Alta fidelidade (1995), primeiro e mais conhecido romance do escritor britânico Nick Hornby, sobrevive muito bem 25 anos depois de lançado por uma simples razão. A procura do amor – quer tema mais universal? – sob o viés da cultura pop. Dono de uma loja de discos quase falida desfia seus fracassos amorosos através de listas de músicas.
Vinte anos atrás, tal história permitiu uma bem-sucedida adaptação cinematográfica homônima, dirigida por Stephen Frears, com John Cusack no papel principal, como Rob. Também em 2000, o Brasil assistiu a uma impactante versão teatral, A vida é cheia de som e fúria, de Felipe Hirsch. Tanto tempo depois, o tema não se esgota.
VINIL
High fidelity, série que estreia nesta quinta-feira (10) na plataforma Starzplay, traz a mesma história, mas sob o ponto de vista feminino. Zoë Kravitz, em alta desde sua participação em Big little lies, encarna Rob Brooks, a proprietária da Championship Vinyl, uma loja dedicada aos vinis no descolado Brooklyn dos dias de hoje.
Apostando sempre na quebra da quarta parede, com a personagem falando diretamente para a câmera, logo no início Rob anuncia seu atual desamor. O namorado Mac (Kingsley Ben-Adir) acaba de lhe dar um fora. Deixa o apartamento de mala e cuia e vai para Londres. Desesperada, Rob abre a janela do passado e faz uma lista dos cinco piores términos de sua vida.
É nessa toada que o primeiro episódio transcorre. Rob revê as cinco tragédias amorosas de sua vida – desde a infância –, de forma irônica e por vezes autodepreciativa. Concomitantemente, acompanhamos a personagem nos dias atuais, passado um ano do fora que levou de Mac.
Moradora de um apartamento tão descolado e desarrumado quanto sua loja de discos (há um quê de anacrônico na personagem, vale dizer), ela está há um ano sozinha simplesmente porque não quer sofrer.
Mal-humorada, se irrita com as confusões que seus dois funcionários – Simon (David H. Holmes), que Rob chegou a namorar antes de ele sair do armário, e Cherise (Da’Vine Joy Randolph) – aprontam na loja sempre que um cliente desavisado (leia-se: que não entende de música) resolve dar as caras.
Mas numa noite resolve dar chance, ainda que a contragosto, a outro cara. A falta de química é evidente entre Rob e Clyde (Jake Lacy), chegado há pouco em Nova York. Ela ensaia um sumiço, mas se vê obrigada a voltar para o bar. O que sai daí a série vai acompanhar.
TRILHA
A música, para iniciados na obra de Nick Hornby, é essencial. A lista de acontecimentos na vida de Rob acompanha também uma lista de canções. Só no episódio de estreia são 19. Algumas ganham passagens, como Pink moon, de Nick Drake, e Noite preta, do pernambucano Lula Côrtes.
Outras são como personagens da narrativa, caso de Dreams, do Fleetwood Mac, que motiva Rob a desfiar, no encontro com Clyde, os bons e maus momentos do álbum Rumours (1977), clássico da banda de onde a canção foi tirada.
Ainda que a protagonista feminina mude o foco da narrativa de High fidelity, a série, de maneira geral, segue bem a cartilha de Nick Hornby. Seja por nostalgia, pois mesmo nos dias atuais a produção tem um quê de anos 1990, seja para quem chega agora e não conheça nada na história, a série deve ser acompanhada com o som da TV no máximo volume possível.
HIGH FIDELITY
Série com 10 episódios. Estreia nesta quinta-feira (10), na Starzplay. Um novo episódio será lançado por semana