É raro uma série de TV, mesmo as maiores e melhores da história, chegar à 10ª temporada ainda agradando aos fãs (fiéis e novatos), mas The walking dead, que voltou ao ar na Fox e no streaming no domingo passado (23), retomou a forma depois de anos e anos acidentados, com queda na audiência e repercussão crítica desfavorável.
A série parece agora, porém, novamente ter encontrado uma linha de ação interessante. A estreia desta semana configura a segunda parte da 10ª temporada, a última de Dana Gurira como a personagem Michonne, uma das favoritas dos fãs desde o terceiro ano da série. Outros personagens queridos do público se envolvem em novos desdobramentos que caminham para o fim da "era dos Sussurradores". A produtora e roteirista Angela Kang vai completar mais um ano seguido como responsável pela série.
No ano passado, a reportagem visitou o set de gravações de The walking dead na cidade de Senoia, região de Atlanta (Geórgia), nos Estados Unidos, e falou com atores e a showrunner da série. "Estamos emocionados que os fãs continuaram nos acompanhando durante todo esse tempo e seguimos no empenho de fazer coisas novas acontecerem e surpreender o público", disse Kang.
Animada com o fato de a série continuar crescendo (dois spin offs estão no ar na TV), ela diz que a série busca novos estilos de luta e novos problemas ambientais e econômicos para os personagens, que já há tanto tempo lutam para sobreviver num mundo tomado por zumbis.
CAMINHOS
As dificuldades de encontrar novos caminhos agora são reais", admite. "Mas, como sempre, temos novos escritores. Há continuamente um ciclo de novas ideias, testando os personagens em diferentes situações." Uma transformação marcante nas últimas temporadas é que os diversos "lados", contrariando uma formulação simples de bem contra o mal, são liderados por mulheres. Questionada se o fato estaria relacionado ao movimento #MeToo, Kang afirma que se trata mais de um desenvolvimento natural dos personagens ao longo da série.
"Acho que os quadrinhos de Robert Kirkman, o nosso material de partida, sempre estiveram à frente do seu tempo e foram muito diversos, desde o começo", afirmou Kang, citando que alguns dos personagens de minorias e mulheres sempre foram os preferidos dos fãs.Para ela, o fato de os Estados Unidos serem um país muito "internacional" apenas auxilia no processo de incluir pessoas diversas na equipe da série, o que enriquece a experiência de contar e compartilhar as histórias.
"Por muitos anos, houve problemas no fluxo de trabalho que impossibilitaram a ascensão de mulheres e pessoas não brancas aos escalões mais altos da indústria, mas já há alguns anos as pessoas estão trabalhando nessas questões para que mais gente como eu tenha a experiência suficiente para ocupar esses postos", disse. Na primeira cena da nova parte da temporada, Alpha se garante de que o grupo está preso na caverna e ordena aos seus lacaios que se certifiquem de que ninguém saia lá de dentro com vida. Agora, é só esperar mais um pouquinho para saber como eles vão sair de mais essa.
TRÊS PERGUNTAS PARA…
Norman Reedus,
ator (intérprete de Daryl)
Qual é a do Daryl nesta temporada?
É um ano muito complicado, porque são muitas linhas de histórias se cruzando, e as pessoas não confiam umas nas outras. O relacionamento entre ele e Carol é cheio de fricção, e ele limpa muitas das confusões que ela deixa pelo caminho. Há histórias se desenvolvendo com Lydia, Negan, Alpha e Beta (desde aquela vez que eu dei uma coça nele, risos). Então é meio que todo mundo dando facada nas costas dos outros.
Depois de 10 anos fazendo o personagem, ele ainda o surpreende de alguma forma?
O tempo todo. Se eu vivo o Daryl e os diretores e escritores me colocam em uma situação diferente, eu respondo de maneira diversa, tento encontrar novas soluções, de acordo com as circunstâncias. De modo geral, ele ainda é o mesmo cara. Mas as situações e as interações com as pessoas são muito diferentes agora.
E como foi que você evoluiu ao longo desta década?
Muito. Passei dos filmes indies para o estrelato real. Minha vida mudou drasticamente e foi estranho. Mas agora me acostumei melhor. Ainda vou à padaria e as pessoas me seguem, mas estou lidando melhor com isso. Mas uma coisa curiosa é que existem essas dezenas de pessoas que viveram personagens no passado e saíram da série e que viraram meus amigos. Eu me lembro muito do Jon Bernthal (que fez o personagem Shane nas primeiras temporadas), ligo para ele de vez em quando. Ontem, falei com o Andrew (Lincoln, que viveu Rick, protagonista da série por oito temporadas). Ele estava filmando na Austrália e me disse que tinha esquecido como atuar. Respondi: "Cara, você nunca soube atuar" (risos). (Agência Estado)