Como personagem histórica, Catarina II da Rússia, mais conhecida como Catarina, a Grande (1729-1796), se presta bastante para discutir a condição da mulher. Foi durante seu reinado como imperatriz (a partir de 1762) que a Rússia se modernizou e se tornou uma potência europeia. Nascida Sofia Frederica Augusta em uma família nobre, mas sem recursos, da Pomerânia (atual Norte da Polônia), Catarina era próxima dos iluministas Voltaire e Diderot. Estimulou a ciência e as artes, separou o Estado da Igreja, colecionou amantes.
Na teledramaturgia recente, a personagem foi vista em diferentes produções. Houve duas versões russas (uma de 2015, disponível no Globosat Play, e outra produzida entre 2014 e 2019), além da superprodução capitaneada por Hellen Mirren que a HBO exibiu no Brasil em 2019. Essa última apresentou a monarca já madura, o oposto de The great, que estreia na quinta-feira (18), na Starzplay. Com 10 episódios, a série acompanha os anos iniciais de Catarina.
Esqueça a fidelidade histórica. Logo na abertura, The great traz os dizeres “ocasionalmente uma história verdadeira”. É uma comédia dramática criada por Tony McNamara, o roteirista de A favorita (2018), filme que também subverteu uma personagem histórica (no caso, a britânica Anne, que reinou no início no século 18).
The great tem humor farsesco e bons momentos do casal central, vivido por Elle Fanning (aqui, a irmã mais nova de Dakota Fanning faz sua primeira cena de nudez) e Nicholas Hoult (para quem não ligou o nome à pessoa, ele era o menino que se tornou o melhor amigo de Hugh Grant em Um grande garoto, em 2002).
Catarina alcançou o poder após um golpe de Estado contra o próprio marido, Pedro III, que morreu em circunstâncias nunca esclarecidas dias depois de perder o trono (muitos acreditam em assassinato). Pois já em seu primeiro episódio, The great prepara o espectador para o que está por vir.
A personagem era não mais do que uma adolescente quando chegou a São Petersburgo para se casar com Pedro. A Catarina de Elle Fanning é uma jovem de inocência quase irritante, que escreve num papel sua missão na Rússia. Ter um casamento perfeito, amar o marido (e fazer com que ele a ame) são os principais objetivos dela no começo da narrativa.
Jovem que sonha com a noite de núpcias, ela cai do cavalo já em seus primeiros minutos na corte russa. Descobre que o marido é deveras obtuso, bruto e infantil. Pior: vê que as mulheres não têm direitos, nem mesmo o de ler. E todas vivem na corte sem nada questionar, em um mundo de banalidades que não tem nada a ver com ela. É com Marial (Phoebe Fox), sua criada e melhor amiga, que Catarina descobre que ascenderá ao poder com a morte de Pedro.
LEVEZA
Tudo isso é contado de maneira leve, por vezes crítica. A evolução da personagem de Elle Fanning é crescente. Não há como não torcer por ela.
Com roupagem pop (o primeiro episódio é finalizado com Patti Smith interpretando Everybody wants to rule the world, do Tears for Fears), The great, por vezes, tem um tom de Maria Antonieta (2006), filme de Sofia Coppola. É para assistir pensando mais no presente do que no passado.
THE GREAT
>> Série com10 episódios
>> Estreia na quinta-feira (18)
>> Plataforma Starzplay