Jornal Estado de Minas

DUROS DE MATAR

Super-heróis de 'The old guard' levam uma vida eterna, mas muito humana

A premissa é absolutamente comum: grupo de super-heróis imortais luta contra o mal há séculos. A fonte também é batida: as histórias em quadrinhos. Mas The old guard, longa-metragem que a Netflix lança nesta sexta (10), não é nada ordinário.



Com Charlize Theron encabeçando o elenco – e cena de ação é com ela mesma, vide Mad Max: Estrada da fúria e Atômica, que já anunciou uma continuação –, o filme é uma adaptação da HQ homônima de Greg Rucka (que também fez o roteiro do longa) e Leandro Fernández. A direção de é de Gina Prince-Bythewood, até então responsável por dramas e romances.

A velha-guarda a que o título se refere são quatro imortais cuja maior arma é justamente não morrer de jeito nenhum, independentemente do número de balas, quedas e surras que sofram. São quatro pessoas que se reúnem de vez em quando, sempre que o mundo está em perigo – conseguiram ao longo dos séculos prevenir guerras, ataques nucleares e assassinatos. Fogem dos holofotes e levam uma vida fora do radar.

Pois a primeira cena do quarteto reunido é pra lá de inusitada. Em Marrakesh, no Marrocos, Andy (Charlize Theron), a chefe do grupo, se encontra com Booker (Matthias Schoenaerts), Nicky (Luca Marinelli) e Joe (Marwan Kenzari), este último um casal que se conheceu (e um matou o outro algumas vezes) em batalhas na época das Cruzadas.



Andy ganha uma baclava (um doce criado na época do Império Otomano). Os companheiros apostam se ela vai descobrir a procedência daquele exemplar (e quais iguarias foram utilizadas em sua produção). 

O encontro se dá porque Booker foi informado do sequestro de um grupo de meninas por terroristas nos rincões da África. Só que, chegando ao local, eles descobrem que tudo havia sido uma armação de Copley (Chiwetel Ejiofor), ex-agente da CIA que queria vê-los em ação, para que pudesse comprovar sua imortalidade para Merrick (Harry Melling).
 
VIDA ETERNA Este é um chefão da indústria farmacêutica que quer lucrar horrores com medicamentos para prolongar a vida dos seres humanos. Para tal, planeja trancafiar os imortais e fazê-los de cobaia para sua pesquisa. 



Paralelamente a essa história, vemos uma jovem soldado americana, Nile (Kiki Layne), em ação no Afeganistão. Após levar uma facada mortal na jugular, ela assiste, sem acreditar, ao ferimento se curar como que por milagre. Os imortais sentem e sonham com Nile, e Andy vai atrás dela. Em choque, eles descobrem a existência de outro igual a eles – não há escolha, Nile tem que se juntar a eles.

Como narrativa de ação, The old guard não se furta a sequências do gênero. Muitas delas são de tirar o fôlego. As cenas de luta são criativas, apostando na velocidade. E também, a cada nova sequência, ficamos esperando para ver como será a recuperação dos personagens.

Assistimos à novata tentando se adaptar (à força) a um universo que ela não cobiça e o grupo sendo mais uma vez perseguido. E é aí que The old guard se torna diferente dos demais filmes de ação com super-heróis.



Ainda que sejam super-humanos, eles sofrem como qualquer mortal. Isso faz com que o espectador tenha empatia pelos personagens. Eles não podem ter vínculos com outros humanos, pois só a perda os aguarda. E se os colegas têm centenas de séculos de idade, Andy já atravessou milênios, o que faz com que ela sinta um cansaço de se ver em situações repetidas.

É nessa crise que a personagem se encontra ao se confrontar com erros do passado e com a possibilidade de sua própria mortalidade. Como filme de ação mais dramático e menos espetacular, The old guard é uma surpresa. E essa vai até o final, pois a última sequência deixa o campo aberto para mais um filme. 

THE OLD GUARD
.O filme estreia nesta sexta (10), na Netflix