Grafite é sinônimo de rua. O espaço urbano vem se transformando em galeria a céu aberto, com muros, viadutos, tapumes, trens e metrôs exibindo traços marcantes desta arte contemporânea. Desde março, o confinamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus teve forte impacto sobre a ação dos grafiteiros de Belo Horizonte, mas eles buscam alternativas para não parar de criar. A internet é forte aliada desses artistas.
Raquel Bolinho, criadora do personagem Bolinho, viu-se presa dentro de casa, depois de grafitar nas ruas por 11 anos. “No começo, eu nem saía. Tive de me adaptar”, conta ela, que passou a se dedicar ao desenho e a fazer posts diários na internet.
“Bolamos o Guia bolinho nada prático de como lidar com a quarentena, desenhos diários mostrando o que o Bolinho está fazendo durante a pandemia, como ele enfrenta este momento”. Raquel conta que não é fácil lidar com o isolamento social. “O jeito foi postar na internet para que as pessoas vissem o meu trabalho. Com o tempo, voltei a fazer algumas pinturas nas ruas, usando a pandemia como tema.”
Além de ser atuante na internet, Raquel também vem criando murais. No mês passado, ela fez uma pintura por encomenda do Sesc Palladium. “Tenho trabalhado o grafite com menos intensidade. Em meu site, há coisas para colorir e material para download. É legal, porque as crianças estão em casa e os professores precisam de material”, comenta.
FESTA
Agora ela está preparando a comemoração do aniversário de seu famoso personagem Bolinho. “Não será como nos anos anteriores, com pinturas, exposições e festas. Planejei várias atividades para as pessoas participarem de casa. É só entrar no nosso site para ver”, ela convida.Tot é grafiteiro há 20 anos. “Tenho origem na rua mesmo, aprendi a pintar sozinho. No mundo do grafite, tem muito dessa coisa de um aprender com o outro”, diz. Além de grafites, ele faz pinturas decorativas.
Quando começou a pandemia, ele teve de lidar com o adiamento e o cancelamento de projetos. A quarentena obrigou Tot a se reinventar, pintando telas e customizando jaquetas.
Foi complicado ficar em casa, longe dos murais. “Fiz parte de um projeto legal, o Arte pela Cesta. Juntamos 40 artistas, cada um doou uma tela e elas foram trocadas por cestas básicas, doadas para pessoas carentes”, diz.
De um tempo para cá, novos trabalhos estão aparecendo. “Alguns projetos foram retomados, como o painel que fizemos nos tapumes da Arena MRV, onde será construído o estádio do Atlético. Pintei o jogador Ronaldinho”, conta.
Depois desse trabalho, Tot fez outros três. “Nos próximos dias, farei outro, mas desta vez é uma decoração de interiores.”
Entre os trabalhos adiados de Tot há pinturas para decorar bares, pubs e escolas. “Como as atividades foram interrompidas, acredito que proprietários estão segurando o investimento. Resta esperar mais um pouco”, conforma-se. Ele se diz “meio desligado da internet”, mas exibe suas criações nas redes sociais.
Um dos trabalhos recentes de Clara foi o mural da Funarte, no Centro de BH, em homenagem à artista plástica Yara Tupynambá.
“Fiz em junho. O projeto surgiu em meio à pandemia, mas tomamos os devidos cuidados, pois não tinha como adiá-lo. Éramos eu, outros grafiteiros e artistas plásticos”, diz Clara.
No momento, ela está concluindo um trabalho para o programa Desvios, no Sesc Palladium, iniciado no fim de março. “Eles convidaram vários grafiteiros para pintar lá. Quando o espaço reabrir, o projeto será inaugurado”, afirma.
SURPRESA
Grafiteiro há 15 anos, Alexandre Rato foi pego de surpresa pela pandemia. “Como sou tatuador, tive de recorrer a essa outra profissão. Mas não deixei de trabalhar com grafite, fiz em locais onde não havia nenhum tipo de aglomeração, basicamente em lojas e murais”, conta. “Tive que vender quadros, fazer ilustrações para livros”, revela.Assim como Tot, Rato participou do projeto que convidou grafiteiros a pintar tapumes da obra da Arena MRV, em julho. “Cheguei a fazer lives no Instagram para interagir com a galera. Apesar da pandemia, continuo na ativa e as propostas voltaram a surgir. Recentemente, fiz um mural na cidade de Rio Branco. Felizmente, as coisas estão se normalizando”, acredita.