O cantor, compositor, escritor e violeiro Tavinho Moura, de 72 anos, sempre ouviu cobranças para lançar um songbook. Porém, ele optou por um projeto diferente: um videobook, criado nestes dias de isolamento social imposto pelo coronavírus.
“Gravo minhas músicas com o celular e depois posto no Instagram. Tenho umas nove canções lá, vou publicar quantas conseguir. Embora seja tudo simples, feito em casa, está muito legal. É bacana, porque da maneira como estou enquadrando a câmera, dá pra ver bem a minha mão fazendo os acordes”, diz Tavinho.
O novo projeto no Instagram lhe dá o prazer de revisitar a própria obra. “Principalmente de ver a maneira como as músicas foram compostas”, comenta. “Em vez de publicar livro, que exigiria um bom escriba, montar equipe e arranjar uma editora, preferi postar o videobook.”
''Embora seja tudo simples, feito em casa, está muito legal. É bacana, porque da maneira como estou enquadrando a câmera, dá pra ver bem a minha mão fazendo os acordes''
Tavinho Moura, músico
TRABALHO Tavinho admite: está faltando lá uma de suas canções mais importantes, Cruzada, parceria com Fernando Brant. “Muita gente quer aprender a tocá-la. Vou postá-la em breve”, promete, explicando que o videobook dá trabalho – e muito. “Não posso errar absolutamente nada, nem na letra nem no violão. Não posso nem mesmo mascar uma nota. Mas está saindo legal, as pessoas têm elogiado bastante.”
No início da quarentena, ele resistiu a compor. “Mas aconteceu de um amigo, o Lucas Guimaraens, neto do Alphonsus de Guimaraens, me mandar um poema, o que acabou me incentivando. Antes, eu ficava com medo de datar as coisas, exatamente coincidindo com essa pandemia. Superei esse momento, fiz uma canção e ele gostou muito.”
Entre intérpretes que gravaram as canções dele estão Milton Nascimento, Beto Guedes, Almir Sater, Zizi Possi, Simone, Pena Branca & Xavantinho, Sérgio Reis, Boca Livre e 14 Bis. Tavinho é conhecido pela maestria das adaptações que fez de temas da cultura popular – exemplos disso são Calix bento e Peixinhos do mar, gravadas por Milton.
“Essa pandemia ficou triplamente chata, pois está cerceando tudo”, lamenta Tavinho, obrigado a cancelar shows, impedido de sair de casa para fotografar e observar as aves, uma paixão. “Planejei algumas coisas para agosto, mas estou achando meio difícil. Outro dia, gravei, pela primeira vez, uma live. Foi com a Claudia Dumont, superintendente da Biodiversitas (ONG voltada para a defesa do meio ambiente). Tivemos uma conversa de cerca de uma hora, falando sobre a proteção à biodiversidade brasileira”, conta.
Autor do livro Pássaros poemas: aves na Pampulha, ele lamenta o cancelamento da viagem à cidade catarinense de Urupema, programada para o final de abril, para fotografar o charão. “É um papagaio maravilhoso. Nesta época, chegam de duas mil a três mil aves de uma vez, que vão para lá comer o pinhão. Com a pandemia, não pude ir”, explica.
Tavinho sempre gostou de passarinhos, mas o interesse por registrar os animais surgiu quando caminhava na região da Lagoa da Pampulha, há alguns anos. “Em apenas um dia, contei mais de 40 espécies. Pensei: este lugar é muito rico.” Incentivado por um amigo, conseguiu uma câmara emprestada e passou a clicar todos os tipos de pássaros que encontrou por lá.
Lançado em 2012, Pássaros poemas veio depois do romance Maria do Matué – Uma estória do Rio São Francisco (2007). Em suas andanças pelo interior para participar de sessões de autógrafos, ele conheceu a fazenda Macedônia, reserva mantida pela Cenibra em Ipatinga. Lá surgiu outro livro, Vale do Mutum – Aves da mata atlântica. “Nessa reserva, houve a soltura do mutum-do-sudeste, do uru-capoeira e da jacutinga, aves que estavam praticamente extintas em Minas”, conta.
CISNES Na “quarentena triplamente chata”, Tavinho Moura vem matutando outros projetos. “Não tenho mais aquela ideia de fazer um livro sobre isso ou aquilo, quero fazer para mim. Estive na Chapada Diamantina e fotografei beija-flores lindos. Depois, fui à Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, onde vi um lago que devia ter uns 600 cisnes-de-pescoço-negro, uma coisa maravilhosa. Estou fazendo assim, vou até Nova Lima, onde tem muito lugar bacana para fotografar, ou mesmo à Barra do Guaicuí, no Alto São Francisco, onde temos um rancho.”
Tavinho convoca o brasileiro a lutar pela preservação da natureza. “Infelizmente, a destruição é muito rápida. Os acidentes de Mariana e Brumadinho foram avassaladores. Temos de fotografar e mostrar para as pessoas, tentando convencê-las de que a natureza é um bem que deve ser amado. É aquela história: quem ama não destrói”.
O músico calcula já ter fotografado cerca de 1 mil espécies de aves, lembrando que o país tem cerca de 2,8 mil. “Mas não sou igual a colecionador de figurinhas, tentando alcançar uma marca. Sou tranquilo”, avisa.
A literatura também tem espaço na agenda de Tavinho. “Escrevi o conto Manoel 400, mandei para o Fernando Pacheco ilustrar. Vou publicá-lo com os outros dois que já estão lá no Instagram. É isso: estou trabalhando muito, tentando ocupar o tempo”, diz ele.
VIDEOBOOK
>> Menino bente-altas
(Tavinho Moura e Ronaldo Bastos)
>> Encontro das águas
(Tavinho Moura e Fernando Brant)
>> Como vai minha aldeia
(Tavinho Moura e Márcio Borges)
>> O anjo na varanda
(Tavinho Moura e Ronaldo Bastos)
>> Mensageiro beira-mar
(Tavinho Moura e Márcio Borges)
>> Eu e mais você
(Tavinho Moura e Ronaldo Bastos)
>> As meninas do trem de Sabará
(Tavinho Moura e Fernando Brant)
>> Amormeuzinho
(Tavinho Moura e Fernando Brant)
>> Findo amor
(Tavinho Moura e Murilo Antunes)
Onde: @tavinhomouraoficial