Ele foi o primeiro festival da América Latina a mudar sua agenda em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Em 16 de março passado, cinco dias após a declaração do surto mundial da COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde, o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentário anunciou que sua edição comemorativa de 25 anos seria parcialmente adiada.
No fim daquele mês, quando estava previsto para ser realizado presencialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, o evento, o mais importante do gênero do país, realizou uma primeira etapa, exclusivamente virtual. Nesta quarta-feira (23), ele dá início à segunda, também por meio de plataformas digitais. Somadas as duas etapas, o evento exibirá 91 documentários.
É na franja da programação, que vai até o próximo 4 de outubro, que ocorrerão as competições nacionais e internacionais de curtas e longas-metragens. Com a mudança para o ambiente digital, houve alguns acréscimos, como a inclusão de um filme de encerramento. Wim Wenders – Desperado, documentário de Eric Fiedler e Campino sobre a vida e a obra do cineasta alemão, que chegou aos 75 anos neste 2020, terá uma première no último dia do festival.
Criador do É Tudo Verdade, Amir Labaki comenta a evolução do streaming e da produção de festivais on-line em seis meses de pandemia. “Em março, ninguém estava preparado para realizar eventos profissionais internacionais em streaming. Quando a pandemia acabar, sairemos mais vigorosos, já que as plataformas estarão muito mais profissionais, amigáveis e seguras”, diz ele.
Uma das questões que Labaki afirma ter aprendido foi que agilidade e transparência “são tudo” no universo digital. “O lado mais fácil é que você assiste de casa. O lado ruim é que quando não funciona a agilidade tem que ser grande.”
De acordo com ele, a navegação do site do festival (onde a maior parte da programação será exibida) está mais simples do que a da primeira versão do evento. Há ainda uma parte da programação disponível na plataforma Itaú Cultural, incluindo mostras e a Conferência Internacional dos Documentários.
Dos filmes em competição, somente três títulos previstos originalmente não serão apresentados. Como um evento internacional e competitivo, o É Tudo Verdade tem seguido o modelo de exibição acordado entre outros festivais do gênero.
Há um limite de visualizações de cada título (1 mil para filmes internacionais e 1,5 mil para os nacionais), além de horários predeterminados. “Festival é plataforma de lançamento, não é plataforma de distribuição. A ideia não é esgotar o público, mas dar visibilidade para os filmes”, afirma.
Nesta segunda etapa, serão exibidos 61 títulos. A programação do É Tudo Verdade se estabelece por diferentes eixos. Os filmes em competição formam a maior parte da programação do evento, mas há sessões especiais e temáticas.
VENCEDORES
Os títulos vencedores do 25º É Tudo Verdade qualificam-se para a disputa do Oscar. Entre as produções nacionais, predominam dois grupos temáticos: filmes biográficos centrados em personagens célebres e documentários de cunho político.
Os títulos vencedores do 25º É Tudo Verdade qualificam-se para a disputa do Oscar. Entre as produções nacionais, predominam dois grupos temáticos: filmes biográficos centrados em personagens célebres e documentários de cunho político.
Primeiro documentário de Clarice Saliby, Boa noite acompanha a trajetória do apresentador Cid Moreira. Aos 91 anos, é o próprio dono da voz que dominou o telejornalismo brasileiro por quase três décadas que relata sua história, com farto material de arquivo. Jair Rodrigues – Deixa que digam, de Rubens Rewald, faz um retrato do cantor, morto em 2014.
Já Os quatro Paralamas, de Roberto Berliner e Paschoal Samora, mostra o caminho da banda Os Paralamas do Sucesso desde sua formação, no início dos anos 1980, dando ênfase à figura do empresário José Fortes, que é considerado o quarto integrante do grupo. Berliner é muito próximo da banda, tendo dirigido o documentário Herbert de perto (2009).
POLÍTICA
Na seara política, com a ditadura militar como contexto, destacam-se Fico te devendo uma carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin, que mostra três gerações de uma família marcada pelo período militar (1964-1980) e Libelu – Abaixo a ditadura, de Diógenes Muniz, que busca mostrar, tantas décadas mais tarde, o que ocorreu com os jovens que foram às ruas contra os generais, ainda nos anos 1970.
Na seara política, com a ditadura militar como contexto, destacam-se Fico te devendo uma carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin, que mostra três gerações de uma família marcada pelo período militar (1964-1980) e Libelu – Abaixo a ditadura, de Diógenes Muniz, que busca mostrar, tantas décadas mais tarde, o que ocorreu com os jovens que foram às ruas contra os generais, ainda nos anos 1970.
Entre os longas internacionais em competição, vários dialogam com momentos de forte impacto político-social de seus respectivos países. O argentino 1982, de Lucas Gallo, revê a Guerra das Malvinas a partir do ponto de vista da imprensa internacional, em especial do programa americano de TV 60 Minutos.
Colectiv, do romeno Alexander Nanau, parte do incêndio na boate de Bucareste que dá nome ao filme (tragédia que matou 27 pessoas e feriu 180) para revelar uma imensa fraude no sistema de saúde daquele país. O documentário Pão amargo, de Abbas Fahdel, apresenta a rotina de um campo de refugiados sírios no Líbano.
É TUDO VERDADE – FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIOS
Desta quarta-feira (23) a 4 de outubro. Programação e sessões no site do festival. Todas as sessões têm horários e limite de visualizações. A programação da Conferência Internacional dos Documentários estará disponível no Itaú Cultural. Cinco documentários desse programa ficarão disponíveis durante todo o período do festival, sem limite de visualizações.
NÃO PERCA
Confira destaques entre os 61 títulos que serão exibidos até o próximo dia 4
A cordilheira dos sonhos (2019), de Patricio Guzmán
Única produção chilena selecionada para o Festival de Cannes de 2019, de onde saiu com o prêmio Olho de Ouro de melhor documentário, o filme encerra a trilogia do veterano cineasta, radicado há 40 anos na França. Nos três filmes, Guzmán mergulha na realidade do Chile – os anteriores foram Nostalgia da luz (2012) e O botão de pérola (2015). Em A cordilheira dos sonhos, ele entra na memória dos crimes cometidos contra o povo chileno na ditadura Pinochet (1973-1990) a partir dos Andes, uma espécie de “coluna vertebral” de seu país.
>> Nesta quarta (23), às 20h30, e na quinta (24), às 15h
UnB – Utopia distopia (2020), de Jorge Bodanzky e Bruno Caldas
Novo filme do veterano cineasta ficou pronto durante a pandemia. No documentário, Bodanzky recorre às suas memórias afetivas do período em que estudou na Universidade de Brasília para apresentar um painel da juventude na década de 1960, com seus sonhos e expectativas, suas crises e projetos interrompidos. O registro traz múltiplos suportes – no material de arquivo há imagens captadas em Super-8, por exemplo. Já as entrevistas dos dias atuais foram feitas com um iPhone. Até 5 de outubro será exibido pela plataforma Itaú Cultural o documentário Volkswagen – Operários na Alemanha e no Brasil (1974), que Bodanzky dirigiu com Wolf Gauer.
>> 26 de setembro (sábado), às 11h (no mesmo dia, às 16h, será exibida entrevista com Bodanzky)
Wim Wenders, Desperado (2020), de Eric Fiedler e Campino
Aos 75 anos, um dos principais nomes do Novo Cinema Alemão ganha um documentário sobre sua vida e obra. Os diretores utilizaram material inédito de arquivo, além de encontros com artistas que fizeram parte da trajetória de Wenders. São eles Francis Ford Coppola, Willem Dafoe, Andie MacDowell, Ry Cooder, Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), Patti Smith e Werner Herzog. A partir de Düsseldorf, sua cidade natal, passando por lugares como Paris e o deserto do Texas, o filme reúne locações icônicas e momentos decisivos no trabalho do cineasta.
>> 4 de outubro, às 20h
*Filmes fora de competição