Depois de quatro meses da chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, os teatros do país continuam fechados e sem perspectiva de reabrir, por ora. Enquanto isso, experiências teatrais realizadas via plataformas de videoconferência e redes sociais vêm se multiplicando. Pandas, ou era uma vez em Frankfurt é uma das mais próximas da essência do teatro: o encontro.
Já com duas temporadas realizadas, entre maio e junho, Pandas inicia nesta sexta-feira (17) sua terceira temporada. Serão duas apresentações semanais (sextas e sábados, às 20h), até o próximo dia 30 de agosto.
A peça, que dura 35 minutos, é transmitida pelo Zoom. O público (em média 30 pessoas) recebe um link para assistir a transmissão e entra na sala pouco antes do início da apresentação. O diretor da iniciativa, Bruno Kott, recebe os espectadores na sala e explica como se dará a sessão. As pessoas assistem à peça com a câmera de seu aparelho desligada, mas o microfone aberto. Assim, até as tradicionais palmas fazem parte da experiência. Encerrada a encenação, elenco, diretor e público conversam sobre o espetáculo.
REMOTO Diferentemente de outras experiências teatrais da quarentena, Pandas é remota do início ao fim. Os dois atores em cena, Mauro Schames e Nicole Cordery, fazem toda a encenação em separado, cada qual de sua casa. Nenhum dos envolvidos com o espetáculo se encontrou para produzi-lo. Kott sequer conhece Nicole pessoalmente.
O texto original, do dramaturgo romeno Matéi Visniec, leva o nome de A história dos ursos pandas contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt (1997). Para a versão on-line, o diretor fez vários cortes no texto e também adaptações.
A história acompanha um casal de desconhecidos que acorda na mesma casa. Sem saber como foram parar ali, eles têm apenas fragmentos de memória da noite anterior. “O autor tem uma pegada de absurdo. Fiz adaptações, porque achava que uma hora e meia de espetáculo via internet seria muito. Reorganizei o texto e escrevi algumas coisas para tratar de questões como medo, confiança, solidão”, afirma Kott.
O processo de ensaio envolveu também a descoberta das funcionalidades do Zoom. Uma delas é a possibilidade que a plataforma dá para utilizar diferentes fundos via chroma key (a chamada tela verde, muito utilizada pelo cinema, em que imagens digitais são inseridas).
CENÁRIO Desta maneira, foi construído o cenário. “Ele não é necessariamente realista, muda de acordo com o estado de espírito dos personagens”, afirma o diretor. Para ele, o processo está sendo de aprendizado tanto para a equipe quanto para o público.
“Pandas é diferente de outros espetáculos filmados, pois envolve um processo de formação e acolhimento. Recebo as pessoas e ajudo a configurar o sistema, peço para apagarem as luzes de casa, vou preparando o espaço. É muito diferente de ver um filme também”, acrescenta Kott.
Depois que a peça termina, o bate-papo pode durar até 1h30. “É uma oportunidade de trocar ideias e falar não só da peça, mas de todos os gatilhos que a arte provoca.” Ainda que tenha vindo do teatro, Pandas, na opinião de Kott, só funciona do jeito que está no ambiente virtual.
“Para o palco italiano teria que ter uma adaptação. O que estamos fazendo agora é só para aquele veículo. A internet está na nossa vida como um todo e não tem como ela não atravessar a arte. Enfim, ela está a nosso favor, porque democratiza tudo. Agora, a ideia não é ocupar o espaço do teatro físico. Ele existe desde a Grécia Antiga e não vai ser a pandemia que vai romper com isto.”
PANDAS, OU ERA UMA VEZ EM FRANKFURT
O espetáculo on-line será apresentado desta sexta-feira (17) a 30 de agosto, às sextas e sábados, às 20h, na plataforma Zoom. Duração: 40 minutos. Ingressos: R$ 20 (www.sympla.com.br/pandas). No dia do espetáculo, o link será disponibilizado no site.
"A internet está na nossa vida como um todo e não tem como ela não atravessar a arte. Ela está a nosso favor, porque democratiza tudo. A ideia não é ocupar o espaço do teatro físico. Ele existe desde a Grécia Antiga e não vai ser a pandemia que vai romper com isto"
Bruno Kott, diretor
FESTIVAL DE MONÓLOGOS
Tem início na próxima quarta-feira (22) o 1º. Festival de Teatro On-line do Feluma. Sete monólogos com atores mineiros foram selecionados via edital para o evento, que será realizado até setembro. Os espetáculos serão gravados no palco do teatro e transmitidos no canal do YouTube do Teatro Feluma. Quem abre a programação é Eduardo Moreira. Na próxima semana, o ator do Galpão apresenta o monólogo Danação, às 20h. Os demais selecionados foram Ivana Andrés (com Camile Claudel, em 29 de julho); Rita Clemente (com Amanda, em 5 de agosto); Marcelo Rico (com Os homens querem casar e as mulheres querem sexo, em 12 de agosto); Beth Grandi (com Frau Amália Freud, em 19 de agosto); Luciano Luppi (com Fernando Pessoa, em 26 de agosto); e Inês Peixoto (com Órfãs de dinheiro, em 2 de setembro).
PEÇA INFANTIL
Outra iniciativa de teatro à distância, esta voltada para o público infantil, será realizada no domingo (26). Diretamente do Teatro Feluma, a Cyntilante Produções vai apresentar o espetáculo musical Moana (foto). Os atores contracenam em tempo real, a três metros de distância.. O cenário é virtual, utilizando os recursos do chroma key. No palco, eles atuam somente com o fundo verde – o cenário é inserido digitalmente, dando a sensação de que estão juntos e nos lugares onde a aventura da Disney se passa. A transmissão do Teatro Remoto será às 16h, no Instagram e Facebook do perfil Diversão em Cena e no canal do YouTube da Fundação ArcelorMittal.