No Brasil há menos de um ano e com catálogo pequeno se comparado aos da Netflix e da Prime Video, a plataforma de streaming Starzplay tem bons títulos para maratonar. Escondido entre sucessos de 2020, como Normal people e The great, está Mr. Mercedes. Só a ficha técnica já merece atenção.
A série é uma adaptação da trilogia homônima assinada por Stephen King, aqui também atuando como produtor-executivo. David E. Kelley, papa da TV americana (são dele Ally McBeal e Big little lies), é o criador da atração, que ainda se destaca pelo elenco irrepreensível, capitaneado pelo ator irlandês Brendan Gleeson. Lançadas entre 2017 e 2019, as três temporadas, com 30 episódios, estão disponíveis na plataforma.
DETETIVE
Publicado originalmente em 2014, Mr. Mercedes é considerado o primeiro título de detetive da longa e prolífica carreira literária de Stephen King. O volume foi acompanhado de outros dois, Achados e perdidos e Último turno. No Brasil, a trilogia chegou integralmente em 2016 pela Suma, selo da Companhia das Letras dedicado ao terror, sci-fi e fantasia.
A adaptação televisiva subverte a ordem: o segundo livro virou a terceira temporada e o terceiro volume a temporada de número dois.
Desta vez, não é a mitológica (e ficcional) Castle Rock, no Maine, o cenário. King deixou seu cenário costumeiro para ir a uma cidade como outra qualquer, Bridgton, Ohio. Certa noite, um jovem local rouba uma Mercedes e, portando máscara de palhaço, atropela propositalmente dezenas de pessoas, que na madrugada formavam fila para conseguir emprego temporário numa feira municipal. Dezesseis delas, incluindo um bebê, morrem.
A série é aberta com essa sequência, filmada com tamanha riqueza de detalhes que o horror é imediato. Dois anos mais tarde, o detetive responsável pelo caso, Bill Hodges (Gleeson), mais parece uma vítima do crime. Aposentado antecipadamente porque não solucionou o caso, vive sozinho (sua única companhia é o cágado Fred), deprimido e à beira do alcoolismo. Só que Mr. Mercedes, o apelido que o assassino ganhou, faz contato com ele.
Desacreditado entre os antigos colegas, Hodges resolve ir sozinho atrás do criminoso. Por sua vez, esse é o estereótipo do americano empobrecido dos rincões dos Estados Unidos. Brady Hartsfield (o britânico Harry Treadaway) mora com a mãe numa casa miserável. Tem relação de amor e ódio com a figura materna, que não se furta a abusar dele. A despeito da inteligência, não teve chances de entrar na universidade. Sobrevive como técnico de informática da loja local e vendedor de sorvetes.
Contar mais é entregar o jogo. Fato é que a primeira temporada de Mr. Mercedes se desenvolve como uma corrida de gato e rato.
Como estamos falando de uma obra de Stephen King, há várias questões mais profundas permeando o thriller. São observações sobre a América profunda, os que têm e os que não têm chance; todas as personagens trazem diferentes nuances, ninguém é de todo bom ou ruim.
MÚSICA
No entorno há ainda a trilha sonora deliciosa (Leonard Cohen, Black Keys, R.E.M.) e personagens secundários que vão crescendo à medida que a narrativa avança. Destacam-se Holland Taylor, que vive Ida Silver, a vizinha que quer levar Hodges para a cama, e Justine Lupe, que interpreta Holly Gibney, a garota problemática que vira uma espécie de filha do detetive.
Ainda que com os mesmos personagens e o mesmo pano de fundo, as três temporadas de Mr. Mercedes têm diferentes tons. Se a primeira se dá em clima de thriller policial, a segunda recai para o lado sobrenatural (uma das assinaturas de King), e a terceira transita entre o humor e o slasher, subgênero do terror que garante grandes banhos de sangue.
MR. MERCEDES
As três temporadas da série, com 30 episódios, estão disponíveis na Starzplay