Em 9 de dezembro passado foi iniciada a pré-venda de Não se humilha, não, quarto volume da série de livros da escritora e blogueira juiz-forana Isabela Freitas, de 29 anos. Bastou que a autora postasse essa informação em suas redes sociais para que os fãs se alvoroçassem – em uma hora, foram vendidos mil livros. Poucos dias mais tarde, a cota de 10 mil exemplares foi atingida. E a venda antecipada foi encerrada.
“Foi um recorde de pré-venda da Amazon e da editora Intrínseca. A gente não imaginou que seria tudo isso. Eles me disseram numa reunião que iriam parar, porque não conseguiriam entregar um volume maior do que aquele. E, além disso, eu tinha que assinar (todos os 10 mil exemplares)”, ela conta.
Neste início de 2020, Isabela passou as madrugadas autografando os livros. Foram 20 dias indo dormir às sete da manhã para conseguir terminar o trabalho.
Não se humilha, não só chegou às livrarias no último dia 7. Isabela virá a Belo Horizonte para sessão de autógrafos do livro, em 7 de março, a partir das 16h, na Leitura do Pátio Savassi. Não vem sozinha.
O pai, dentista; e a mãe, professora de educação física; também desembarcam na cidade. São seus maiores fãs, vão a todos os eventos que podem, nem que para isso tenham que enfrentar horas de viagem de ônibus, segundo a filha conta.
Misto de ficção e autoajuda, os livros acompanham o alter ego da autora. Série iniciada em 2014 com Não se apega, não, teve continuidade com Não se iluda, não (2015) e Não se enrola, não (2016). Os três primeiros volumes venderam 1,5 milhão de exemplares. O primeiro livro ganhou adaptação televisiva, com episódios exibidos em 2015 na revista dominical Fantástico (Globo).
Isabela Freitas, a personagem, é uma mulher não muito diferente de sua autora. Estudou direito (a Isabela real abandonou o curso no oitavo período), vai a festas, curte os amigos e tem seus namoros.''Ser escritora é o sonho da minha vida, pois sou uma leitora voraz desde criança. Gosto de me definir como uma leitora que virou escritora, apesar de nunca ter feito curso (de escrita) nenhum''
Isabela Freitas, escritora
No novo livro, a autora criou um flashback, acompanhando um relacionamento abusivo que Isabela teve no passado com Gustavo. Um apaixonado em público, com postagens melosas nas redes sociais, Gustavo se revelou um parceiro abusivo. Ciumento em excesso, ele faz com que Isabela comece a se anular. É desta relação tóxica que o livro trata, misturando a narrativa ficcional com dicas de relacionamento.
Isabela não vê problema algum em ser enquadrada como autora de autoajuda. “Eu me assumo mesmo. Sempre fui de ajudar a galera, escutar histórias, dar conselhos. Escuto muitas histórias de superação (de leitoras). Tem menina que chega para mim nos autógrafos e fala que só sofria nos primeiros livros. Agora, no quarto, me conta que está com namorado e vai se casar. Já me emocionei muito com os casos”, conta.
Se como escritora ela completou seis anos de carreira, em 2020 alcança os 10 como blogueira. Foi em 2010 que ela criou um blog (ainda na ativa, mas sem atualizações recentes). A premissa era basicamente dar dicas de relacionamento para meninas como ela, por meio de textos curtos em torno do tema “Não se apega, não”. A inspiração veio de sua própria experiência, logo após o término de um namoro. No primeiro mês, o número de acessos, 100 mil, surpreendeu a autora.
A repercussão virtual fez com que a Intrínseca chegasse até ela. Um funcionário da editora, também jovem como Isabela, apresentou seu trabalho a um editor, que a procurou. “Ser escritora é o sonho da minha vida, pois sou uma leitora voraz desde criança. Gosto de me definir como uma leitora que virou escritora, apesar de nunca ter feito curso (de escrita) nenhum.”
A autora preferida de Isabela Freitas é Agatha Christie – “Não é o meu estilo, não me vejo escrevendo suspense, mas sou apaixonada por ela”. J.K. Rowling, com a saga Harry Potter, inspirou a mineira a criar sua própria série.
“Tanto que também vou escrever sete livros. Sete é meu número preferido, tenho até ele tatuado”, conta. Dos brasileiros, Isabela escolhe Paulo Coelho, que descobriu aos 10 anos, ao ler O alquimista.
Em relação a outras autoras best-sellers que escrevem para jovens, como Paula Pimenta e Thalita Rebouças, Isabela vê poucos pontos em comum. “É para um público mais jovem do que o meu. Gosto de ler os livros delas até hoje. São divertidos, leves, sou muito fã das duas.”
INTERNET
Mesmo que os livros sejam a base, é a internet o seu campo de ataque. Como toda blogueira que deu certo, Isabela alçou voo como influenciadora digital. Publica, ela mesma, todo o conteúdo em suas redes: Facebook (1,2 milhão de curtidas), Instagram (899 mil seguidores), YouTube (766 mil inscritos em seu canal, cujo vídeo campeão, com 2,2 milhões de visualizações, leva o título Some que ele corre atrás) e Twitter (388 mil seguidores).
“A internet é a melhor vitrine hoje em dia. A gente tem que se expor mesmo”, afirma. Pois bem, deixando de lado a Isabela personagem, a Isabela real tem uma vida bem atribulada. Deixou a Juiz de Fora natal aos 25 anos, quando se mudou para São Paulo, que é sua “cidade favorita”, conforme diz. Morou na Pauliceia por três anos. Nesse meio tempo, reencontrou-se com Lucas Assaf, um carioca de 25 anos. Os dois se conheceram em 2009 via Twitter.
“A gente conversava muito on-line, depois eu sumi no mundo e nunca mais nos falamos.” Em 2017, ela o reencontrou em um grupo de Facebook. Voltaram a conversar virtualmente, até que rolou o primeiro encontro – até então, nunca tinham se visto.
Isabela engravidou justamente na primeira noite. “Mas só descobri a gravidez quase três meses depois, e a gente continuou junto.” Quando nasceu o filho Pedro, hoje com 1 ano e cinco meses, o casal estava morando junto no Rio de Janeiro. “Foi uma tentativa, já que o Lucas é de lá. Mas não me apaixonei pelo Rio. Achei perigoso. E, logo depois do parto, comecei a ter uma crisezinha de pânico.”
Foi por causa da gravidez e do nascimento do bebê que Isabela levou tanto tempo para escrever Não se humilha, não. “Os fãs estavam furiosos comigo. Eu recebia muita mensagem cobrando. Mas sentia que tinha que dar um tempo, amadurecer, viver um pouco mesmo.” Para o livro, utilizou de sua própria experiência – a Isabela real já viveu um relacionamento abusivo, mas não como o da Isabela ficcional – e a de alguns amigos próximos. E muito vídeo na internet.''Os fãs estavam furiosos comigo (com a demora do novo livro). Eu recebia muita mensagem cobrando. Mas sentia que tinha que dar um tempo, amadurecer, viver um pouco mesmo''
Desde setembro, a família está vivendo em Juiz de Fora. Hoje, Isabela leva uma vida mais tranquila. Pedro, que já está no Instagram (sua conta, “A vida com Pedro”, tem 37 mil seguidores), fica com a mãe durante o dia. “Sou babona mesmo. Ele dorme de meia-noite ao meio-dia, então passamos o dia juntos.” Depois que o garoto vai para a cama é que ela vai para o computador – escreve três, quatro horas durante a madrugada. “Deixo lá, releio, apago, volto, é uma doideira.”
Atualmente, ela se dedica a seu primeiro romance, que vem escrevendo há alguns anos. “Não é autoajuda nem é sobre a Isabela”, diz. Espera que consiga lançá-lo até o fim deste ano. Já a série deverá ter nova sequência a partir de 2021. Sobre os três próximos volumes, Isabela tem algumas certezas. “Uma é a de que não vou misturar minha vida pessoal e levar a maternidade para o livro. A jornada da Isabela é de autoconhecimento.”
Na ficção, a personagem também já encontrou seu par e com ele vive altos e baixos nos livros. “Não vai ser fácil para o casal ficar junto, eles passarão (nos próximos volumes) por vários empecilhos.” A cara metade da personagem é Pedro, mesmo nome que ela deu ao filho.
Não se humilha, não
>> De Isabela Freitas
>> Intrínseca (320 págs.)
>> R$ 39,90 e R$ 19,90 (e-book)
>> No próximo dia 7 (sábado), a autora participa de tarde de autógrafos, a partir das 16h, na Leitura do Pátio Savassi, na Avenida do Contorno, 6.601, São Pedro.