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Estado de Minas

Conheça os prédios mais belos de BH eleitos por arquitetos

Oito renomados profissionais escolheram construções da capital que se diferenciam por ser únicas em projetos arquitetônicos arrojados


02/03/2020 04:00 - atualizado 01/03/2020 23:31

Você é desses que sai pelas ruas olhando para o alto, para os lados, observando a cidade e suas construções? Saberia apontar o prédio mais bonito da capital mineira? Arquitetura é sinônimo de arte e ciência. Dois vencedores do Prêmio Pritzker, a maior honraria da área, a definem assim: “Arquitetura é invenção”, Oscar Niemeyer (1907–2012), ganhador em 1988; e “Arquitetura é uma maneira de ver, pensar e questionar nosso mundo e nosso lugar nele”, o norte-americano Thom Mayne (vencedor de 2005). As construções de Belo Horizonte se encaixam bem com os pensamentos desses dois criadores. De uma capital que começou planejada, ainda que tenha ignorado o traçado do antigo vilarejo na época, nos idos de 1897, como relevo, matas e rios, BH nasceu com a assinatura de visão de futuro.

Pouco se vê da arquitetura rural da época do Curral del-Rei, são raros os casarões que resistem. A influência da estética do neoclássico, assim como da arquitetura neogótica e o barroco estão por aí. Mas o projeto urbanístico do engenheiro Aarão Reis (1853-1936) foi inspirado em Paris e Washington, exemplos de modernidade e planejamento urbano. O tempo passou e os estilos se reinventaram até chegar ao conjunto inovador e moderno da Pampulha, na década de 1940, declarado como patrimônio mundial pela Unesco em 2016.

Com tanta mistura de escolas, do que foi preservado até as criações mais recentes para a história, Belo Horizonte é reconhecida pela beleza de suas construções de influência e estilo distintos.O EM convidou arquitetos renomados, influenciadores, professores e gestores para escolherem qual é a edificação mais bonita da capital mineira, que caminha para os 123 anos em dezembro, e já foi apontada pelo Population Crisis Commitee, da Organização das Nações Unidas (ONU), como a metrópole com melhor qualidade de vida na América Latina e a 45ª posição entre as 100 melhores cidades do mundo.

PLURALIDADE 

Ao definir as preferências, alguns especialistas fugiram do lugar-comum, ainda que seja quase impossível ignorar a beleza arrebatadora do conjunto arquitetônico da Pampulha e o traço vanguardista de Oscar Niemeyer. Ir contra, aos olhos de muitos, beira a insanidade, diante de projetos de um arquiteto reverenciado no mundo. Mas, sim, BH presenteia a população com edificações de outros autores de tamanha competência. E, claro, a pluralidade da obra de Niemeyer está espalhada pela capital, não só em torno da Lagoa da Pampulha, o que define a diversidade do que é belo aos olhos de quem vê. Veja a seguir os depoimentos à reportagem do EM e suas singularidades.

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Bruno Santa Cecília

arquiteto e urbanista, professor da Fumec e da UFMG e sócio do escritório Arquitetos Associados, que vai responder pela curadoria do Pavilhão do Brasil na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza 

Exuberância plástica singular

“Não tenho dúvidas: a construção mais bonita de Belo Horizonte é o Edifício Niemeyer (1954), na Praça da Liberdade. Com sua exuberância plástica singular, o Niemeyer se destaca na paisagem urbana a ponto de ser reconhecido como um dos cartões-postais da cidade. Convenhamos, um feito notável para um edifício residencial particular que tem como vizinhos nada menos do que as antigas sedes do governo do estado, hoje importantes centros culturais. O aspecto icônico do edifício decorre da associação entre o caráter insular do terreno, sem divisas ou construções vizinhas, e o desenho livre e contínuo do seu contorno, que desfaz totalmente a noção convencional de fachada. Suas curvas se materializam no belo desenho dos brise-soleils (do francês, quebra-sol) que, dispostos ao ritmo de três por pavimento, ocultam a presença das aberturas e a própria escala do edifício, reforçando sua monumentalidade. A genialidade de Oscar Niemeyer pode ser percebida na solução excepcional da planta, que concilia habilidosamente um desenho de formas livres com uma articulação simples e racional do espaço doméstico. Projetando sobre um terreno triangular de difícil resolução, Niemeyer se valeu da legislação da época – que permitia o avanço das construções sobre 1/3 do perímetro do lote – para ampliar a área dos pavimentos e gerar um desenho sinuoso que dissimula a geometria do próprio lote. Ao nível do chão, os avanços dos pavimentos resultam em áreas de sombra e abrigo para os pedestres, especialmente em dias de chuva – pequenas gentilezas cada vez mais raras nas construções urbanas. Além disso, a incomum ausência de cercas e muros divisórios dissolve os limites entre espaço publico e privado, apresentando o pilotis do Niemeyer como extensão natural da Praça da Liberdade. O Edifício Niemeyer é como toda boa arquitetura: melhora o lugar em que se insere. Realizando um sonho de infância, habitei-o por quase sete anos. Nesses 2.500 dias, nunca deixei de aprender e de me surpreender com a beleza dos seus espaços. Obrigado, Oscar!”

Leônidas Oliveira
 
arquiteto, historiador e diretor-executivo da Fundação Nacional de Artes (Funarte)

(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
O casarão e sua imponência

“A construção que muito me agrada e a credencio como a mais bonita é o Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), inaugurado em 1943, no Bairro Cidade Jardim, com seu conjunto arquitetônico que compreende o casarão secular, sede da antiga Fazenda do Leitão, construído em 1883. Hoje, o edifício-sede, inaugurado em dezembro de 1998, com projeto de Álvaro Mariano Teixeira Hardy, o Veveco, é tombado pelo Iphan. É um edifício que adapta de forma harmoniosa com o externo e seus jardins. É quase uma pincelada. A sala de exposição é belíssima, com três andares e 10 metros de altura. De todos os andares você pode ver a exposição de vários ângulos. No cômodo fechado, há 80 mil peças de um acervo valiosíssimo, guardadas e condicionadas de forma criteriosa. Existe um corpo com curva envidraçada que abraça os jardins. De todas as janelas é possível ver o casarão como a grande peça do acervo, em anexo, de uma beleza estética maravilhosa, com uma bonita escadaria. O casarão com sua imponência ainda tem forma funcional. Sem falar que a construção ocorreu graças aos Amigos do Museu, com recursos captados pela comunidade, e com a doação do projeto pelo Veveco. Enfim, uma construção coletiva. É um lugar agradável e generoso. Tem ainda a grande varanda, bem mineira. Preciso destacar a circulação livre, sem portas e barreiras. Acredito que é o maior espaço de exposição de vão livre de BH. O jardim é destaque à parte, tanto que foi feita uma curva para abraçar a imensa gameleira que lá está, mostrando cuidado com o entorno. A obra tem uma escala muito humana. É um presente lindo para a cidade, para todos.”  

Estela Netto, 
 
arquiteta, especialista em história da cultura e da arte e à frente do escritório homônimo

(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Modernismo divino

“Um dos meus edifícios preferidos de BH é a Igreja São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, de Niemeyer. Eu me lembro como se fosse hoje quando entrei pela primeira vez naquela pequena igreja modernista. Há 19 anos. A leveza das formas e a incrível performance que o concreto alcançou com sua esbeltez fizeram cenário para um momento tocante na minha vida. Entrei numa igreja à medida do homem em Minas Gerais. Nada de barroco, cheio de tensões e angústia. Ou neogótico e sua proporção assustadora. Entrei numa igreja do meu tamanho, que aproximou Deus de mim e me colocou no centro da experiência religiosa da relação com o divino. Agradeço ao modernismo e a Niemeyer por ter vivido isso por meio da arquitetura. No meu entendimento, a experiência que o usuário tem com o lugar deve ser uma das características que 

Gustavo Penna
 
arquiteto, fundador do escritório GPA&A, membro do Conselho Curador da Fundação Oscar Niemeyer e da Fundação Dom Cabral e sócio-fundador da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua Portuguesa (AEAULP)

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Prédio respira  e tem elegância

“Escolho o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), na Rua da Bahia (projeto de Humberto Serpa). É um prédio que respira, tem elegância e propôs uma solução arquitetônica que liberta a estrutura do edifício. Era e continua sendo de vanguarda. Destaco ainda a relação com a rua e a calçada. É uma construção que tem generosidade, por ser um prédio com solução arquitetônica e urbanística. É muito bonito.”

Flávio Carsalade

arquiteto, urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFMG

Inovação arquitetônica

“Escolho o Museu de Arte da Pampulha porque, em primeiro lugar, é uma inovação indubitável na arquitetura da época. Quando foi criado, não se fazia nada parecido. Tem proporções materiais e espaços de uma riqueza insuperável. E o reconhecimento da população mundial, como parte de um conjunto arquitetônico que é patrimônio da humanidade. Dos especialistas aos leigos, todos se extasiam com a beleza da construção. Recomendo entrar e fruir o espaço. Uma obra espetacular. Não há muito mais o que falar.”

Júnior Piacesi

arquiteto e urbanista, diretor da Piacesi Arquitetos Associados e especialista em inovação e tendências pelo Instituto Marangoni

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Leveza em escala gigante

“Minha escolha é o Colégio Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central, de 1954, obra de Oscar Niemeyer. Sou apaixonado, especificamente, por esta construção, que me marca muito, além da Casa do Baile, na Pampulha, e do Edifício JK, porque é uma construção dividida em quatro grandes blocos, posicionados em um grande quarteirão ajardinado. E o que me impressiona é a delicadeza tanto do caminhar quanto do olhar. Tenho de destacar ainda a leveza que a escala gigante conseguiu trazer. É impressionante o grande auditório, que parece uma gota voando. Uma 
pena que nem todo mundo em BH consegue ter acesso a tanta beleza.”

Leonardo Castriota
 
arquiteto e urbanista, professor da UFMG, presidente do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos/Brasil) e membro do Conselho Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Conselho Estadual do Patrimônio de Minas Gerais (Conep-MG)

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Obra arrojada

“É o Museu de Arte da Pampulha, porque tem resolução plástica impecável e respeita à perfeição os ideais dos modernistas da arquitetura. A ideia do promenade architecturale (conceito desenvolvido pelo arquiteto suíço-francês Le Corbusier nos anos 1930). É um edifício cuidado e pensado desde a implantação até os detalhes. Apresenta leveza, fluidez e flexibilidade. Tem verdade estrutural, ou seja, a estrutura corresponde à forma que se enxerga. Há o predomínio do vazado sobre o cheio. Tem massa, vidros e volumes soltos. Foi arrojado e chamou a atenção do mundo inteiro. Obra de um grande talento, Oscar Niemeyer. É o mais bonito de todos.”

Joel Campolina

arquiteto e urbanista, diretor e sócio-fundador da arqStudio.br Arquitetos

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Pioneira em sustentabilidade

“Primeiro, deixo claro que conceito de boniteza é muito subjetivo, e em arquitetura vai muito além de beleza material. Permita-me fugir de eventuais 'lugares-comuns'. Para mim, a edificação mais bela de BH é o Hospital da Rede Sarah, meio escondidinho na Avenida Amazonas, em frente ao Expominas. Uma das muitas obras do genial arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Explico: reúne uma beleza est(ética) única, instigante, pioneira em conceitos de sustentabilidade, sistema estrutural-construtivo criativo, em elementos pré-fabricados leves, etc.etc. Enfim, não existe nada igual em nosso mundo.”




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