Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Prêmio Leda Maria Martins destaca artistas negros de BH

Criado em 2017, o Prêmio Leda Maria Martins (LMM) chega a 2020 adequando-se ao contexto da pandemia. Geralmente realizada em dezembro, a premiação contrariou a onda de adiamentos provocada pelo coronavírus e antecipou o anúncio dos vencedores para este sábado (22), por meio de um vídeo que será postado no YouTube às 17h.





Reafirmando o propósito de reverenciar as produções de teatro, dança e performance realizadas por negros em Belo Horizonte, o prêmio abarca 10 categorias: Encruzilhada (direção), Muriquinho (infantojuvenil), Oralitura (texto e trilha sonora), Corpo adereço (dança), Performance do tempo espiralar (performance), Lugar da memória (cena curta), Afrografia (atuação), Cena em sombras (cenário, figurino e luz), Palco em negro (espetáculo de longa duração) e Ancestralidade (personalidade, homenagem e revelação).

ABDIAS 
O tema desta edição é Quilombismo, inspirado na teoria desenvolvida em livro pelo ator e dramaturgo Abdias do Nascimento (1914-2011). Coordenador do prêmio, Denilson Tourinho ressalta a relação do conceito com o formato on-line a que a premiação se adequou. “Estamos recorrendo a outro mecanismo da área das artes para anunciar os vencedores, propondo um aquilombamento virtual”, diz.

Concorrem 254 montagens de artes cênicas negras de BH, realizadas de 1972 a 2020. “O prêmio, na verdade, é um projeto de estudo que leva em conta temáticas e contextos sociais. Ao todo, já catalogamos 284 montagens, das quais 30 foram agraciadas nas outras três edições”, explica Tourinho, que assina a curadoria.





O júri deste ano é formado pelos artistas Giovanna Heliodoro, Evando Passos e Marcus Carvalho. O vídeo da premiação, que resgatará imagens das edições anteriores, é assinado pela produtora Ponta de Anzol, com programação visual do coletivo Aqui Também é Seu Quilombo. Os vencedores receberão um exemplar do livro O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista (Editora Perspectiva), de Abdias do Nascimento, um troféu e R$ 1 mil.

“O Prêmio LMM é pautado em livros, como troféu, e a organização leva em conta todo o apoio que pode ser dado a empreendedoras e empreendedores negros, que são nossos parceiros. Como estamos num contexto em que os artistas estão sem perspectiva de voltar ao trabalho, pensamos no prêmio em dinheiro como um auxílio financeiro e afetivo”, explica o coordenador.
O homenageado deste ano será o ator e diretor Hilton Cobra, da companhia carioca Cia. dos Comuns. Conhecido como Cobrinha, ele atua no espetáculo solo Traga-me a cabeça de Lima Barreto, apresentado recentemente por meio do projeto #EmCasaComSesc, disponibilizado no YouTube.





Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz para comemorar os 40 anos de carreira de Cobrinha, a peça tem início após a morte do escritor Lima Barreto (1881-1922) e parte de uma imaginária sessão de autópsia na cabeça do escritor conduzida por médicos eugenistas, defensores da higienização racial no Brasil, na década de 1930.

O propósito da autópsia é responder à seguinte pergunta dos eugenistas: “Como um cérebro considerado inferior poderia ter produzido uma obra literária de porte se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças tidas como superiores?”.

A partir desse embate, a peça aborda as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto. Discute a loucura, o racismo, a eugenia, a obra não reconhecida de Lima e os enfrentamentos políticos e literários de sua época no Rio de Janeiro.

PRÊMIO LEDA MARIA MARTINS
Neste sábado (22), às 17h, em 
www.youtube.com/premioledamariamartins

TRAGA-ME A CABEÇA DE LIMA BARRETO
Peça com Hilton Cobra. Disponível no canal do Sesc São Paulo no YouTube (www.youtube.com/sescsp)