Canto dos ossos, dirigido por Petrus de Bairros e Jorge Polo, levou o prêmio de melhor longa-metragem da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, encerrada na madrugada de domingo (2) na cidade histórica mineira.
“Esta premiação é importante pelo retorno do nosso esforço, da vontade e de nossa entrega ao longo da produção. Ao mesmo tempo, é o momento de a gente pensar em formas de sustentabilidade do cinema brasileiro”, defende o diretor Petrus de Bairros, que levou o Troféu Barroco para o Ceará. “O quão sustentável é premiar um filme, quantos percursos vão prosseguir a partir disso? Será que só o nosso, será que poderiam ser outros filmes?”, questiona.
O diretor cearense considera urgente discutir novas maneiras de festivais e instituições contribuírem para viabilizar produções como Canto dos ossos, “feitas sem apoio”. “É necessário pensar em como abarcar mais, estimular mais, procurar formas de potencializar pessoas que trabalham com o cinema”, afirma Petrus.
O mineiro Yamiyhex – As mulheres-espírito, dirigido por Sueli Maxakali e Isael Maxakali, levou o Prêmio Carlos Reichenbach. De acordo com os diretores, a premiação reflete a crescente presença de indígenas no audiovisual brasileiro.
A veterana atriz e diretora Helena Ignez entregou o prêmio batizado com seu nome, dedicado à participação feminina, à diretora de fotografia Lílis Soares, que participou de três filmes exibidos em Tiradentes: Ilhas de calor, Minha história é outra e Um dia com Jerusa.
“Festivais são importantes para dar visibilidade ao nosso trabalho. Como fotógrafa, adorei as imagens aqui do Cine Tenda, fiquei muito feliz com o cuidado com elas”, diz Lílis, observando que o prêmio foi “a cereja do bolo” de um trabalho árduo. “São as mulheres ocupando espaço no cinema. Mulheres negras, então, são muito poucas, nem há estimativa de quantas de nós exercem essa função.”
Abordando o racismo, o curta carioca Egum, de Yuri Costa, conquistou o prêmio da Mostra Foco. O diretor lembrou o “trabalho de muitas décadas” de pessoas convictas de que é possível fazer arte negra no Brasil. “Agradeço a todos os artistas negros que abriram esse caminho e também por nos dar a chance de abrir o caminho para todos que virão depois de nós. A nossa luta não acaba, é pra sempre”, afirmou. “Não podemos voltar atrás, pois somos 54% da população e lutamos para sermos vistos.”
O longa baiano Até o fim, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, e o curta potiguar A parteira, de Catarina Doolan, ganharam prêmios concedidos pelo júri popular. O universo LGBT foi contemplado em Perifericu, que levou o Prêmio Canal Brasil de Curtas. As diretoras Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira mostraram a vida de amigas que lutam para ter sua opção sexual respeitada no Capão Redondo, bairro da periferia paulistana.
Coordenadora da Mostra de Tiradentes, Raquel Hallak diz que a edição de 2020 buscou dar representatividade a vários segmentos da sociedade brasileira. “A Mostra nos convida a pensar como queremos imaginar um outro mundo, como poderemos desfrutar e construir novos rumos fazendo isso por meio das imagens, essa potência que o cinema tem como arte”, afirma Hallak.
VENCEDORES
MELHOR LONGA/JÚRI OFICIAL
Canto dos ossos (CE), de Jorge Polo e Petrus de Bairros
MELHOR LONGA/JÚRI POPULAR
Até o fim (BA), de Glenda Nicário e Ary Rosa
MELHOR LONGA/JÚRI JOVEM
Yamiyhex – As mulheres-espírito (MG), de Sueli Maxakali e Isael Maxakali
MELHOR CURTA/JÚRI OFICIAL
Egum (RJ), de Yuri Costa
MELHOR CURTA/JÚRI POPULAR
A parteira (RN), de Catarina Doolan
PRÊMIO CANAL BRASIL
Perifericu (SP), de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira
PRÊMIO HELENA IGNEZ
Lílis Soares, diretora de fotografia