Cantor de hits românticos que embalaram várias gerações, o músico carioca Renato Barros, líder da banda Renato e Seus Blue Caps, de 75 anos, morreu na terça-feira (28), devido a uma infecção pulmonar. Desde 17 de julho ele estava internado no Hospital de Clínicas de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde foi submetido a uma intervenção cardíaca.





Destaque do Jovem Guarda, programa apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa nos anos 1960, Renato e sua banda foram responsáveis por vários sucessos, sobretudo versões em português de canções dos Beatles.

“Ah, deixa essa boneca, faça-me o favor”. Quem não conhece esse verso de Menina linda, versão de I should have know better, de Lennon e McCartney?

A banda chegou à liderança das paradas sessentistas com Não de esquecerei, versão de California dreamin', do grupo americano The Mamas and Papas. Fez os brasileiros cantarem as “beatle songs” Até o fim (You won’t see me), Ana (Anna: To go him) e Feche os olhos (All my loving).

“A gente não falava inglês e também não sabia decorar as letras. Então, o jeito era fazer versões, o que deu muito certo. Foi assim que começamos, fazendo versões das músicas dos quatro cabeludos de Liverpool”, contou Renato, certa vez.




Estreia traumática

Em entrevista concedida ao Estado de Minas em 2017, Renato relembrou sua estreia – traumática – aos 16 anos, no programa Hoje é dia de rock, da Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Ele atraía jovens à porta da emissora. O garoto foi surpreendido por Jair de Taumaturgo, diretor do programa, que o convidou a se apresentar.

“Ele acabou nos inscrevendo, eu nem esperava. Quando me perguntou como se chamava o meu conjunto, fiquei sem saber o que responder. Lembrei-me de um bloco de carnaval lá do bairro onde a gente morava, Piedade, no subúrbio carioca, o Bacaninha da Piedade. Aí, só acrescentei o rock”, contou Renato.

A performance ao vivo do Bacaninhas na Mayrink Veiga foi um fracasso. A banda enfrentou vaias. “Fiquei traumatizado. Minha mãe fez as nossas roupas e tudo. Falei que nunca mais ia levar uma vaia na vida. Foi a primeira e a última vez”, relembrou.





Porém, o fracasso serviu de estímulo para que Renato e seus companheiros – incluindo os irmãos Paulo César e Edson Barros (mais tarde Ed Wilson, que saiu em 1963) – não desistissem. Um deles sugeriu mudar o nome do grupo. “Ele falou que Bacaninhas do Rock da Piedade era muito ridículo e nós concordamos. E começou a desfiar um monte de sugestões: Renato e Seus Cometas, por exemplo. Assim surgiu a Renato & Seus Blue Caps, inspirada no conjunto norte-americano Gene Vincent and His Blue Caps”. O grupo foi criado em 1962 e continuava na ativa. Em junho de 2019, ele se apresentou no Cine Theatro Brasil Vallourec, em BH.

Desde então, os Blue Caps não pararam mais. Renato dizia que sua banda era uma das mais longevas do mundo na seara do rock. Com seis décadas de palco, reivindicou, em 2019, entrar para o Guinness Book: O livro dos recordes.

Para Renato, o motivo dessa longa história foi a dedicação, a paixão pelo trabalho. “A gente tem que amar muito e respeitar o que faz, porque dessa forma a gente também respeita e ama o público. Outra coisa é não parar no tempo e estar sempre nos reciclando, descobrindo coisas novas".





Filho de artistas – a mãe foi cantora na Rádio Nacional e abandonou a profissão para se casar; o pai chegou a fazer pontas em filmes da Atlântida –, Renato explicou ao EM que a banda, considerada representante da Jovem Guarda, surgiu antes desse movimento musical.

“Um dia, o Marcos Lázaro, empresário e homem que criou toda essa história, nos convidou para participar de um programa Jovem Guarda, exibido na TV Record. A gente nem tinha ideia do que era. Quando ele contou que nossa música Menina linda estava nas paradas de sucesso, nem acreditamos. Assinamos contrato, nos apresentamos durante algum tempo e foi um estouro. A Jovem Guarda foi algo muito forte mesmo, bem popular", relembrou.

O som de uma geração

Ao lado de Roberto, Erasmo e Wanderléa, a banda Renato e seus Blue Caps influenciou a juventude dos anos 1960, deslumbrada com o rock e a beatlemania. Essa geração dançava, namorava, se casava e viajava pelas estreitas estradas ouvindo aquele som no toca-fitas do carro.





Na verdade, o fato de o grupo fazer versões em português de sucessos internacionais possibilitou que milhões de brasileiros cantassem as belas canções de Lennon e McCartney e também de outros ícones do velho e bom rock and roll.

Particularmente, eu conhecia o grupo de LPs e compactos, mas a primeira vez que vi Renato e Seus Blue Caps foi no programa Jovem Guarda. Não posso negar: ali aflorou minha inspiração para ser músico. Cantei, vibrei junto com eles. E até hoje canto os versos “Feche os olhos e sinta/ Um beijinho agora”.


compartilhe