“Faz algum tempo que nós na aldeia krenak já estávamos de luto pelo nosso Rio Doce. Não imaginava que o mundo nos traria esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o Rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi: ‘A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a 100 quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida’. Então um deles me disse: ‘Mas isso é impossível, o mundo não pode parar.’ E o mundo parou.”
A reflexão é de Ailton Krenak, de 66 anos, autor de Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras) e um dos mais influentes defensores dos direitos indígenas. A passagem integra o texto O amanhã não está à venda, que aborda filosoficamente e sob a perspectiva da cosmologia krenak a pandemia do novo coronavírus enfrentada pela humanidade. O texto será lançado em e-book gratuito neste sábado (18), pela Companhia das Letras.
O pensamento do autor foi compilado a partir de três entrevistas recentes concedidas por Ailton Krenak. Uma delas, feita por Bertha Maakaroun, do Estado de Minas, foi publicada em 3 de abril de 2020, no caderno Pensar, sob o título “O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise”.
Também foram incluídas declarações de Ailton a O Globo (“Voltar ao normal seria como se converter ao negacionismo e aceitar que a Terra é plana”) e ao jornal português Expresso (“Não sou um pregador do apocalipse. Contra essa pandemia é preciso ter cuidado e depois coragem”).
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA
De Ailton Krenak
E-book gratuito
Disponível em www.companhiadasletras.com.br