Quem conhece a história de Ludmilla sabe que a artista, ainda criança, soltava a voz nas rodas de samba promovidas, em casa, pela família. Mais tarde, quando a música virou profissão, ela optou por se dedicar ao funk pop, mas sem deixar as raízes completamente de lado, já que o passatempo preferido continuou sendo ouvir e cantar um bom e velho pagode. Atentos a cada passo da cantora, os fãs não demoraram muito para perceber o talento da carioca e passaram a clamar por músicas do gênero.
Conforme prometido, agora ela estreia o EP de pagode Numanice, disponível nas plataformas digitais desde a primeira hora de sexta-feira (24), dia em que ela completou 25 anos. Com seis músicas – quatro inéditas autorais e duas regravações de composições alheias –, Ludmilla entra com naturalidade no estilo que teve grande importância em sua formação musical e pessoal, antes de fazer sucesso com hits como Hoje e a ambígua e polêmica Verdinha.
"As rodas de samba sempre foram uma tradição lá em casa, então eu cresci ouvindo grandes nomes, como Alcione, Leci Brandão, Jorge Aragão, Beth Carvalho (1946-2019), Arlindo Cruz e muitos outros", conta ela. "Por todos esses eu tenho carinho enorme e, também, muitas histórias para contar."
Antes de o funk dominar a cabeça dos jovens fluminenses, o pagode era o tipo de música favorito de muita gente no Brasil. De início, fizeram sucesso cantores mais identificados com o samba, que posteriormente abriram espaço para a geração de Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal, nos anos 1980. A partir da década de 1990, o pagode de grupos como Raça Negra acrescentou novos elementos ao gênero, que chegou ao século 21 numa embalagem pop que pasteuriza o conteúdo, assim como ocorre com outros estilos.
É dessa fonte que Ludmilla bebeu para criar as canções presentes em Numanice, tanto que entre os colaboradores do trabalho estão músicos que já trabalharam com Belo, Dilsinho, Mumuzinho, Thiaguinho, Ferrugem e o grupo Sorriso Maroto.
"Conheço eles não é de hoje e já tive a oportunidade de cantar, profissionalmente, com alguns. Quando comecei a trabalhar nesse projeto, pensei logo neles porque, além de colegas de profissão, também são amigos que frequentam a minha casa, conhecem a minha família. Então, a gente sempre esteve a um passo de colocar várias ideias em prática", diz.
VERDADE
Para ela, o que define um bom pagode é "muita emoção e muito romance". Como boa fã, Ludmilla acredita que as músicas do gênero transmitem "muita verdade". No seu caso, a realidade transmitida é relativa à calmaria, tanto que o nome do álbum deriva precisamente dessa ideia. "Numanice é uma brincadeira que junta a palavra 'numa', em português, e 'nice', em inglês, que significa 'bom'. Tudo isso resulta na expressão 'numa boa'", explica ela, se divertindo.
É com essa despretensão que Ludmilla encara a tarefa de estrear em novo estilo. Amor difícil, responsável por abrir os trabalhos, faz da sofrência a sua tônica ao apresentar uma história na qual o personagem cai na farra para tentar curar as ressacas afetivas, ainda que sempre acabe rendido ao complicado romance do título.
Em Não é por maldade – outra letra de sua autoria –, gravada em parceria com a cantora carioca Marvvila, o discurso empoderado impera, provando que não importa o estilo, Ludmilla está bastante esclarecida em relação à sua posição na sociedade.
A sofrência segue intacta em Te amar demais, regravação da canção lançada em 2018 pelo músico Sodré. Na nova versão, Rafael Castilhol, produtor do EP, tratou de incorporar elementos como as típicas percussões que um bom samba pede.
Na faixa seguinte, Cheiro bom do seu cabelo, Ludmilla se declara para a esposa, Brunna Gonçalves. As duas se casaram em dezembro do ano passado, quando a dançarina completou 28 anos. A festa surpresa, que era para ser de aniversário, se transformou em casório quando Lud pediu a mão da então namorada e, ali mesmo, armou a cerimônia matrimonial.
Faixa seguinte, a canção pop Um pôr do sol na praia, lançada em parceria com o cantor capixaba Silva em julho de 2019, também ganha nova abordagem no EP, cumprindo à risca o que manda a cartilha do samba. Por fim, a cantora carioca resume o espírito do álbum na faixa que encerra o trabalho, Tô de boa, outra composição de sua lavra. "Esquecer dos problemas e vir pagodear", canta ela.
QUARENTENA
Ainda que churrasco e cerveja gelada com a galera não sejam recomendados no período de quarentena, Numanice chega num bom momento, considerando que a carreira como pagodeira não é o carro-chefe de Ludmilla. O EP é certeiro ao não promover uma mistura entre samba e funk, se prendendo aos modos mais tradicionais do pagode, sem correr o risco de inovar. Trata-se de um trabalho feito por diversão, livre do peso de ter que ser levado a sério.
Cumprindo as recomendações de distanciamento social em casa, no Rio de Janeiro, Ludmilla está com a agenda de shows suspensa e deve promover uma roda de samba ao vivo, para os fãs, tão cedo a pandemia do novo coronavírus se torne um problema do passado. Até lá, ela promete que irá manter o contato com os fãs e realizar lives para divulgar o EP.
"Não vejo a hora de a vida voltar ao normal, mas, infelizmente, é necessário todo esse isolamento, pelo menos por enquanto", lamenta. "Tenho aproveitado o tempo livre para estudar inglês, produção musical, ler, assistir a séries e ficar mais ao lado da minha família", conta ela, que normalmente precisa estar fora de casa para cumprir uma agenda de shows cheia.
NUMANICE
Ludmilla
Warner Music Brasil
Disponível nas plataformas digitais