Jornal Estado de Minas

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Fãs brincam de 'detetive' em lives e descobrem 'segredos' dos ídolos

Dado o risco de contaminação em aglomerações, a pandemia do novo coronavírus afastou os artistas do público, com a suspensão de shows, festivais e outros eventos artísticos em que o artista e seu público dividiam o mesmo espaço.





Além de ganhar a aceitação dos fãs, com “plateias” contadas na casa dos milhões, as lives possibilitaram um outro tipo de aproximação entre esses dois elos da cadeia do entretenimento. Um “efeito colateral” das transmissões caseiras é que o público tem acesso a um espaço íntimo do artista e acaba descobrindo aspectos do ídolo que desconhecia, revelados em detalhes da decoração e na configuração residencial.

Um dos principais nomes da música popular brasileira, Caetano Veloso só  se rendeu ao formato das lives no último dia 7, com um show especial de aniversário (78 anos), em que dividiu o palco, quer dizer, a sala de casa, com com os filhos, no Rio de Janeiro.

Transmitida com exclusividade pela Globoplay, a live bateu recorde de audiência na plataforma e se tornou o assunto mais comentado nas redes sociais naquela noite. Satisfeitos com o que ouviram, os internautas comentaram não só o repertório escolhido e sua execução, mas também o que viram. E outro “personagem” se tornou predominante no show: a enorme estante de Caetano.




Marília Mendonça mostrou que deixa seu Grammy recebido no ano passado à vista na sala de casa (foto: Youtube/Reprodução)

BANDEIRA 

Posicionada como um cenário para a live, ela abrigava centenas de itens, de diferentes significados. O que chama a atenção primeiramente, pelo tamanho e posição central na filmagem, é um quadro com uma bandeira do Brasil remodelada, sem o círculo azul estrelado e o lema “Ordem e Progresso”.  

Trata-se da obra New Brazilian flag, do artista plástico carioca Raul Mourão. Originalmente, é um objeto de pano, com três metros de largura e um buraco na circunferência do tecido. A obra foi exposta no Circo Voador, no Rio de Janeiro, no ano passado, no feriado da proclamação da Proclamação da República (15 de novembro), com uma conotação de protesto ao curso político da república brasileira. 

Quando a câmera fechava em Caetano, também era possível notar um Ofá de Oxóssi, que é o arco e flecha do orixá. Porém, nas tomadas mais abertas, o que sobressaía era a grande quantidade de coisas nas sete prateleiras e três colunas, boa parte tomada por livros, discos e DVDs. Foi possível notar que a coleção inclui os 20 CDs da Coleção Chico Buarque, lançada pela Abril Coleções em 2010, e o box de DVDs A conspiração de Gilberto Gil, trabalho audiovisual que contou com direção de Andrucha Waddington e Lula Buarque de Hollanda, lançado em 2011, com participação de Caetano. 

Um item raro é o kit com dois LPs e um livro Tom Jobim, distribuído com exclusividade para os clientes da Companhia Brasileira de Projetos e Obras em 1987. O material costuma ser visto apenas em leilões. 

As variedade de obras literárias também se destacou. Foram vistos na estante a versão em inglês de Viva o povo brasileiro, clássico de João Ubaldo Ribeiro, Memórias Imorais: Uma autobiografia, de Serguei Eisenstein, O alquimista, de Paulo Coelho, e Mario de Janeiro Testino, do fotógrafo peruano Mario Testino, no qual Caetano colaborou com um texto.



Alceu Valença tem almofadas com imagens das capas de seus discos e a bandeira de Pernambuco com a frase "Alceu dispor" (foto: Youtube/Reprodução)

A diversidade literária foi motivo de deboche nas redes sociais, já que, em maio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apareceu em uma entrevista, em sua casa, com uma estante vazia ao fundos. A comparação foi inevitável no Twitter. Porém, um dos objetos mais comentados e celebrados foi uma foto da cantora Maria Bethânia, irmã de Caetano.

A cada live, o cenário doméstico revelou aos fãs detalhes das referências artísticas dos ídolos e também de suas vidas cotidianas ou afetivas. Se Caetano deu o que falar pela riqueza cultural de sua decoração, sua conterrânea Ivete Sangalo mostrou uma sala de casa espaçosa, mas padrão, como a de muitas famílias de classe média, na live em que ela fez questão de cantar de pijama (esse, sim, mais refinado do que a média).

Para passar o clima de “entre e fique à vontade” a quem assistia, até o marido e os filhos de Ivete fizeram figuração com brinquedos e outros utensílios domésticos comuns, sem nada que parecesse exclusivo de uma artista. 





O luxo que se imagina para os cantores que lideram paradas de sucesso, de fato, foi visto, como na sala e quintais gigantescos do sertanejo Gusttavo Lima, cuja mansão já era de conhecimento público, por fora. A sala de estar da cantora Joelma, ex-vocalista do Calypso, foi alvo de muitos comentários no Twitter, de usuários surpresos com o tamanho do cômodo, embora a decoração presente não trouxesse referências à música. 

Maria Rita organiza os livros na estante por cores; o detalhe não passou despercebido pelos fãs (foto: Facebook/Reprodução)

PRÊMIOS 

Por outro lado, Maria Rita mostrou que mantém por perto na ambientação de casa símbolos do sucesso de sua carreira. Na apresentação ao vivo que fez de casa no Dia das Mães, a filha de Elis Regina mostrou que sete dos oito troféus Grammy que já ganhou ficam expostos na sala de estar. No mesmo móvel ainda foram vistos muitos livros, cuidadosamente separados pela cor da capa. Esse detalhe de organização dominou os comentários nas redes sociais. 

O gramofone dourado entregue aos vencedores do Grammy também decora a casa de Marília Mendonça. Ela venceu o Grammy Latino em 2019, na categoria Melhor Álbum Sertanejo, com Todos os cantos - Volume 1 (ao vivo). O troféu era um dos objetos à mostra em sua esverdeada sala de estar, onde fez a primeira de suas lives.  A apresentação, no começo de abril, se tornou o evento musical ao vivo mais assistido da história do Youtube, com 3,3 milhões de espectadores simultâneos.





Alceu Valença é outro que mostrou ter sua carreira literalmente estampada em sua casa. Nas lives que fez, tocando seu violão no sofá, o público percebeu que as almofadas estampam capas de alguns de seus discos, como Mágico (1984), Cavalo de pau (1982)  e Estação da luz (1985). 

Mesmo em meio a alguns anúncios da patrocinadora do show na parede, também foi possível ver uma placa com os dizeres “Alceu dispor”, dentro de uma bandeira pernambucana. Com apresentações repletas de histórias e casos, contados entre as músicas, nem era preciso, mas a placa só comprovou: Alceu é uma simpatia! 



audima