainda acho que há resistência ao rap do Nordeste e do Norte. Há vários nomes em evidência, como o Don Erre, de Recife, que não ganham visibilidade”, diz ele, que subirá ao palco com uma banda de seis pessoas. “Hoje eu trampo mais fora do que dentro do palco. Não gosto muito de show, pois cansa o público. Procuro me preservar para fazer shows sempre espetaculares. Não aceito, por exemplo, fazer dois shows num dia.”
Se a seara do rap está bem representada, outro foco grande nas atrações do festival é a música pop suave, de jovens artistas, boa parte deles nascida na internet. Um mesmo palco vai receber Anavitória, Vitor Kley e Melim – que tem como frontliner o australiano Nick Murphy, mais conhecido pela alcunha de Chet Faker.
Outro adepto das canções, o cantor e compositor Jão abre o Palco Sul, que vai receber Djonga e Caetano. Ainda que esteja com novo show, Anti-herói, pretende fazer algo diferente, ainda mais porque vai levar para o palco a cantora Duda Beat. “É sempre surpreendente, mas hoje vejo além de uma galera mais nova, um público mais adulto, de 60 anos, que gosta de música sentimental. Acho que a internet democratizou bastante, levando todos os públicos a conhecer o meu trabalho”, diz Jão.
Ele é conhecido por suas canções tristes – Anti-herói nasceu de um relacionamento desfeito. “Não sou um cara triste, pra baixo. Só que a minha música reflete o momento que vivo. Acho mais fácil compor quando estou triste, pois o sentimentalismo me traz uma inspiração maior. Mas não é obrigação”, diz ele.
Em outra ponta estão também dois jovens artistas que ascenderam nos últimos cinco anos. Os irmãos Lugui e Pedrão formam o duo Cat Dealers, uma das principais atrações de música eletrônica do festival. Assumem que são claramente comerciais e sonham alto. “Nosso sonho nunca foi ser um artista brasileiro, pois nossas referências são internacionais. Estamos em mais uma etapa da carreira”, diz Pedrão.
O Cat Dealers é nome em ascensão não só no Brasil, como também no exterior. Os irmãos já se apresentaram várias vezes na Ásia. “No Brasil, o som tem que ser mais leve do que na China. Lá eles gostam de som pesado e os clubes chineses são os maiores e mais modernos do mundo. Só para você ter uma noção, lá são mais de 300 clubes, que são iguais aos nossos festivais. E tem festa de segunda a segunda”, diz.
Alguns dos lançamentos dos Cat Dealers que estarão no set do festival são um remix de Boa sorte, de Vanessa da Mata (que foi quem popularizou a dupla, com o remix de Ai ai ai), Dance now, em que eles usam o refrão de Gonna make you sweat (Everybody dance now), do C%2bC Music Factory.
Tributo a Brumadinho
Com sua realização coincidindo com o aniversário de um ano da tragédia de Brumadinho, que matou 270 pessoas, 11 delas ainda desaparecidas, o Planeta Brasil vai homenagear as vítimas. Às 12h28 deste sábado, mesmo horário em que a barragem B1 da mina do Córrego do Feijão se rompeu, uma sirene vai ecoar na cidade. Também nesse horário, um grupo de 50 pessoas que formam o Amigos de Brumadinho vai deixar o local num ônibus, em direção ao Mineirão.
Às 17h, horário em que o primeiro corpo foi encontrado um ano atrás, o festival vai parar em um minuto de silêncio. Trinta mil faixas com a frase #JamaisEsqueceremos, distribuídas para o público, serão empunhadas. Haverá homenagens nos palcos, que terão a presença de artistas e do grupo Amigos de Brumadinho. Os nomes das 270 vítimas serão exibidos nos telões.
Programação
Palco Norte
14h – Melim
15h50 – Anavitória e Vitor Kley
17h40 – Natiruts
19h40 – Nick Murphy (Chet Faker)
21h10 – Sticky Fingers
22h50 – Tyga
Palco Sul
14h40 – Jão e Duda Beat
16h20 – Djonga
18h – Caetano Veloso
19h20 – Baco Exu do Blues
20h50 – Marcelo Falcão
22h20 – Racionais MCs
Locals Only
13h – Lamparina e a Primavera e Júlio Secchin
14h30 – Daparte
15h40 – Majur
17h – Sidoka e Delatorvi
18h40 – Vitão e Giulia Be
20h15 – Kevin O Chris
21h30 – Black Alien
23h – Matuê
BH Dance Festival
14h – Firejack
15h – The Otherz
16h – Pontifexx
17h – RQNTZ
19h – Bruno Be
20h – Chemical Dogz
21h – Cat Dealers
22h – Nervo
23h – Don Diable
0h – Vintage Culture
BHDF Sound Stage
12h – Mob
13h – Almanaq
14h – Machine Drivers
15h – Maz
16h – RDT
17h – Lothief
18h – DJ Glen vs Bruno Furlan
19h – Illusionize
20h – Gabe
21h – Devochka
22h – Madrágora
23h – Vegas
PLANETA BRASIL
O festival será das 12h deste sábado (25) às 2h de domingo (25), no Mineirão, Avenida Antônio Abraão Caram, 1.001, Pampulha. Ingressos: Pista – R$ 150 (valor único para estudantes, idosos e doadores de 1kg de alimento). Ingressos para camarote e pista premium esgotados. Informações e vendas pelo site.
O festival será das 12h deste sábado (25) às 2h de domingo (25), no Mineirão, Avenida Antônio Abraão Caram, 1.001, Pampulha. Ingressos: Pista – R$ 150 (valor único para estudantes, idosos e doadores de 1kg de alimento). Ingressos para camarote e pista premium esgotados. Informações e vendas pelo site.