Jornal Estado de Minas

Shows, espetáculos e festivais em BH e no Brasil têm cancelamentos em série

O impacto da pandemia de coronavírus na indústria do entretenimento começa por cancelamento em série da agenda cultural, um fenômeno observado em outros países e que já se torna realidade em Minas Gerais.





Programado para este sábado (14), o festival Cold Hot, que contaria com shows de Júlia Ribas, Aline Calixto e Dona Jandira, foi adiado, sem nova data. O Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta, que teria início na próxima quarta-feira (18), também foi adiado, sem nova previsão.

Essa seria a edição comemorativa dos 10 anos do evento. “Foi um turbilhão, mas, se a gente mantivesse o festival, ele seria muito esvaziado”, afirma o coordenador e idealizador, Eugênio Sávio. O festival costuma receber um público de oito mil pessoas. “A decisão foi puramente pela saúde das pessoas”, diz Sávio, que calcula um prejuízo de R$ 50 mil.

“O festival acontece na baixa estação, então o impacto que ele causa para a cidade é relevante. Tradicionalmente, Tiradentes fica vazia durante a quaresma, e o festival foi pensado 10 anos atrás justamente para ocupar esta lacuna.”





Prevista para o período de 30 de março a 29 de junho, no Cine Humberto Mauro, em BH (e em versões menores nas cidades de Montes Claros e Araçuaí), a Mostra de Cinema Curto Circuito também foi suspensa. Deve ser realizada entre agosto e outubro, com a mesma programação.

“Adiamos por precaução, pois a mostra tem um público de pessoas com idade avançada. E os convidados também têm faixa etária mais alta”, comenta Daniela Fernandes, idealizadora do evento. Nesta edição, a mostra vai apresentar filmes brasileiros dos anos 1980 sobre fé, magia e mistério. As duas primeiras sessões, O espelho da carne (1985) e Ele, o boto (1987),  contariam com a presença de seus respectivos diretores, Antônio Carlos da Fontoura e Walter Lima Júnior.

FILARMÔNICA 

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais manteve seu concerto previsto para este sábado (14), na Sala Minas Gerais, com ingressos esgotados. Mas a programação da semana que vem já está comprometida. A violoncelista israelense Danielle Akta, que se apresentaria com a orquestra na próxima quinta (19) e sexta (20), não virá ao Brasil.





Sem a solista, que executaria peças de Fauré e Saint-Saëns, o repertório foi modificado, com as oitavas sinfonias de Beethoven e Dvorák. O regente chinês Muhai Tang, programado para os dias 26 e 27 deste mês, tampouco virá ao país. Nas duas ocasiões, o programa previsto será mantido, sob a regência do maestro assistente, José Soares.

Realizado um domingo por mês, o programa Música na Capela, da Casa Fiat, teve sua edição deste domingo (22) cancelada. Também previsto para amanhã, no Teatro Francisco Nunes, o projeto Música de Domingo, com Daniel Haaksman, foi cancelado, porque o artista, residente na Alemanha, decidiu voltar para o país e cancelar sua agenda brasileira.
Fachada do Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, que limitou a venda de ingressos a 70% da capacidade das salas (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

No mercado de cinema a situação é incerta. Grandes lançamentos nacionais e internacionais tiveram suas estreias adiadas em razão da pandemia. Um lugar silencioso 2, de John Krasinski, teve sua estreia mundial, prevista para a próxima quinta (19), suspensa. Os longas nacionais A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais, ambos de Maurício Eça sobre o caso Suzane Richthofen, que seriam lançados em 2 de abril, foram adiados por tempo indeterminado. O mesmo se dá com a comédia No gogó do Paulinho, de Roberto Santucci, que não será mais lançada em 16 de abril. A animação Trolls 2, prevista para 9 de abril, também foi adiada. Outro blockbuster, Velozes e furiosos 9, que chegaria ao circuito em 20 de maio, foi adiado para abril de 2021.





Além de sofrer o impacto de ficar sem novos filmes para exibir, as salas de cinema estão diante do problema de terem se tornado um espaço não recomendável, já que locais fechados e aglomerações facilitam a propagação do vírus.

Como medida de prevenção, o Cine Belas Artes, em BH, restringiu a venda dos ingressos para 70% da capacidade em cada sessão. Na hora da compra, o público está sendo instruído a escolher lugares afastados das outras pessoas, prezando por deixar cadeiras vazias entre os ocupantes. De acordo com a direção do cinema, o número de pontos de distribuição de álcool em gel, para uso dos funcionários e do público, também foi ampliado.

Os complexos das cadeias Cineart, Cinemark, Cinépolis e demais redes ligadas à Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas  Operadoras de Multiplex (Abraplex) também estão tomando medidas para prevenir a disseminação do vírus e resguardar a saúde de seus frequentadores.





Um processo mais detalhado de higienização das salas entre as seções, intensificação dos pontos de distribuição de álcool em gel e treinamento sobre formas de higienização adequadas para os funcionários são algumas das medidas adotadas pelas redes exibidoras, segundo a assessoria da Abraplex.

LUVAS 

Os funcionários desses cinemas estão sendo instruídos a usar luvas descartáveis durante o trabalho e a ficar em casa caso apresentem algum sintoma de infecção.

Mesmo que os grandes teatros e espaços culturais da cidade, como Palácio das Artes, Sesc/Palladium, Sala Minas Gerais, Minas Tênis Clube e Cine Theatro Brasil Vallourec, tenham confirmado suas programações para este sábado e domingo, o clima é de incerteza. É recomendável que quem tem ingressos comprados confira se o espetáculo está mantido, antes de sair de casa.
Parte dos espetáculos agendados para a próxima semana já teve seu cancelamento anunciado. É o caso da sessão única da peça O ator e o lobo, com Pedro Paulo Rangel, que estava programada para o sábado (21). Por isso que eu canto, musical comemorativo do projeto social Árvore da Vida, com o Grupo Ponto de Partida, previsto para próxima quarta (18), no teatro do Minas Tênis Clube, foi adiado, ainda sem nova data de realização.





Os cancelamentos na capital mineira refletem o que já vem ocorrendo em todo o país. Programado para o final de março, o Festival de Teatro de Curitiba foi reagendado para setembro. A SP-Arte, prevista para 1º a 5 de abril no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, foi suspensa e não tem nova data até o momento.

O Festival Música em Trancoso, que seria realizado a partir deste sábado (14), foi cancelado. Até a conclusão desta edição, o anúncio oficial do adiamento do Lollapalooza Brasil (3 a 5 de abril, em São Paulo), não havia sido feito. Mas, como as edições argentina e chilena do festival, que ocorreriam neste mês, já foram suspensas (e os eventos têm os mesmos artistas internacionais), acredita-se que seja uma questão de dias para que o festival brasileiro anuncie sua suspensão. 

(Com a colaboração dos estagiários Fernanda Gomes e Frederico Gandra) 

Museus, restaurantes e festivais são afetados ao redor do mundo

Vestidos com roupa de proteção, empregados da Basílica de Santa Sofia, em Istambul, desinfetam o local (foto: YASIN AKGUL/AFP)
É o chamado efeito dominó. O que está ocorrendo agora no Brasil, com adiamentos e cancelamentos em massa da agenda cultural, já se viu em outros países. O Coachella, hoje o principal festival de música do mundo, promovido sempre em abril, em Índio, na Califórnia, foi transferido para outubro.





Realizado há 34 anos em Austin, Texas, o megafestival South by Southwest (SXSW), que teria começado ontem (13), foi cancelado pela primeira vez em sua história. A 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza, prevista para maio, foi adiada para agosto e teve seu tempo de duração reduzido. Ela ficará aberta durante somente três meses – de 29 de agosto a 29 de novembro –, e não seis, como ocorre geralmente.

Previsto para 12 a 23 de maio, o Festival de Cannes, o mais tradicional do mundo do cinema, mantém, até agora, seu período de realização, mas o MipTV 2020, festival de TV também realizado na cidade da Côte D'Azur, mudou de março para outubro sua realização. Ainda na França, o Museu do Louvre, o Palácio de Versalhes e a Torre Eiffel foram fechados à visitação.

A feira de arte contemporânea de Hong Kong, Art Basel Hong Kong, foi cancelada. A Art Basel é considerada o principal evento de arte contemporânea do mundo, sendo realizada anualmente em Basel (Suíça), Miami (EUA) e Hong Kong. Outro cancelamento foi o da Feira do Livro de Londres.





Para além dos eventos, monumentos e museus também vêm sofrendo perdas. Parte da rota de visitação da Grande Muralha da China, principal ponto turístico daquele país, foi fechada, bem como os túmulos da dinastia Ming, a floresta Yinshan Pagoda, o Museu do Palácio e o Estádio Nacional de Pequim.

Em Nova York, os 41 teatros da Broadway decidiram suspender suas atividades. Restaurantes e bares foram ordenados a funcionar com no máximo 50% da capacidade de público. A cidade de Berlim suspendeu praticamente toda a sua agenda cultural, incluindo as apresentações de sua orquestra filarmônica.

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