Jornal Estado de Minas

SÉRIE

HBO lança a série política 'Pátria' neste domingo (27)


Em outubro de 2011, o grupo separatista basco ETA (Euskadi ta Askatasuna em basco, Pátria Basca e Liberdade em português) anunciou o fim de sua ação armada. Ativa por meio século, a guerrilha que exigia a independência da região dividida entre o Norte da Espanha e o Sul da França foi responsável por mais de 800 mortes. Já em seu final, o conflito estava bastante enfraquecido, com centenas de membros presos.





Pois o que parecia o fim é justamente o começo da minissérie Pátria, produção espanhola da HBO que estreia neste domingo (27). Em oito episódios, a série adapta o romance homônimo do escritor basco Fernando Aramburu, volume de 500 páginas, lançado no Brasil em 2019 pela editora Intrínseca. 

Ainda que o conflito armado seja a razão de ser da narrativa, o que está em foco são as consequências entre os que participaram dele, tanto ativa quanto passivamente. Duas famílias de uma pequena cidade basca, outrora íntimas, tornam-se inimigas em consequência do terrorismo. A série acompanha 30 anos dessas complicadas relações.

Em seu apartamento, Bittori (Elena Irureta), ainda sonolenta, se despede do marido Txato (José Ramón Soroiz). A chuva lá fora não consegue abafar o ruído da arma de fogo. Sobressaltada, Bittori se levanta e vai para a janela, onde vê o corpo do marido estendido na rua. 





Muitos anos mais tarde, essa mesma mulher, já idosa, acompanha pela TV de casa o anúncio do fim do ETA. Nesse momento, a viúva decide voltar para seu vilarejo de origem. Seu retorno tem um único objetivo: descobrir quem apertou o gatilho.

VIÚVA

Entre flashbacks engenhosos, Pátria vai descortinando a trajetória de Bittori e dos que a cercam. Sua volta à cidade natal não é tranquila. São várias as pessoas que acham que a viúva de Txato, antigo empresário local, não deveria estar ali. A mais incomodada é sua ex-melhor amiga Miren (Ane Gabarain).

De confidentes, as duas mulheres passaram a se desprezar mutuamente. Miren, que vive com o marido Joxian (Mikel Laskurain) e a filha Arantxa (Loreto Mauleón), que perdeu os movimentos e a fala após um derrame, é também mãe de Joxe Mari (Jon Olivares). Integrante do ETA, ele está preso há décadas.





Os filhos de Bittori e Txato também são contra o retorno da mãe ao local do crime. Xavier (Iñigo Aranbarri) é médico, o “homem mais triste do mundo”, na opinião de sua irmã, Nerea (Susana Abaitua), que nunca conseguiu viver no País Basco. 

A narrativa não traz respostas prontas. Em um primeiro momento, podemos entender que o cisma entre as duas famílias foi em decorrência do envolvimento de Joxe Mari com o terrorismo. Mas já no enterro de Txato eles não estavam presentes, o que dá a entender que havia algo além disso. 

Os dois capítulos iniciais disponibilizados para a imprensa vão mostrando que há muitos não ditos no drama. Por que Txato foi morto, já que ele estava colaborando (recebia cartas ameaçadoras do ETA) com a guerrilha? Qual o trauma que a população do vilarejo guarda da família? O que fica logo claro é o tamanho da ferida que o terrorismo impôs a essas pessoas. 

Com uma bem cuidada reconstituição de época, Pátria vai e volta no tempo sem parar. As interpretações são contidas, portanto, mais realistas, e a tensão é constante. Narrativa sobre perda que não faz juízo de valor, a minissérie mostra que a dor é comum a todos, independentemente de questões morais.

PÁTRIA
Minissérie em oito episódios. Estreia domingo (27), às 21h, na HBO e no HBO Go.