Transformar o que é expresso na teoria em ação, na experiência pessoal da escritora Fernanda Young (1970- 2019). Assim a atriz e diretora paulista Mika Lins define o monólogo Pós-F, no qual ela dirige a atriz Maria Ribeiro, que se apresenta no palco do Teatro Porto Seguro para um público remoto (a encenação é transmitida via plataforma Vimeo), nos fins de semana, até o próximo dia 4 de outubro.
Amiga de Young, Maria Ribeiro conta que as duas tinham muito em comum, principalmente no fato de quererem fazer uma porção de coisas. “Fernanda era escritora, desenhista, atriz, chegou a cursar quatro faculdades e gostava muito de dirigir. Confesso que também tenho um pouco disso. Procuro fazer um monte de coisas, como atuar, dirigir documentários e escrever, mas reconheço que sou essencialmente atriz. Já ela era essencialmente escritora.”
Ainda sobre seus pontos de contato e distanciamento com Fernanda Young, Maria Ribeiro diz: “Obviamente, todo mundo é muito particular, mas Fernanda carregava consigo aquela coisa do ‘que se dane o que pensam de mim’. Eu já carrego comigo aquela coisa de querer ser amada, aquela coisa de atriz. Ela tinha uma relação com o feminismo muito bonita. Fernanda sempre foi muito feminista e abriu caminho para muitas mulheres, somente sendo quem ela era”.
De acordo com a atriz, a escritora, morta precocemente no ano passado, aos 49 anos, quando estava prestes a estrear uma peça de teatro e teve uma crise de asma na cidade mineira de Gonçalves, não gostava de fazer parte da moda.
“Ela questionava isso, o feminismo da moda. Eu achava interessante Fernanda questionando essa questão do feminismo, problematizando. Muitos têm esse discurso de feminismo, mas, na prática, não o são. Ela realmente gostava das outras mulheres, torcia por elas, olhava para as diferenças. O espetáculo é muito mais pós-Fernanda do que pós-feminismo. Para nós, a peça virou Pós-F, de pós-Fernanda.”
BATE-PAPO
Depois de cada espetáculo, a atriz promove um bate-papo com pessoas que conviveram com Fernanda Young, como Mika Lins, o fotógrafo Bob Wolfenson, a agente literária Eugênia Ribas Vieira e Alexandre Machado, viúvo e também parceiro intelectual da escritora.
O solo é inspirado no livro Pós-F, para além do masculino e do feminino (2018), que venceu o Prêmio Jabuti 2019. Esse foi o primeiro trabalho de não ficção de Young, no qual ela trata de temas como feminismo, machismo, assédio, maternidade e o amor.
Segundo Mika Lins, “é um espetáculo que fala sobre Fernanda, já que ele é livremente inspirado em um livro dela. Fala um pouco sobre suas ideias, sobre o que pensava das coisas, mas passando pelo filtro da Maria. Enfim, sobre o que a gente achava interessante e coisas que nos marcaram”.
A diretora conta que o espetáculo acabou sofrendo algumas transformações. “Primeiro, porque ele seria feito pelas duas, mas depois que Fernanda partiu passou a ser feito somente pela Maria. Com a pandemia, ele agora está sendo feito somente em audiovisual. Esse é um desafio que colocamos dentro do espetáculo, com essa de não termos plateia, de estarmos fazendo uma arte coletiva em tempos de pandemia.”
Para compor o cenário, Mika conta que pediu para Stella,uma das filhas de Fernanda, que fizesse alguns desenhos para serem colocados num móbile. “Ele é composto por 80% de desenhos da própria Fernanda, uns 15% meu e o restante de Stella, que deu assim a colaboração para o espetáculo.”
PÓS-F
Monólogo com Maria Ribeiro, inspirado no livro homônimo de Fernanda Young. Direção: Mika Lins. Sábados e domingos, às 20h, via plataforma Vimeo. Até 4/10. Ingressos a partir de R$ 20, com 20% da bilheteria doados a instituições de apoio à classe artística.. Vendas pelo site www.tudus.com.br.