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Com história de enfermeira perversa, 'Ratched' é a 'Coringa' das séries

Mocinhas e mocinhos podem até ser cativantes, mas a história do cinema já provou que os vilões ficam para sempre. Tanto é assim que se tornaram comuns produções que abordam o passado desses personagens ou, melhor dizendo, expõem a ferida que os transformou em indivíduos perversos. 





Coringa (2019), de Todd Phillips, é um bom exemplo disso, assim como Malévola (2014), de Robert Stromberg. São filmes que, além de dar aos vilões a estatura de anti-heróis equivalentes aos “mocinhos”, até justificam as maldades que praticam.

Ratched, série recém-chegada ao catálogo da Netflix, entra para essa seara resgatando a história da icônica enfermeira do clássico Um estranho no ninho (1975), de Milos Forman, interpretada originalmente por Louise Fletcher, que levou o Oscar de melhor atriz pelo papel.

No longa de Forman, a personagem é uma mulher fria, vingativa e calculista, que trabalha num hospital psiquiátrico e manipula os pacientes, valendo-se do medo como mecanismo de controle.

HOSPITAL
 Criada por Ryan Murphy, a série tem início em 1947, no pós-Segunda Guerra Mundial e 16 anos antes dos eventos do filme. A produção acompanha a evolução dos dias de Mildred Ratched no hospital, desde sua chegada até a tomada de controle da instituição. 





Atriz recorrente nas produções assinadas por Murphy, Sarah Paulson interpreta a protagonista com maestria e imprime nova identidade à misteriosa personagem, cujas motivações vão sendo apresentadas aos poucos, no decorrer dos oito episódios da primeira temporada.

O pontapé inicial da produção se dá quando Edmund Tolleson (Finn Wittrock) mata, de forma bastante brutal, três padres que moram juntos na Califórnia. O assassino é transferido para um hospital psiquiátrico dirigido pelo estranho Dr. Hanover (Jon Jon Briones) e supervisionado pela rigorosa enfermeira Bucket (Judy Davis). 

Com pouco caixa, a instituição busca obter fundos do governador (Vincent D'Onofrio) e quer dar um bom exemplo para a sociedade com a reabilitação de Edmund, evitando sua condenação à morte.





SUBTRAMAS 
É nesse meio que Mildred aparece, exibindo suas credenciais de enfermeira de guerra. No entanto, seus motivos para querer trabalhar no hospital são mais pessoais do que parecem.

Também há todo um amontoado de subtramas e personagens secundárias que ajudam a construir a atmosfera insana da série. Sharon Stone, por exemplo, interpreta Lenore Osgood, a mãe vingativa de um jovem que mutilou os próprios braços com a ajuda de Hanover. Já Sophie Okonedo é um dos destaques no papel de Charlotte Wells, uma paciente com múltiplas personalidades.

Mas esta é a história de Mildred Ratched e os elementos que a narrativa traz são suficientes para compreender sua trágica história de vida, que vem à tona no sexto episódio, por meio de um show de marionetes; bem como sua sexualidade conflituosa, retratada no relacionamento secreto com Gwendolyn Briggs (Cynthia Nixon). No final, é plausível concluir que o desejo da personagem de ajudar as pessoas foi corrompido em algum momento.





A assinatura de Ryan Murphy é facilmente identificável. Ratched é colorida, a direção de arte e a caracterização são impecáveis e a produção emula o cinema clássico. Trilha sonora (usada exageradamente, numa tentativa fracassada de reproduzir os filmes de Alfred Hitchcock), enquadramentos e transições ecoam o cinema hollywoodiano dos anos 1960, não muito diferente de Hollywood, outra série de Murphy para a Netflix. A produção também carrega o contumaz clima de tensão sexual entre os personagens, já visto em outros trabalhos do produtor e diretor.

Ratched é, portanto, um prato cheio para os fãs de Ryan Murphy, principalmente aqueles que se deliciaram com o clima tenso da temporada Asylum (2012) de American horror story. Ainda que a abordagem dada a algumas doenças mentais seja bastante caricata, a produção se mostra como um bem-sucedido estudo de personagem – e os louros são todos de Sarah Paulson. 

Em entrevista ao site Collider, a atriz revelou que insistiu para ser escalada na produção. ''Ele (Murphy) me disse: 'Não sei se você vai querer . Você tem que considerar a atuação quase perfeita e digna de uma vencedora do Oscar. Não sei se você vai querer se aventurar nisso'. E eu disse: 'Se eu não interpretá-la, vou ter um ataque de raiva na rua''', contou. 





A parceria dos dois começou num episódio de Nip/Tuck, atravessa oito das nove temporadas de American horror story e segue em outros projetos, como na minissérie Feud: Bette and Joan (2017). 

Por sua interpretação de Marcia Clarke em The people v. O. J. Simpson: American crime story, ela conquistou prêmios importantes, como o Globo de Ouro e o Emmy. E tudo indica que na próxima edição dessas premiações o nome de Sarah Paulson não ficará de fora. 

Parceria com a Netflix
Além de Ratched, Hollywood e The politician, Ryan Murphy já tem mais outros dois projetos confirmados com a Netflix. Um deles é a minissérie Halston, ainda sem previsão de estreia. Estrelada por Ewan McGregor, a produção mostrará a trajetória do estilista Roy Halston Frowick, que ganhou fama internacional na década de 1970 com sua proposta minimalista. Além disso, o showrunner irá adaptar o musical A chorus line para a plataforma de streaming, também no formato de série com 10 episódios.

RATCHED
A primeira temporada da série, com oito episódios, está disponível na Netflix. 

O UNIVERSO DE RYAN MURPHY 
Confira outras produções com a assinatura do criador de Ratched
(foto: Fotos: Fox/Divulgação)

Nip/Tuck (2003-2010)
A série segue a vida de dois cirurgiões plásticos proprietários de uma clínica. Um deles é Sean McNamara (Dylan Walsh), que tem problemas em casa e tenta manter sua família unida, fazendo o possível para corrigir o duro caminho que ele e sua esposa, Julia (Joely Richardson), estão enfrentando. O outro, Christian Troy (Julian McMahon), usa seu charme para seduzir candidatas em potencial e realiza negócios obscuros. Enquanto o primeiro leva o trabalho a sério, muitas vezes precisa corrigir alguns erros de Christian. 
As seis temporadas estão disponíveis na Globoplay. 

American horror story (2011-)
Tradicionalmente lançada às vésperas do Halloween estadunidense, a série antológica não terá uma temporada inédita pela primeira vez em quase 10 anos. Adiada para 2021 em razão da pandemia da COVID-19, a décima temporada consagra uma produção que nasceu em 2011 e abordou diferentes temas, como uma seita de bruxas contemporâneas (Coven, 2013); um circo de aberrações (Freak show, 2014); um hotel mal-assombrado (Hotel, 2015) e até a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos (Cult, 2017).




As nove temporadas estão disponíveis na Globoplay. 

American crime story (2016-)
Uma espécie de spin-off de American horror story, nesta outra série antológica Ryan Murphy explora crimes reais. A primeira temporada, The people vs. O. J. Simpson, apresenta o julgamento do atleta O. J. Simpson, acusado de matar a própria esposa. A segunda, The assassination of Gianni Versace, explora o assassinato do estilista Gianni Versace, cometido pelo serial killer Andrew Cunanan. Já estão encomendadas uma terceira e uma quarta temporadas, sendo uma delas sobre o impeachment de Bill Clinton. 
A primeira e a segunda temporadas estão disponíveis na Netflix.