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Estado de Minas FOTOGRAFIA

O mineiro Aderi Costa revela a beleza oculta dos famosos

Gisele Bündchen, Isis Valverde, Alinne Moraes e Erika Januza, entre outras personalidades, posaram para o fotógrafo e dono do Studio do Cais. Pandemia adiou o lançamento do livro


27/09/2020 04:00 - atualizado 27/09/2020 08:04

 (foto: Maria Ferreira/divulgação)
(foto: Maria Ferreira/divulgação)

"Comecei a fotografar colegas nos ensaios, levava as imagens para casa para afinar nariz, tirar olheira, uma ruguinha aqui, outra ali. Usava o photoshop da pré-história, um lápis"

Aderi Costa, fotógrafo

Por longos quatros meses, de março a junho, o fotógrafo Aderi Costa, de 66 anos, ficou trancado no seu apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro. Temendo contrair o novo coronavírus, seguiu à risca os cuidados com a saúde. Por isso, fechou o Studio do Cais, no bairro do Santo Cristo, na zona portuária da capital fluminense. Com 1,8 mil metros quadrados e inaugurado no fim da década de 1980, o espaço é um dos mais importantes no setor de publicidade e cinema do país. “O estúdio vai sendo reaberto aos poucos, de acordo com os protocolos contra a COVID”, anuncia Aderi.

Isolado, o mineiro passou os dias na companhia de Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Valter Hugo Mãe, Fernando Pessoa e José Saramago. “Nunca li tanto, nunca tive tempo para ler... E continuo lendo”, diverte-se.
Alinne Moraes
Alinne Moraes

Apesar de fechar o Studio do Cais por quatro meses, Aderi conseguiu bancar os custos do espaço. “Como bom mineiro, sou prevenido”, avisa. A produção de gado de corte em sua fazenda em Cabrais, vilarejo próximo a Santo Antônio do Monte, na Região Centro-Oeste de Minas, ajudou a cobrir o déficit. “Não cheguei a capotar financeiramente, não mandei ninguém embora. Sobrevivi faturando pouco”, revela. A locação do espaço, mais recentemente, também é fonte de recursos.
Gisele Bündchen
Gisele Bündchen

Quando a pandemia chegou, o fotógrafo estava na mesa de edição com Gringo Cardia, diretor de arte de seu novo livro. Com 300 páginas, ele vai reuni 130 fotos produzidas pelo estúdio em um ano e meio de trabalho. Previsto para o semestre passado, o lançamento foi adiado.

“Não fosse o isolamento social, já estaria preparando o segundo livro”, conta o autor, que agora passa uma temporada em sua fazenda mineira.

A ideia de fotografar artistas e personalidades como elas são, longe do glamour do showbizz, remete aos tempos em que Aderi, aos 12 anos, trocou a roça pela cidade para ajudar Paulo Costa, o irmão retratista.
Isis Valverde
Isis Valverde

“Fazíamos muitas fotos em casas velhas, com pouca luz ou com a luz das janelas. Conseguíamos sempre o olhar espontâneo e expressivo das pessoas. Neste livro, quis retratar os artistas como fotografei aquelas pessoas há mais de 40 anos, o mais natural possível”, explica.

Aderi considera a busca pela beleza “uma coisa doida demais”, seja por meio de photoshop,  filtros de aplicativos de celular ou de intervenções, como é o caso das lentes aplicadas nos dentes. “Parece que (quem coloca) está com Mentex na boca”, critica. “Essa obsessão brasileira não faz sentido, é um absurdo, quase uma doença. Espero que seja uma coisa passageira.”
Andreia Horta
Andreia Horta

Em seu estúdio, o fotógrafo foi testemunha do arrependimento de várias mulheres bonitas que mudaram o rosto devido ao excesso de preenchimento. “Agora elas não sabem mais o que fazer”, observa. Aderi defende que todos devem assumir a passagem do tempo. “Acho assustador quando as pessoas perdem a expressão.”
Dizendo-se cansado do mercado de publicidade, onde a busca da perfeição “é para enganar o consumidor”, Aderi quer se aposentar e viver de projetos autorais. Além do novo livro, ainda sem data de lançamento, ele já tem pronto outro projeto, mostrando os bastidores da São Paulo Fashion Week e da Fashion Rio, feira de moda que cobriu por 10 anos. Também guarda um livro ainda inédito com fotos antigas feitas no interior de Minas.

Homem da imagem, ele não é muito chegado às redes sociais. “As pessoas têm uma ansiedade absurda, postando-se o tempo todo”, critica. “Às vezes, dou uma entradinha, começo a ficar tonto e saio. Você deixa de viver se for ver rede social o dia inteiro. Mas tenho de ter notícia do que está acontecendo”, pondera.
Erika Januza
Erika Januza

BH  
Na adolescência, Aderi trocou Santo Antônio do Monte por Belo Horizonte. Com amigos, entre eles o artista plástico Miguel Angelo Gontijo, dividiu “apartamento com colchão no chão”, no Barro Preto. Apesar de formado em contabilidade, conseguiu o primeiro emprego na capital mineira em uma loja de artigos fotográficos, a Bom Foto.

Na mesma época, cursou o Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (TU/UFMG). Foi ali que Aderi deslanchou. “Comecei a fotografar colegas nos ensaios, levava as imagens para casa para afinar nariz, tirar olheira, uma ruguinha aqui, outra ali. Usava o photoshop da pré-história, um lápis, e ganhava um troquinho. Dormia à meia-noite e às seis estava de pé”, relembra.

No TU, descobriu-se péssimo ator ao participar das peças As bruxas de Salem e Grande sertão: Veredas, dirigidas por Aideé Bittencourt, então diretora da escola. “Morria de vergonha”, admite ele.

A fotografia virou a companheira inseparável. Pelas ruas, clicava o que lhe chamava a atenção. Participou de vários concursos. Com a imagem da irmã Tininha, posando de modelo, ele faturou o primeiro lugar em um evento promovido pela Foto Retes, loja tradicional de BH.

Na Jambalaya, famosa boate de BH nos anos 1970, Aderi conheceu a atriz Divana Brandão e se casou. “Com uma mão na frente e outra atrás”, os dois seguiram de fusquinha para o Rio de Janeiro. Eles tiveram um filho, Ian Costa, também fotógrafo.

O casamento não durou muito, mas Aderi se enturmou com o pessoal do cinema. Trabalhou fotografando cenas dos filmes Amante latino (1979), dirigido por Pedro Carlos Rovai (1979), e Menino do Rio (1982), de Antônio Calmon. Também assinou imagens de capas de discos de Moraes Moreira e Cauby Peixoto, entre outros cantores.

De 1985 a 1988, o mineiro morou na Europa, depois de enfrentar, aqui no Brasil, “uma fase ruim em que as coisas não andavam”. Quando retornou, fez análise “para segurar a cabeça”, alugou um espaço que se tornou referência para a publicidade e trabalhou com as maiores agências do Brasil.

Em 1989, Aderi pagou um preço barato pelo prédio onde funciona o Cais. O espaço, que conta também com estúdio médio de cinema, foi reformado e ganhou projeto do arquiteto Hélio Pellegrino.


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