Tradicional reduto de apaixonados pela sétima arte e único cinema de rua da capital mineira, o Cine Belas Artes BH passa por uma fase delicada. Fechado desde 18 de março devido à COVID-19, o espaço acumulou dívidas de impostos, aluguel e benefícios trabalhistas ao longo dos últimos meses. Sem fluxo de caixa, a solução encontrada para salvar o Belas foi lançar uma campanha de financiamento coletivo, que entra no ar nesta segunda-feira (28).
“Antes do coronavírus, a vida do Belas Artes já era difícil”, afirma Adhemar Oliveira, proprietário do cinema de arte do bairro de Lourdes, com 336 lugares. “Esses meses parados jogaram a gente na beira do precipício. Estávamos numa batalha para conseguir alguma forma de patrocínio, batemos na trave umas três vezes, mas as parcerias nunca foram firmadas. Já estava difícil, e com a paralisação das atividades ficou impossível.”
ALUGUEL Segundo ele, o Belas se endividou nos últimos anos porque passou pelo processo de digitalização. A isso somam-se despesas cotidianas, como o aluguel do prédio, que pertence ao Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e o pagamento aos 17 funcionários, cujos contratos de trabalho foram suspensos. Atualmente, eles recebem seguro-desemprego.
“A campanha também é uma forma de relembrar aos mineiros a importância de um cinema como o Belas Artes. Além de seu valor histórico, ele é um vetor na cena cultural da cidade e do país. Por ser cinema de rua, movimenta toda uma economia do entorno que não pode ser deixada de lado, como bares, restaurantes e outros aparelhos culturais da Praça da Liberdade”, explica Oliveira.
Além de cobrir as dívidas, a campanha pretende arrecadar recursos para manutenção, reparos, troca de poltronas, revestimento acústico e telas das três salas. O projeto será feito em três etapas. A primeira planeja arrecadar R$ 200 mil para garantir o não fechamento do espaço e a cobertura das despesas funcionais. A segunda, cuja meta é obter outros R$ 200 mil, tem o objetivo de renovar o interior do Belas Artes, principalmente com a compra de novos assentos. A terceira, no valor de
R$ 100 mil, é voltada para a modernização dos equipamentos de exibição.
A meta total é arrecadar R$ 500 mil. “O Belas Artes é um espaço valioso para o cinema brasileiro. Nossa programação não é dedicada aos blockbusters, mas a filmes independentes e de distribuidoras pequenas. Nos últimos anos, o cinema mineiro tem ganho muito espaço na programação, somos um dos poucos locais de Belo Horizonte que exibem essa produção maravilhosa e importante. Então, a cidade precisa estar atenta para não perdê-lo”, comenta Adhemar Oliveira.
Aberto em 1992, na Rua Gonçalves Dias, 1.581, o Belas Artes nasceu com o objetivo de remodelar a experiência cinematográfica do público belo-horizontino. Porém, com o passar dos anos, as instalações da edificação, assinada pelo arquiteto mineiro Sylvio Vasconcellos (1916-1979), construída na década de 1950, tornaram-se ultrapassadas.
PROTOCOLO Adhemar Oliveira não tem pressa em abrir as salas, mesmo que a Prefeitura de Belo Horizonte autorize o funcionamento. “Fizemos várias reuniões com a Secretaria Municipal de Cultura para o desenvolvimento de um protocolo de segurança bastante rígido. Não nos interessa ter fraquezas para receber o nosso público”, comenta.
Atualmente, o cinema e o café estão fechados. A Livraria do Belas realiza vendas on-line, com entrega e retirada de produtos.
“Queremos abrir no melhor momento, com instalações renovadas. As poltronas, que hoje são de tecido, pretendemos trocar por revestidas de couro sintético, o que vai colaborar para a higienização das salas. Tudo deve ser feito com muita cautela, não dá para reabrir correndo. Vamos dar tempo ao tempo, tentar mobilizar as pessoas para que o Belas Artes não feche e possa reencontrar seu público de cara nova. Daí em diante, a gente vê o que será. Mas já adianto que o próximo investimento será em programação”, conclui Adhemar Oliveira.
Para saber mais sobre a campanha acesse benfeitoria.com/soscinebelasbh.