Rio de Janeiro – A ideia inicial era uma cinebiografia de Milton Nascimento e de seus parceiros do Clube da Esquina – não que o projeto tenha sido descartado –, mas o que acabou se concretizando, pelo menos por enquanto, é a série documental sobre o movimento musical mineiro surgido nos anos 1970 que revolucionou a MPB. Com produção da Gullane e direção de Vitor Mafra, que assina o roteiro com Danilo Gullane e Marcelo Dantas, Milton e o Clube da Esquina estreia nesta sexta (31), no Canal Brasil. Bituca, Ronaldo Bastos e os irmãos Márcio e Lô Borges são protagonistas do programa, que tem Ney Matogrosso, Gal Costa, Seu Jorge, Samuel Rosa, Criolo, Maria Gadú e Iza como convidados especiais. Todos cantam e contam histórias.
A empreitada teve início em 2017, quando a produtora Gullane adquiriu os direitos do livro Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges. “A gente já comprou pensando num longa-metragem, mas a partir do momento em que começamos a conviver tão perto com o Milton, com o Marcinho e o Lô, veio o insight de mergulhar no universo deles, cantar aquelas músicas. Assim surgiu a ideia da série documental”, explica Fabiano Gullane, responsável pelo argumento.
Cada um dos seis episódios, de 30 minutos, tem as canções como eixo condutor – não só as do antológico álbum Clube da Esquina 1 (1972), como de antes e depois do disco. “O coração é o Clube 1, tanto que temos 10 faixas dele. Mas não deixamos de abordar outras músicas emblemáticas, como Canção do sal (1966), quando já se inicia a amizade do Milton com o Márcio (Borges), Travessia (1967), que projetou o Bituca para o mundo, e Maria, maria (1975)”, explica o diretor e roteirista Vitor Mafra, um dos fundadores da MTV.
De acordo com Fabiano Gullane, a partir das canções – três por programa –, os artistas vão revelando sua intimidade e os bastidores da criação delas. “Nesse documentário de seis partes, tivemos acesso a muitas informações que não estavam no livro. Algumas, já contadas de forma mais oficial, resgatamos de forma mais íntima. Este é o primeiro passo para um longo projeto em torno do Milton e do Clube da Esquina. Teremos também um longa ou uma série de ficção, que agora começam a se estruturar e formatar”, revela.
MONTANHAS
A série foi gravada durante oito dias no Sonastério, estúdio nas montanhas na região de Nova Lima. Com sua bela arquitetura e a natureza exuberante do local, ele acaba sendo um personagem. A banda montada exclusivamente para o projeto, comandada pelo produtor e diretor musical BiD, reproduziu não só a atmosfera, como os arranjos originais.“A gente montou uma banda com músicos renomados para tentar se aproximar ao máximo do som daquela época. A ideia era tentar fazer igual. Inclusive, trazendo toda aquela emoção do passado para dentro do estúdio agora em 2020, mas com respeito e carinho. Como disse o Seu Jorge em um dos episódios, participar do projeto é uma graduação para todos nós”, afirma BiD. A intenção é lançar um disco com as canções gravadas no seriado.
O compositor Márcio Borges diz que a aproximação com a origem do movimento é um dos destaques de Milton e o Clube da Esquina, destacando a importância da conexão entre os parceiros. “O enfoque da série foi o musical, até porque a música foi o grande diferencial da nossa vida. Através dela foram surgindo as nossas histórias, os nossos causos. O bacana é que o programa também enfatiza a nossa amizade, as composições como consequência desses laços. O seriado conseguiu levar tudo isso para a tela”, diz.
Lô Borges elogia a produção por captar o clima de fraternidade e musicalidade do Clube, comemorando a oportunidade de se reencontrar com os “irmãos de sangue e fé” em cenário tão especial. “O estúdio tem tudo a ver com Minas. Reviver a nossa história num lugar maravilhoso, numa região linda e fazendo o que a gente mais gosta – música – me comoveu demais. É um projeto espetacular”, comemorou.
FILHO COM GAL
Um dos episódios traz a história curiosa de que Milton quase teve um filho com Gal Costa. “Ai ai ai... A gente tinha combinado mesmo de ter um filho, mas não tivemos. E ela sempre reclama disso. Mas ela não pode reclamar...”, contou Bituca, arrancando risos de quem compareceu ao lançamento da série, na terça-feira (28), no Rio de Janeiro.Embora o filho com a cantora não tenha vingado – apenas as parcerias musicais –, ele ganhou um outro que a vida lhe deu, Augusto. Adotado por Milton, ele é empresário e diretor das turnês do pai. “Augusto chegou no momento em que eu achava que não ia mais cantar. Não por causa de doença, mas por coisas nas quais não acreditava mais. Ele está escrevendo todos os meus shows, não só os da turnê Semente da terra (2017/2018), como a do Clube da Esquina, que rodou o Brasil e nove países e agora culminou nessa série linda”, ressaltou Bituca.
Fabiano Gullane diz que Fernando Brant (1946-2015) fez falta ao projeto, mas revela que o compositor é homenageado em vários momentos. Um dos episódios é dedicado a ele. O programa mostra também encontros de Bituca com outras gerações da música brasileira. Iza interpreta Cravo e canela; Criolo e Maria Gadú cantam Morro Velho e Nada será como antes.
LEONE
O condutor das histórias é o ator carioca Gabriel Leone. Ele apresenta, media os bate-papos e até dá uma palinha em Um girassol da cor do seu cabelo, ao lado de Milton, no quarto episódio. Inicialmente, o apresentador da atração seria o ator Daniel de Oliveira. Envolvido com outros compromissos profissionais, o mineiro indicou o amigo.A história de Leone está ligada ao Clube e à música mineira. Seu próprio nome se deve à canção Gabriel, que Beto Guedes fez em homenagem ao filho, com letra de Ronaldo Bastos. “Desde que me entendo por gente, escuto e adoro MPB como um todo, mas a música mineira sempre teve um lugar especial. Eu confesso que foi fundamental ser ator para esconder o nervosismo durante as gravações da série (risos). Foi muita emoção. É, sem dúvida, um marco na minha vida. Uma alegria muito grande”, revela.
MILTON E O CLUBE DA ESQUINA
• Estreia nesta sexta (31), às 22h30
• Seis episódios, no ar às sextas-feiras
• Reprises sábado, às 13h; domingo, às 2h e às 9h; e segunda, à 0h15
* A repórter viajou a convite do Canal Brasil