Guilherme Augusto
O avanço da pandemia do novo coronavírus fez com que a Rede Globo suspendesse por tempo indeterminado as gravações da novela das 21h, Amor de mãe. A trama de Manuela Dias, que vinha fazendo sucesso no horário nobre, teve seu último capítulo inédito exibido no sábado (21). A partir desta segunda-feira (23), o público acompanha uma versão compacta de Fina estampa, folhetim de Aguinaldo Silva exibido em 2011. A decisão é um reflexo do esforço da sociedade para se manter em distanciamento social, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Evitar o contato físico é fundamental na estratégia para conter a expansão do vírus. E não há novelas sem abraços, apertos de mãos, beijos, festas, cenas de briga, cenas de amor, cenas de carinho, tudo aquilo que reflete a vida real, mas que, hoje, não pode ser encenado em segurança. Interrompendo as gravações, protegemos nossos talentos e, ao mesmo tempo, a sociedade: evitando o contágio aqui, evitamos que ele se espalhe lá fora. O nosso primeiro compromisso é com a saúde de nossos colaboradores e do público”, anunciou em nota a emissora.
Para os fãs fiéis da busca de dona Lurdes (Regina Casé) pelo filho perdido Domênico (Chay Suede), a mudança repentina se justifica, mas também decepciona. “Há muito tempo não acompanhava com tanto afinco uma novela. Entendo a decisão de parar as gravações, ainda mais no momento que estamos vivendo, de completa incerteza, mas sentirei muita falta de acompanhar as histórias que essa novela conta”, lamenta a dona de casa Carmen Maria dos Santos, de 58 anos.
Para ela, a trama é uma das mais sofisticadas entre as que já foram transmitidas no horário nobre. “O maior diferencial dessa novela é mostrar a realidade do jeito que ela é. A história se passa no Rio de Janeiro, mas a gente não vê aqueles pontos turísticos famosos ou as praias. É um cenário diferente, que mostra a parte feia da cidade. Falando assim, até parece desagradável de ver, mas não é, porque a gente acaba se identificando, principalmente com os personagens”, comenta.
GRUPO DE DEBATE
Ingrid Fernandes faz coro ao elogiar o folhetim e revela que sua maior ansiedade é não saber quanto tempo durará a paralisação. “Como em todos os setores da nossa vida, a gente não sabe quando tudo irá voltar ao normal. Claro que existem previsões, mas acompanhar a novela todo dia é um hábito cultivado pelos brasileiros. Vamos sentir falta, é claro, ainda mais porque a história está cada vez mais complexa”, comenta a estudante, de 21 anos.
Ela integra um grupo no Facebook dedicado exclusivamente a discutir a novela. Com cerca de 520 mil membros, a página recebe, em média, 200 posts por dia que promovem discussões sobre Amor de mãe. A única norma é clara: “Proibido conteúdo que não seja sobre a novela”. “Por lá, a gente discute os acontecimentos da novela. Também é um canal muito usado para sabermos o que vai acontecer nos próximos capítulos, já que a Globo sempre divulga os resumos semanais.”
Um choque de realidade
O primeiro capítulo de Amor de mãe foi ao ar em 25 de novembro e registrou 35 pontos na audiência. A história gira em torno de três protagonistas, Lurdes (Regina Casé), Vitória (Taís Araújo) e Thelma (Adriana Esteves), mulheres de classes sociais diferentes que enfrentam uma série de dilemas relacionados ao papel da maternidade.
Lurdes, de longe a mais querida do público, é uma empregada doméstica nordestina que se muda para o Rio de Janeiro com os filhos Magno (Juliano Cazarré), Ryan (Thiago Martins), Érica (Nanda Costa) e Camila (Jéssica Ellen), em busca de Domênico (Chay Suede), vendido na infância pelo próprio pai, comprado e criado por Thelma, batizado como Danilo. Vitória, por sua vez, é uma advogada bem-sucedida que chega aos 45 anos sem filhos e, de repente, se vê mãe de Sandro (Humberto Carrão), Tiago (Pedro Guilherme Rodrigues) e da bebê Sofia.
Apesar de todo o melodrama típico dos folhetins globais, desde o início Amor de mãe surpreende por renovar a linguagem da novela, com planos de câmera que remetem ao cinema e a seriados de TV. Ainda que mais recentemente tenha ganhado um tom jocoso por conta das cenas de Regina Casé, a trama aborda uma série de questões dramáticas do cotidiano, como os problemas ambientais da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a luta de estudantes secundaristas e as delicadas questões que envolvem os egressos do sistema penitenciário.
Escrita por Manuela Dias e com direção-geral e artística de José Luiz Villamarim, Amor de mãe sai do ar em seu auge, no 102º capítulo, com Thelma, uma das protagonistas, se tornando a grande vilã da trama para esconder o segredo de que Danilo, na verdade, é Domênico, o filho perdido de Lurdes, sua melhor amiga. Uma segunda parte – ou a season finale, como são chamados os finais de temporada das séries – pode se tornar o grande trunfo da novela para segurar a audiência e se aproximar, ainda mais, de uma linguagem televisiva renovada.
MANIQUEÍSMO
Na contramão de Amor de mãe, Fina estampa é o tipo de novela que reitera uma série de vícios já superados pela dramaturgia da Globo. Um deles, por exemplo, é o maniqueísmo das personagens principais, Griselda (Lilia Cabral) e Tereza Cristina (Christiane Torloni).
A primeira delas representa a mãe batalhadora que enriquece após um golpe de sorte e muda completamente de vida. Já a segunda é uma vilã que se desdobra em artimanhas para atrapalhar a vida da mocinha. Apesar disso, a novela de Aguinaldo Silva, dirigida por Wolf Maya, pode ser o alívio cômico de que a programação da TV aberta precisa para superar as 11 horas ao vivo de telejornais prometidas.
enquanto isso ...
... Mais mudanças
Malhação: Toda forma de amar terá seu final antecipado para o mês de abril. Após o encerramento da atual temporada, entrará no ar um compacto de Malhação: Viva a diferença. A partir do dia 30 deste mês, com o fim de Éramos seis, será exibido um compacto de Novo mundo, preparando terreno para a inédita Nos tempos do imperador. Já na faixa das 19h, Salve-se quem puder ficará no ar até o dia 28, quando haverá uma pausa em sua exibição. Em 30 de março, estreará nesse horário a versão compacta de Totalmente demais.