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Estado de Minas LITERATURA

Marina Colasanti analisa a obra de Clarice Lispector, nesta terça

Convidada do projeto Ler em cena, escritora e jornalista conta que apresentou à escritora a cartomante que virou personagem de 'A hora da estrela'


04/08/2020 04:00

(foto: Frederico Mendes/divulgação)
(foto: Frederico Mendes/divulgação)

"Todo mundo tinha reverência ou medo de lidar com ela, Clarice era estranha. Pois ela me foi entregue%u201D

Marina Colasanti, escritora

A bordo de um Fusca, Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti partiram da Zona Sul do Rio de Janeiro em direção ao Meier, na Zona Norte. No banco de trás, estava Clarice Lispector (1920-1977). O trio iria se encontrar com Nadir, cartomante que havia sido indicada por um amigo do casal de escritores.

“Quando contamos para a Clarice que nosso amigo havia dito que a cartomante era maravilhosa, ela entrou em delírio. ‘Quero ir, quero ir’. Me lembro da gente costeando a via férrea, com o trem passando”, lembra Marina. Nadir inspirou Clarice a criar Madame Carlota, a cartomante que encanta Macabéa em A hora da estrela (1977).

VIRTUAL 
A Clarice autora, como também a Clarice amiga, estão na pauta do Letra em cena. Como ler... O projeto literário do Minas Tênis Clube retoma suas atividades, agora em formato virtual. Nesta terça-feira (4), nas redes sociais do Centro Cultural Minas Tênis Clube e no YouTube do Minas, Marina Colasanti analisa a obra de Clarice Lispector ao lado do jornalista José Eduardo Gonçalves. A escritora Bruna Kalil Othero fará uma leitura de textos da autora de A hora da estrela.

Marina era não mais do que uma “mosca”, nas palavras dela, quando conheceu pessoalmente Clarice. “Quando fui à casa dela, levada por um amigo comum, nem olhou na minha cara, porque eu não era ninguém. Estava adorando a visita, pois comecei a ler Clarice no primeiro conto que ela publicou na (revista) Senhor (“A menor mulher do mundo”, de 1959). Fiquei encantadíssima, eu e meu irmão (o ator Arduíno Colasanti) éramos fissurados nela. (Na época) Nem sabia que ela era a escritora de escritores, que só os escritores a conheciam. Percebi, ali, que estava diante de uma escriba maior.”

Acompanhando a distância a carreira de Clarice, Marina se tornou muito próxima dela por causa do jornalismo. Nos anos 1960, Marina trabalhava no Jornal do Brasil. Em 1967, Clarice foi convidada para escrever para o jornal.

“Todo mundo tinha reverência ou medo de lidar com ela, Clarice era estranha. Pois ela me foi entregue, era eu quem cuidava dos textos, dos telefonemas, quando ela tinha que adiantar uma crônica. Não havia computador nem impressora, era o tempo do carbono. Ela não tinha cópia dos textos. Dizia, com aquele erre arredondado dela: ‘O carbono foge’”, relembra Marina.

Clarice teve sequelas do incêndio que destruiu seu quarto, em 1966, provocado pelo cigarro que ela deixou aceso ao dormir. A mão direita, o membro mais afetado pelo fogo, perdeu parte dos movimentos, mesmo depois do enxerto que a autora fez. Daí a dificuldade para pôr o carbono na máquina de escrever para fazer cópia dos textos.

Clarice escrevia de maneira inusitada, afirma Marina Colasanti. “Ela se deu conta muito cedo das frases que vinham na cabeça. Anotava tudo e quando tinha um monte de frases, começava um trabalho de costura, de emendar uma frase, dar sentido ao que escrevia. Datilografava várias vezes o mesmo livro, ia aprimorando, compreendendo o que queria dizer através desse processo.”
Rigorosa, Clarice Lispector tinha o costume de datilografar várias vezes o mesmo livro(foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 20/12/62)
Rigorosa, Clarice Lispector tinha o costume de datilografar várias vezes o mesmo livro (foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 20/12/62)

Posfácio 
Marina já dedicou vários textos à obra da amiga, inclusive o livro Com Clarice (2013), escrito com Affonso Romano. Mais recentemente, assinou o posfácio da edição comemorativa de Felicidade clandestina (1971), publicada em março pela Rocco em celebração ao centenário de Clarice.       

Atualmente, a jornalista e escritora trabalha em um texto para o livro que Nádia Gotlib, biógrafa da autora de A hora da estrela, prepara com crônicas de amigos dela.

“Clarice busca o âmago das coisas. Não estava interessada em contar histórias, fez uma literatura praticamente sem histórias. A literatura de Clarice não se alcança através da razão. Affonso dizia que reconhecia uma leitora de Clarice ao longe, porque, segundo ele, os fanáticos de Clarice andam a três centímetros acima do chão”, finaliza Marina Colasanti.

LETRA EM CENA: COMO LER CLARICE LISPECTOR
Com Marina Colasanti e José Eduardo Gonçalves. Nesta terça-feira (4), às 20h, no Instagram e no Facebook do Centro Cultural Minas Tênis Clube e no canal do Minas Tênis Clube no YouTube. 


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