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VOLTA POR CIMA MAIS DO QUE OK

Lançado em novembro do ano passado, Tudo ok, sobre mulher refeita de uma desilusão amorosa, estourou no carnaval e se tornou a música-chiclete do verão, alçando de vez o brega-funk nascido no Recife ao cenário nacional


postado em 01/03/2020 04:00 / atualizado em 29/02/2020 22:33

O funkeiro fluminense Thiaguinho MT, a cantora sertaneja Milla e o DJ e produtor pernambucano Jonathan Santos, que assina JS O Mão De Ouro, formam o trio responsável pelo hit Tudo ok (foto: Felipe Max/ Divulgação)
O funkeiro fluminense Thiaguinho MT, a cantora sertaneja Milla e o DJ e produtor pernambucano Jonathan Santos, que assina JS O Mão De Ouro, formam o trio responsável pelo hit Tudo ok (foto: Felipe Max/ Divulgação)

“Cabelo ok, sobrancelha ok, maquiagem ok, a unha tá ok, brota no bailão pro desespero do seu ex.” Mesmo os ouvidos mais avessos à música pop provavelmente foram pegos por esses versos nos últimos dias. Se o verão de 2020 demorou a oferecer ao público seu grande hit, o carnaval coroou a música Tudo ok, parceria entre Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro, como a sucessora de Lepo lepo, Deu onda e outros sucessos instantâneos do passado.

Embora compartilhe o estilo de refrão pegajoso e a letra caricata, o “chiclete” da vez tem características próprias, que apontam tendências do mercado fonográfico e a potência do ritmo brega funk. Além da reverberação ostensiva nos últimos dias, o single apresenta números poderosos.

No Spotify, posicionou-se no primeiro lugar da parada Top 50 Brasil, que lista as músicas mais tocadas no país no momento e foi a música brasileira mais ouvida na plataforma durante os quatro dias de carnaval. Por lá, o total de execuções já passa dos 36 milhões. No YouTube, onde foi lançada, em 15 de novembro de 2019, com o videoclipe produzido pelo canal Kondzilla, as visualizações já bateram a marca dos 100 milhões.

A popularidade alcançada neste início de ano vai além da letra sobre alguém que caprichou no visual para ir a uma festa e esquecer de um relacionamento anterior. Natural de Araruama, no Rio de Janeiro, Thiaguinho MT, de 28 anos, é egresso daquela vertente do funk caracterizada pelos versos mais despudorados sobre sexo. Procurando um estilo menos ousado, ele declarou ter se inspirado nas redes sociais para criar a letra que mudou sua carreira de patamar, ao menos momentaneamente.

Pelo WhatsApp, uma amiga certa vez disse que estava “com o cabelo ok e com a unha ok”. No Twitter, o cantor viu um internauta falar sobre “brotar no bailão”. Achando graça nisso e em outras histórias populares nesses ambientes virtuais sobre pessoas que dão a volta por cima depois de um término de relacionamento, ele compôs a letra e levou ao “midas do brega funk”, como indica a alcunha de JS O Mão de Ouro.

FÓRMULA 

Natural de Recife, o DJ e produtor Jonathan Santos, de 23, faz jus ao nome artístico. Suas batidas e mixagens estão presentes também em Sentadão, de Filipe Original e Pedro Sampaio, e Surtada, com Dadá Boladão, Tati Zaqui e Oik, outras duas faixas entre as 10 mais ouvidas no Spotify no carnaval. Sua fórmula de sucesso é a melodia oriunda das periferias pernambucanas, que tem conquistado um público nacional, como provam os números das plataformas digitais.

Estudioso do assunto, o jornalista e pesquisador pernambucano GG Albuquerque, doutorando pela Universidade Federal de Pernambuco em estéticas e culturas da imagem e do som, e criador do site musical Volume Morto, entende que “essa atualização constante é inerente às músicas populares periféricas”, como o funk carioca e o brega recifense.

“Eles se renovam sempre em termos de linguagem e sonoridade. O consumo musical contemporâneo atravessa muito as fronteiras de gênero musical. Claro que eles ainda existem e são mediadores importantes, mas não são mais determinantes. Vemos o público ultrapassando fronteiras, assim como os artistas, que fazem essas misturas, como do funk com o sertanejo, tanto por questões comerciais quanto artísticas. Dito isso, o crescimento do brega funk tem muito a ver com essa dinâmica própria da música popular periférica”, argumenta Albuquerque, que lembra: “Ao contrário do que pensa o público menos familiarizado, o funk não é um gênero tão fechado, ele tem uma série de temáticas diferentes e micro gêneros”.

O especialista explica que, no fim dos anos 1990, em Recife, o funk tinha uma configuração parecida com aquela observada no Rio, “com os bailes de corredor, de briga”. Segundo ele, a cena se transformou justamente pelo aumento da afinidade com a música romântica popular ao longo da última década, mas sob outro viés de composição.

“No brega funk, em vez de sofrer, a pessoa vai se divertir e celebrar. Essa é a grande diferença. O brega funk coloca uma versão mais hedonista e dionisíaca do corpo e dos relacionamentos que o brega romântico não tinha”, observa. “Os MCs foram buscando um caminho mais viável, até financeiramente, e assim surgiu essa mistura”, diz GG Albuquerque, que recentemente participou como pesquisador, apresentador e roteirista do documentário em curta-metragem sobre essa história chamado O brega funk vai dominar o mundo, produzido pelo Spotify, dirigido por Felipe Larozza e disponível no YouTube.

EXPORTAÇÃO PARA SP 

Pelo menos o espectro nacional o ritmo alcançou. “O brega funk de Recife se tornou um movimento que influencia o mainstream do funk, localizado em São Paulo e no Rio de Janeiro”, afirma, lembrando de artistas como MC Loma & as Gêmeas da Lacração, que viralizaram na internet e assinaram com produtoras de São Paulo.

Há dois anos, a música Envolvimento, lançada pelo trio pernambucano, deixou Vai malandra, de Anitta, para trás e também figurou no topo da para Brasil Top 50.

Albuquerque destaca essa forte relação de mercado, lembrando que o pernambucano JS O Mão De Ouro é contratado pela gravadora e produtora paulista Los Pantchos, assim como Dany Bala, outro DJ e produtor de Recife, considerado um dos pioneiros no estilo. “Há uma importação da mão de obra pernambucana pelos estúdios de São Paulo e isso diversifica a sonoridade no âmago dessa produção do funk no Brasil”, analisa o pesquisador. Segundo ele, um dos resultados disso é uma música com um “sotaque mais nacional, apagando algumas especificidades regionais”, assim como em Tudo ok.

Nela, o intercâmbio do letrista e cantor fluminense com o DJ de Pernambuco ainda contou com a voz da cantora paulista Milla, que até no ano passado era Camila Braga, da extinta dupla sertaneja Camila & Haniel, responsável pelo sucesso de 2015 Gelo na balada. Esse tipo de parceria entre cantores e cantoras de diferentes estilos musicais ou integrantes e ex-integrantes de outras duplas tem sido comum nas listas de músicas mais ouvidas do momento, como Sentadão, do carioca Pedro Sampaio, com o recifense Filipe Original, que também conta com “a mão de ouro” de JS.

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.GG Albuquerque, jornalista pernambucano, doutorando em estéticas e culturas da imagem e do som



A LETRA QUE GRUDOU

Tudo ok
(Thiaguinho MT)

Esse é o arrocha-funk ha ha ha da ex que tu perdeu
É o Thiaguinho MT e a a Mila no controle, vai
É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha 'tá ok
Brota no bailão pro desespero do seu ex
Brota no bailão pro desespero do seu ex
É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
Cabelo ok, sobrancelha ok, maquiagem ok, a unha 'tá ok
Brota no bailão pro desespero do seu ex
Brota no bailão pro desespero do seu ex
(Brota-brota no bailão pro desespero do seu ex)
Brota-brota no bailão pro desespero do seu ex
Se ele te trombar, vai se arrepender
Uma bebê dessa, nunca mais ele vai ter
Uma-uma bebê dessa, nunca mais ele vai ter…



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