Jornal Estado de Minas

ENCONTROS VIRTUAIS

Washington Olivetto diz que pandemia é 'bronca' da natureza


Adaptada às recomendações de distanciamento social, a edição virtual desta quarta-feira (26) do Sempre um Papo promove um encontro aparentemente inusitado. Nela, juntam-se ao jornalista e escritor Afonso Borges o publicitário Washington Olivetto e o cantor, compositor e ator Seu Jorge. Apesar de serem crias de áreas diferentes, ainda que igualmente criativas, os dois convidados compartilham um ponto em comum: a comunicação.





''O Seu Jorge é um artista completo, que tem uma noção de mercadologia muito grande'', avalia Olivetto, de Londres, em entrevista por telefone. Um dos nomes mais laureados da publicidade brasileira, ele é o criador de campanhas de sucesso, como a ''O primeiro sutiã'', da Valisere, e a ''Garoto Bombril''. Tornou-se um dos principais empreendedores da propaganda nacional ao fundar, em 1986, a agência W/GGK – que, mais tarde, se transformaria na icônica W/Brasil – que, inclusive, virou refrão de hit de Jorge Ben nos anos 1990.

No encontro, que será ao vivo, a partir das 18h, via YouTube, Instagram e Facebook do projeto, eles debaterão em torno do tema ''Comunicação, música e cinema''. ''Mais do que nunca, a comunicação precisa valorizar hoje o que é a sua essência, ou seja, a grande ideia. Nos últimos anos, assistimos a uma ampliação das possibilidades, mas uma coisa não mudou: sem uma grande ideia, não acontece nada. E isso vale para a publicidade, para o cinema, para a música, para tudo'', diz Olivetto.

Com seu olhar clínico de quem construiu uma carreira de mais de cinco décadas, ele acompanha as grandes mudanças no mercado de publicidade. A mais recente, que ocorre desde o início da pandemia, se reflete na abordagem que as marcas dão para os seus discursos.





''As empresas que melhor comunicam perceberam que não é o momento de vender, mas de informar. As melhores do mundo perceberam isso. Quem também está fazendo um papel muito importante é o jornalismo de boa qualidade, atuando sob a ótica da informação para não permitir que a população seja vitimada'', avalia.

Desde 2017, Olivetto mora em Londres com a mulher, Patrícia, e os filhos Antônia e Theo. De lá, ele acompanha as notícias do Brasil e conta que os ingleses veem com espanto o atual momento político que o país atravessa. ''As pessoas pura e simplesmente não acreditam que o Brasil, sempre visto como um país da doçura, nos últimos anos tem se manifestado com tanto amargor.''

Para ele, além de Jair Bolsonaro, o presidente norte-americano, Donald Trump, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, são os três chefes de Estado que agiram de forma mais imprudente durante da pandemia. ''O Boris reconheceu o erro rapidamente, mudou seu ponto de vista e decretou o confinamento. Por uma questão de bom senso, ninguém tirou proveito político disso. Nenhum concorrente o criticou, por exemplo. Um dia depois, recebi em casa uma espécie de manual de instruções sobre como me comportar durante esse período. Além do isolamento, o governo também sugeriu a realização de exercícios físicos, tanto que, mesmo isolado, saía para caminhar em torno de 4 a 5 quilômetros por dia'', conta.





Atualmente, ele segue confinado, só que por ter passado férias na Itália e na França. Em Londres, a recomendação é que as pessoas que chegam do país francês fiquem em quarentena por 14 dias.

''Eu me preparei para conviver com a pandemia, respeitei o distanciamento e o isolamento. Disciplinadamente, não saí de casa, mas mantive minha rotina de trabalho habitual. Quando esse problema for finalizado, certamente algumas mudanças já terão acontecido, mas não creio que elas sejam tão radicais quanto as pessoas estão pensando. Por exemplo, há uma
ampliação do público via digital. O que antes era uma coisa dos mais jovens, agora passou a ser um gesto de todos'', aponta.



NOVO NORMAL

Ele também prevê que em algumas profissões, como na publicidade, o home office tende a se ampliar. ''Na minha área, ficou bastante claro que os clientes não queriam as gorduras das agências. Durante a pandemia, eles querem conversar com quem manda ou quem teve a ideia. O tamanho das agências deve diminuir, não só em relação aos espaços físicos.''





Apesar disso, Olivetto renega a expressão “novo normal”, que se refere ao mundo pós-pandemia. ''Acho que é uma daquelas que todo mundo repete só porque é nova. A gente estava vivendo um velho anormal e dá para imaginar que essa pandemia é uma espécie de bronca que a natureza resolveu dar em todos nós, em todos os lugares do mundo.''

O motivo para tal punição, segundo ele, é a maneira como a sociedade tem tratado o meio ambiente. Apesar de cético em relação às grandes mudanças, Washington Olivetto ainda reserva uma ponta de esperança para quando a pandemia passar. ''Será a continuidade de uma vida com mais bom senso'', acredita.

SEMPRE UM PAPO
Com Washington Olivetto e Seu Jorge. Mediação: Afonso Borges. Live nesta quarta-feira (26), às 18h,  com transmissão no YouTube, Facebook e Instagram do projeto (@sempreumpapo)