Rafael Sanzio Radicchi
“Éramos quatro fodidos de Birmingham. Todos nos odiavam – imprensa, outras bandas – e nós simplesmente nos achávamos uma merda.” Quem diria que esse quarteto de fracassados formaria a banda precursora do heavy metal, cavando um lugar definitivo para si na história do rock'n'roll.
Anthony Frank Iommi, filho único de uma família de ascendentes italianos e brasileiros, ou simplesmente Tony Iommi; Terence Michael Joseph Butler, mais conhecido como Geezer Butler; William Thomas Ward, ou Bill Ward, e Ozzy Osbourne eram típicos garotos de Aston, subúrbio proletário de Birmingham, que buscavam ganhar a vida fazendo música.
Mas tudo conspirava contra. Tony, operário de uma fábrica, perdeu a ponta de dois dedos numa prensa de metal. Ozzy cometia pequenos furtos, tendo cumprido seis semanas de prisão em um desses delitos. Apesar de tudo (e de todos), o sonho virou realidade.
Nascidos no ano de 1948, foram se juntando aos poucos. Ozzy se uniu a Geezer na banda The Rare Breed, enquanto Tony era integrante de outro quarteto, o Mythology. Aos 18 anos, antes de uma turnê, perde a ponta de seus dedos do meio e anular da mão direita. A partir daí, para manter o objetivo de se tornar um músico, constrói capas improvisadas para os dedos mutilados e passa a usar cordas mais leves. O resultado sonoro desse improviso viria a ser uma das marcas registradas do Sabbath. A convite de Tony, Bill Ward ingressou no Mithology.
E o tempo fez com que os quatro se juntassem. As duas bandas se desfizeram. Tony e Bill precisavam de um baixista e um cantor. Ozzy e Geezer, que na época era guitarrista, precisavam de um baterista e um baixista. Para Geezer, isso significava largar a guitarra e ir para o baixo, ideia que o desagradava. Ainda assim, o novo grupo foi formado, incorporando outros dois integrantes – Jimmy Phillips, guitarrista, e Allan "Acker" Clarke, saxofonista.
The Polka Tulk Blues Band era o nome da nova banda, que saiu em turnê, contando com a aposta geral de que aquilo não iria durar. E com essa formação não durou muito mesmo. Depois que Tony perdeu a cabeça e se voltou contra o segundo guitarrista e o saxofonista, ambos deixaram a banda, que passou a se chamar The Earth Blues Band, em seguida reduzido para apenas Earth.
LIDERANÇA
Por muito pouco, Tony Iommi não se tranferiu para o Jethro Tull, depois que o Earth fez um show de abertura para eles. Na verdade, ele chegou a migrar para o Jethro Tull, mas conclui que não se sentiria à vontade ali e voltou para o Earth, assumindo uma espécie de liderança absoluta. A palavra de Tony era lei. A guinada musical da banda se deu com a primeira música original composta pelo grupo, Black Sabbath, cujo nome é referência ao filme homônimo estrelado por Boris Karloff – no Brasil, o longa de Mario Bava tem o nome de As três máscaras do terror.
A letra de Black Sabbath, uma das poucas que têm a assinatura de Ozzy, descreve uma experiência esotérica de Geezer e tinha a intenção de soar como um aviso contra o satanismo e a adoração do demônio, ironicamente, algo de que eles seriam acusados muitas vezes.
Em 1969, tendo Jim Simpson na função de empresário, a banda entra em estúdio para gravar (em 12 horas) o que seria seu primeiro disco, lançado pela Vertigo, uma subsidiária da Philips. O álbum saiu numa sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970, data que, mais tarde, alimentaria as acusações feitas a eles de serem adoradores do demônio. Rapidamente, o disco entrou nas paradas do Reino Unido, galgando posições até chegar ao oitavo lugar em poucas semanas. O resultado deve ser atribuído aos fãs, já que a crítica, sobretudo a londrina, naquele momento, chegou a ser hostil com o trabalho daqueles quatro cavaleiros do apocalipse e não anteviu sua importância futura como ponto de partida de uma vertente musical.
O Black Sabbath criou uma maneira própria de tocar, que influenciou toda a geração do rock pesado surgida depois, até mesmo as gerações nem tão cinquentenárias. Como já disse Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, “se a banda é do metal, ela veio do Sabbath”.
O fato é que o álbum lançado há 50 anos estava destinado a ser um dos mais influentes álbuns de rock de todos os tempos – não era só pesado, era algo novo, envelopado numa capa icônica. Em Black Sabbath – A biografia, o biógrafo Mick Wall se refere assim ao quarteto: "Eles eram o lixo e sabiam disso. Entulho humano saído das ruas cheias de crateras de bombas de um lugar esquecido na Grã-Bretanha do pós-guerra chamado Aston. Desajustados da região mineira que não conseguiam divisar nenhum futuro. Presos a um passado do qual não sabiam escapar. Eles eram o Black Sabbath. E não importa o que escrevam sobre eles um dia. Eles sempre terão sido a banda mais insultada do planeta”.