Jornal Estado de Minas

TELEVISÃO

O isolamento, com muito trabalho, de Luisa Arraes e Caio Blat

No primeiro encontro à mesa do bar pós-isolamento social não faltarão histórias para compartilhar. Cada um se vira como pode para encarar estes tempos difíceis. E também há momentos de empatia e bom humor. Os atores Luisa Arraes e Caio Blat, por exemplo, criaram laços mais fortes com os vizinhos, além de enfrentar a tão assustadora rotina doméstica de forma menos estressante.





Algumas vezes, Luisa abriu as janelas do apartamento onde mora para o som do piano embalar a cantoria da galera. Ela e os vizinhos se reúnem em jantares, mantendo, claro, o distanciamento social – cada um na própria varanda.

PANELAÇO 

Caio lembra que “também tem a hora do panelaço oficial”. Na hora de limpar a casa, os namorados trocam as músicas da playlist por lives. “Fizemos uma curadoria de lives”, revela Luisa. Ela se conecta nas apresentações ao vivo. Caio se especializou em Daniel Ganjaman (DJ, produtor de Criolo e BaianaSystem) e seu Baile do Ganja. Teresa Cristina também está entre as favoritas.

Para Luisa, o Brasil não é mais o mesmo depois da live de Ivete Sangalo. “Foi a prova de que não devemos desistir. Inventaram um jeito de ter o show de Ivete”, comenta. “Imagine que para colocar um musical dela no ar era preciso cenário gigantesco, telões, 200 assistentes de palco, bailarinos, 30 câmeras. Liguei a televisão e Ivete estava de pijama, na cozinha da casa dela”, diz Caio Blat.





O casal integra o elenco de Amor e sorte, a nova série da Globo, com quatro episódios, anunciada para setembro. O diretor Jorge Furtado conta, com orgulho, que o projeto começou a ser desenhado a partir de um papo dele com Luisa e Caio, no início da pandemia, sobre criar algo para este momento em que todos se isolaram.

Os atores se empolgaram com a história de Teresa e Manoel. Ao se conhecerem, os personagens passam três dias dentro de um apartamento, desconectados do mundo. Quando descobrem a pandemia, não podem mais se separar. O roteiro foi criado por Luisa Arraes, Caio Blat e Jorge Furtado.

“A linha inicial, que mantivemos até o final, é a ideia de que ciência e arte podem salvar o mundo”, explica Furtado. Segundo ele, o episódio A beleza salvará o mundo é uma comédia romântica sobre o casal “quarentenado” que descobre os prazeres do cinema. “Eles querem resolver os problemas da humanidade a partir de seu pequeno universo.”





Se a pandemia não tivesse paralisado o Brasil, Luisa e Caio estariam às voltas com agendas lotadas. No cinema, viveriam Diadorim e Riobaldo, personagens de Guimarães Rosa, no longa com roteiro de Furtado e direção de Guel Arraes, pai de Luisa. No teatro, fariam apresentação, em Inhotim, de Grande sertão: Veredas, peça dirigida por Bia Lessa.

Caio se assustou com a reviravolta causada pela COVID-19. “Em um único fim de semana, tudo foi cancelado. E nosso setor, feito de grupos humanos, paralisado. A grande questão é: como enfrentar esta situação e continuar produzindo com criatividade?”, observa. “Principalmente agora, quando as pessoas, trancadas em casa, precisam de sonho, alívio e esperança.”

Interpretar Teresa e Manoel foi um desafio. “Divertido, mas muito radical”, diz Luisa, a dona da casa transformada no lar doce lar de Teresa. Apesar de ter trabalhado com Caio em outros projetos, desta vez foi diferente, pois os dois tiveram que decidir tudo, encarregando-se do set doméstico, dirigidos a distância. Claro, rolaram algumas discussões. “Eram DRs diárias. Mas no dia seguinte estávamos melhor. Todos os dias há uma evolução da relação”, reconhece o ator.





O episódio A beleza salvará o mundo é declaração de amor ao cinema. “Faz parte de nossa saudade falar do audiovisual e de tantas pessoas paradas”, lamenta Luisa. Manoel é um engenheiro químico que se diz cineasta. Teresa é atriz. Juntos, recriam cenas clássicas de ET e Titanic.

CHUVA 

O casal de namorados realizou o sonho de qualquer diretor: rodar uma cena com chuva de verdade. Quando viu o tempo carregado, Caio pensou: “É isso, é dançando na chuva”. Luisa foi para a calçada e imitou Gene Kelly. Desta vez, a magia aconteceu no Jardim Botânico.

As gravações do filme inspirado na obra de Guimarães Rosa estavam prestes a começar. Caio se frustrou com a paralisação do projeto, mas Guel Arraes não deixou o astral cair. “Em vez de limitar, isso expandiu a criatividade. O projeto se desdobrou em várias situações por causa de cenários virtuais, efeitos especiais. Quando tudo voltar, o filme será outro, incorporando essa tecnologia e esses obstáculos”, garante o ator.