(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Novo álbum dos Strokes traz rock maduro e estranho como os dias atuais

'The new abnormal', primeiro álbum de inéditas da banda em sete anos, está disponível nas plataformas digitais


postado em 14/04/2020 20:04 / atualizado em 15/04/2020 09:38

Os Strokes se apresentaram em comício do pré-candidato democrata Bernie Sanders, em New Hampshire, em fevereiro, e se recusaram a sair do palco quando o horário do show foi ultrapassado(foto: Joseph Prezioso/ AFP)
Os Strokes se apresentaram em comício do pré-candidato democrata Bernie Sanders, em New Hampshire, em fevereiro, e se recusaram a sair do palco quando o horário do show foi ultrapassado (foto: Joseph Prezioso/ AFP)
Ficar sete anos sem lançar disco e ainda assim manter-se relevante é um privilégio que poucas bandas têm. Em geral, isso só acontece com aquelas que alcançam uma aura mítica sob a qual seus trabalhos – também os ruins – estão protegidos.

Nesses casos, lançar um disco de inéditas pode ser um movimento arriscado, ainda que venha com algumas garantias. Ao mesmo tempo, não lançá-lo também traz riscos, uma vez que a banda não acabou. Volta e meia os integrantes se reúnem nos palcos mundo afora, e o público fica com aquela estranha sensação, indagando-se: "Tá, mas, e aí?"

Esse é o dilema que os norte-americanos do Strokes parecem ter enfrentado nos últimos anos, até decidirem entrar em estúdio e gravar The new abnormal (RCA Records), que chegou às plataformas digitais na última sexta-feira (10).

Afinal, sete anos de espera separam esse novo disco de Comedown machine (2013), intervalo também marcado pela produção paralela desenvolvida por Julian Casablancas, Albert Hammond Jr., Nick Valensi, Nikolai Fraiture e Fabrizio Moretti.

Quando surgiram, no início do segundo milênio, eles entraram em cena como uma alternativa ao rap-rock que dominava as estações de rádio. Com apenas um EP, o grupo foi tachado como a salvação do rock e os dois primeiros discos, Is this it (2001) e Room on fire (2003), marcaram uma geração de fãs e influenciaram bandas como Arctic Monkeys, The Kooks e The Cribs.

Quase duas décadas depois, os cinco são agora quarentões e transformaram a rebeldia adolescente de outrora em resistência para defender aquilo em que realmente acreditam. Em meio às prévias das eleições presidenciais nos Estados Unidos, o grupo fez uma apresentação em um evento do senador democrata Bernie Sanders.

Após o show ultrapassar o horário determinado para acabar, a polícia foi chamada e, em protesto, a banda incitou os mais de 7 mil presentes a subir ao palco, enquanto tocava New York City cops. No mínimo, simbólico.

The new abnormal, que em português pode ser traduzido como 'O novo anormal', emula, ao menos no título, um zeitgeist que paira sobre um país com eleições muito acirradas e polarizadas, algo que o brasileiro sabe reconhecer, vide as de 2018.

Ao mesmo tempo, estranhamente, dialoga com o atual estado de confinamento e de alerta a que o mundo inteiro está submetido em razão da pandemia do novo coronavírus. O mais curioso é que um disco não nasce de uma hora para outra e, há pelos menos um mês, as coisas podiam ser consideradas como normais.

SONORIDADE 

No conteúdo, o disco não é inteiramente uma surpresa. Os Strokes do passado estão ali, em melhor forma no que diz respeito à performance musical, e sem dúvida mais esclarecidos em relação à própria sonoridade, o que eles provavelmente devem ao produtor Rick Rubin. As canções, em sua maioria assinadas por Casablancas, como de praxe, desafiam os fãs a encarar uma bem-vinda sessão de autoanálise, cujo objetivo parece ter se perdido ao longo do processo.

Logo nos primeiros minutos de The adults are talking, faixa que abre o disco, fica claro que a banda não deixou a assinatura esquisitona de lado. Isso não significa, entretanto, que eles voltam a recorrer ao barulho para comprovar essa característica. Agora adultos, preferem criar camadas polidas de guitarras, o que está presente ao longo de todo o trabalho, até mesmo na melancólica Selfless, que vem na sequência e transita entre a psicodelia e o dream-pop.

Liberada poucos dias antes do lançamento do álbum, Brooklyn Bridge to chorus cria uma atmosfera indie-rock-dance adornada por guitarras e deve agradar aos fãs mais afeitos ao pop, que certamente vão cantarolar o cativante "on and on and on and on and on", cantado por Julian quase no final da música.

Bad decisions, outra que também foi single, bebe da melodia de Dancing with myself, de Billy Idol, para falar da relação que o grupo estabeleceu com o público e a cena musical na qual está inserido.

NORTE

 Na new wave funkeada Eternal summer os Strokes abordam um prazer interminável e acenam para os australianos do Tame Impala. Em At the door, a faixa seguinte, Rubin pesou a mão na produção e parece ter deixado o grupo um tanto descaracterizado.

O ótimo resultado é uma balada crescente com sons sintéticos apontando, enfim, para um possível norte no futuro dos Strokes, exercício interrompido pela nostálgica faixa seguinte, Why are sundays so depressing, cujas rimas são óbvias e a simplicidade das linhas de guitarra torna a audição arrastada.

Julian Casablancas explora positivamente a voz em Not the same anymore, faixa que disserta sobre o passado em uma abordagem pós-punk e abre os caminhos para Ode to The Mets, última do disco, escrita em homenagem a Nova York, cidade onde a banda nasceu, com versos estruturados sobre guitarras e sintetizadores sombrios, que ganham um instrumental robusto culminando em um final minimamente épico.

Em suma, o tom de despedida que encerra The new abnormal pode ser a grande chave para o que será o The Strokes do futuro. Impossível dizer se esse é o último disco da banda, mas podemos deduzir que ele coloca um ponto final na maneira como os cinco músicos trabalhavam: antes, com o peso de salvar o rock; e, agora, com a leveza de não abandoná-lo, algo que eles já tentaram deixar claro no estranho EP Future present past, de 2016.

Os brasileiros terão a oportunidade de vê-los mais uma vez ao vivo no Lollapalooza, originalmente marcado para o início de abril e adiado para os dias 4, 5 e 6 de dezembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Resta saber se essa nova abordagem funciona assim, tão bem, nos palcos.

The new abnormal
. The Strokes
. RCA Records
. Disponível nas plataformas digitais


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)