Jornal Estado de Minas

CINEMA

Tom Hanks vive apresentador de TV que muda vida de jornalista em longa


Tom Hanks e o apresentador de TV Fred Rogers (1928-2003) são duas das figuras mais carismáticas no imaginário popular norte-americano. Não por acaso, a soma dessas personalidades tão queridas – com Hanks no papel de Rogers – resultou em indicações nas principais premiações hollywoodianas para o longa Um lindo dia na vizinhança, de Marielle Heller, em cartaz em Belo Horizonte. Hanks foi indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor ator coadjuvante por sua interpretação do angelical astro do programa infantil Mister Rogers' neighborhood.



A trama é baseada em um episódio real no qual Rogers foi mais do que um simples entrevistado para um jornalista atravessando uma grave crise pessoal. Conhecido por um altruísmo “digno de um santo”, como chega a ser comparado por seu entrevistador, e grande sensibilidade para tratar de temas sociais e educacionais de forma lúdica na TV, Fred Rogers tem essas características notavelmente expostas na atuação de Tom Hanks. Apesar desse brilhantismo, o protagonista da história não é eles, mas sim o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys).

Experiente na profissão e premiado como repórter investigativo, Vogel recebe com relutância e insatisfação a missão de escrever um perfil do popular e caricato apresentador, como parte de uma série dedicada a “heróis nacionais”. A tarefa coincide com a ruína de sua vida familiar, depois de a relação ruim de longa data com o pai, interpretado por Chris Cooper, desmoronar de vez, numa briga que chega às vias de fato.


A partir do primeiro contato entre eles, Rogers trata o jornalista como um potencial amigo ou paciente terapêutico. Muitas das perguntas do entrevistador são devolvidas, em vez de respondidas, o que tira o intempestivo repórter do sério, mas também abre caminhos para novos entendimentos sobre seu momento de vida. A relação que deveria ser profissional vira um drama carregado de sentimentos, fazendo Vogel olhar de outra forma para a convivência com sua esposa, Andrea (Susan Kelechi Watson), e seu problemático pai.



EMOÇÃO

A sensível narrativa cinematográfica, com reviravoltas e diálogos emocionantes e alguns exageros cênicos, é baseada em um perfil real, publicado na revista Esquire, em 1998, pelo jornalista Tom Junod, que hoje tem 61 anos. Em artigo bem mais recente, de dezembro do ano passado, na revista literária norte-americana The Atlantic, Junod comentou sobre o filme, pontuando o que é real e o que não é no roteiro assinado por Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster.

“Há muito tempo, um homem de gentileza engenhosa e implacável viu algo em mim que eu mesmo não via. Ele confiava em mim quando eu pensava que não era digno de confiança e se interessava por mim para além do meu interesse inicial por ele. Ele foi a primeira pessoa sobre quem escrevi que se tornou meu amigo, e nossa amizade perdurou até a morte dele. Agora, foi feito um filme a partir da história que escrevi sobre ele, ou seja, ‘inspirada’ nela. Quer dizer, no filme meu nome é Lloyd Vogel, e eu troco socos com meu pai no casamento da minha irmã. Não briguei com meu pai no casamento da minha irmã. Minha irmã nem teve um casamento. No entanto, o filme chamado Um lindo dia na vizinhança culmina em todos os presentes que Fred Rogers deu a mim e a todos nós. Presentes que se encaixam na definição de graça, porque eu os sinto, pelo menos no meu caso, imerecidos”, escreveu Junod.

O longa também dedica tempo a alguns detalhes da carreira de Rogers e aos bastidores de seu programa. Em 2018, o apresentador já havia sido tema do documentário Won't you be my neighbor? (Você não vai ser meu vizinho?), de Morgan Neville. Assim como Greta Gerwig, de Adoráveis mulheres, e Kasi Lemmons, de Harriet, Marielle Heller, que já dirigira O diário de uma adolescente e Poderia me perdoar?, não foi indicada ao Oscar na categoria direção. A disputa ficou entre homens somente, motivando críticas à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Um lindo dia na vizinhança deu a Hanks sua sexta indicação ao Oscar. Até aqui, ele acumula duas vitórias, por Forrest Gump e Filadélfia. A cerimônia de entrega das estatuetas da edição 2020 do prêmio ocorre no próximo dia 9 de fevereiro.