Ao retornar para a Terra, a nave espacial Nostromo recebe estranhos sinais vindos de um asteroide. Enquanto a equipe investiga o chamado, um dos sete tripulantes é atacado por um misterioso ser. O que parece ser um caso isolado se transforma em pesadelo, já que a vítima do ataque, ao ser resgatada, leva para dentro da nave um embrião alienígena que não para de crescer e tem como objetivo matar toda a tripulação.
Esse é o mote do longa Alien: O oitavo passageiro, do diretor britânico Ridley Scott, que chegou aos cinemas em 1979 e hoje é considerado um dos maiores clássicos do terror e da ficção científica. Escrito em 1976 pelo norte-americano Dan O'Bannon (1946-2009), o roteiro original do filme serviu de base para a minissérie em quadrinhos desenvolvida pelos mineiros Guilherme Balbi e Cristiano Seixas.
Dividida em cinco edições e editada pela Dark Horse Comics, Alien: The original screenplay (Alien: O roteiro original) adota uma abordagem contemporânea ao adaptar o roteiro de 1976.
O primeiro volume estará disponível a partir desta quarta-feira (5), em versão digital, pela Amazon. Em seguida, a edição impressa chega à América do Norte. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
“Tivemos bastante liberdade para criar”, afirma o ilustrador Guilherme Balbi. “E, apesar disso parecer uma vantagem, foi um desafio e tanto trabalhar nessa adaptação. Precisávamos remeter ao passado, preservar o legado dessa história icônica e, ao mesmo tempo, atualizá-la. Então a ideia principal foi trazer à tona os elementos mais importantes da história para despertar o saudosismo de quem acompanhou os lançamentos dos filmes da franquia”, diz.
Manter alguns elementos do passado foi a saída encontrada para preservar a estética do filme. “Queríamos criar uma atmosfera vintage e, ao mesmo tempo, apresentar elementos tecnológicos absurdos, o que não era possível na época em que o filme foi feito. Ainda assim, conseguimos criar uma HQ bem sólida, preservando o clima da história, que é de mistério e aventura”, afirma.
Quando surgiu o convite para o trabalho, Balbi estava envolvido em outro projeto da Dark Horse Comics, sobre o qual ele ainda não está autorizado a falar. Ao iniciar a adaptação de Alien, ele se deu conta de que precisaria de ajuda. É aí que entra o trabalho do roteirista Cristiano Seixas, primeiro brasileiro a assumir o roteiro de uma adaptação de quadrinhos oficial de Hollywood.
“Somos parceiros de longa data e esse entrosamento é fundamental para um trabalho como este. Ele começou a carreira na Casa dos Quadrinhos, então sei exatamente como é o estilo dele”, comenta Cristiano, que é cofundador da escola técnica localizada na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Cristiano comenta a especificidade do trabalho de adaptação. “Estamos acostumados a criar a história de cada personagem, escolher suas características e construir suas personalidades a partir disso. Nesse caso, os personagens já existiam. Então, a criação foi atualizar os elementos que compõem a história, já que a editora não queria que a HQ tivesse muita relação com a história original.”
Apesar disso, a dupla não pôde simplesmente se desfazer de algumas passagens icônicas do filme de 1979, como a que envolve o bebê Alien e o tripulante Kane, interpretado pelo ator John Hurt (1940-2017). Para isso, eles contaram com a ajuda do editor Randy Stradley, que trabalhou em quase todas as HQs oficiais de Star wars publicadas nos últimos 20 anos.
“Acho que o quadrinho que a gente fez tem uma pegada sci-fi e até algumas passagens filosóficas. O filme tem um atmosfera sombria. A história que a gente adaptou tem um ritmo mais rápido e, ne
INFLUÊNCIA Fã da franquia desde O oitavo passageiro, ele conta que seu trabalho autoral foi bastante influenciado pelos artistas que contribuíram com o filme.
Já Guilherme Balbi recorda que Alien foi o primeiro filme de terror que viu em casa. “Como eu morava no interior, a gente não ia muito ao cinema, então a solução era alugar as fitas. Lembro-me de que fiquei com muito medo, começava a ver e parava, principalmente nas cenas de muita violência. Depois, mais velho, entendi como esse filme me marcou, aí saí comprando pôster, estátua dos personagens e outros objetos de coleção. Fui assimilando a importância do filme para mim.”
Segundo o quadrinista, esses elementos que lhe causaram assombro na infância estão mantidos na tradução para HQ da história. “Tem suspense, tem drama e a gente teve a oportunidade de mostrar mais a expressão de cada personagem.”
Já que a pandemia impede um lançamento presencial da HQ, a dupla irá se reunir em uma live nesta quarta, a partir das 21h, no Instagram da Casa dos Quadrinhos.
A escola, que adotou o modo de funcionamento on-line em razão da pandemia do novo coronavírus, se prepara para iniciar, em setembro, mais um semestre letivo, só que com aulas ministradas remotamente.
“Nesses quase cinco meses de quarentena, nós aprendemos muito”, diz Cristiano Seixas. “É muito difícil adotar o modelo on-line para uma escola de arte. As aulas precisam ser ao vivo, o professor precisa acompanhar cada etapa do processo de aprendizagem. Estamos nos preparando para essa nova etapa, ainda sem previsão de quando poderemos voltar a receber os alunos presencialmente.”
Caso a escola retome as aulas presenciais, será com adoção dos protocolos de segurança necessários, como o uso de máscaras, aferição de temperatura (tanto dos professores quanto dos alunos) e suspensão do uso de ar-condicionado nas salas de aula, segundo ele.
ALIEN: THE ORIGINAL SCREENPLAY
Dark Horse Comics
Minissérie em cinco edições baseada no roteiro original de Dan O'Bannon. Com roteiro de Cristiano Seixas e ilustrações de Guilherme Balbi. Disponível a partir desta quarta (5), em versão digital, pela Amazon.
"Queríamos criar uma atmosfera vintage e, ao mesmo tempo, apresentar elementos tecnológicos absurdos, o que não era possível na época em que o filme foi feito"
Guilherme Balbi, ilustrador
"Estamos acostumados a criar a história de cada personagem, escolher suas características e construir suas personalidades a partir disso. Nesse caso, os personagens já existiam. Então, a criação foi atualizar os elementos que compõem a história"
Cristiano Seixas, roteirista
ENTENDA-SE COM ALIEN
Estrelado por Sigourney Weaver, Alien: O oitavo passageiro é um dos seis filmes da franquia em que a ordem de lançamento não condiz com a passagem do tempo dentro da história, procedimento comum a outras séries cinematográficas, como Star wars.
Prometheus (2012), também dirigido por Ridley Scott, se passa, em sua maior parte, entre os anos 2091 e 2094. O longa conta a jornada de um grupo de cientistas em busca de respostas sobre a origem da humanidade. Nessa viagem eles encontram uma nova forma de vida chamada de “Engenheiros”.
Cerca de 10 anos após esses eventos estão os acontecimentos de Alien: Covenan (2017), também assinado pelo cineasta britânico. Nesse filme, uma tripulação formada por casais é enviada para um planeta distante e supostamente seguro para os hu- manos. O que parece ser um paraíso inexplorado logo se mostra um local repleto de perigos.
Alien: O oitavo passageiro (1979) vem em seguida, 18 anos após o filme de 2017. Já em Aliens: O resgate (1986), dirigido por James Cameron, Ellen Ripley (Sigourney Weaver) volta a ser Ellen Ripley, após a personagem passar 57 anos vagando no espaço.
Já Alien 3 (1992), dirigido por David Fincher, foi uma tentativa de encerrar a saga da personagem na franquia. Assim como o anterior, o filme se passa em 2179. Entretanto, ela retorna em Alien: A ressurreição (1997), ambientado em 2379, quando um clone de Ripley enfrenta uma ameaça causada pelos aliens, que agora apresentam modificações genéticas.
PLANOS PARA O FUTURO
Recentemente, o diretor Ridley Scott comentou o futuro da franquia em entrevista ao Los Angeles Times. Segundo o cineasta, mesmo com a bilheteria morna dos últimos filmes, ainda há muita história a ser contada. “Ainda acho que tem muita quilometragem para ser rodada em Alien, mas agora temos que voltar e evoluir”, ponderou ele, dando a entender que um reboot da série está nos planos dos estúdios Disney (que adquiriram a franquia da Fox). Quem sabe as respostas estarão no exercício imaginativo feito pelos brasileiros Guilherme Balbi e Cristiano Seixas?