Frederico Gandra*
A sitcom Schitt’s Creek foi a grande estrela do Emmy 2020, principal premiação da televisão dos Estados Unidos, conquistando nove troféus – quatro deles entregues a atores canadenses. Aliás, o Canadá e sua série de humor surpreenderam meio mundo na festa virtual realizada em 20 de setembro. Eugene Levy, Daniel Levy, Catherine O'Hara e Annie Murphy, que levaram para casa o “Oscar da TV”, ganharam as manchetes no dia seguinte. Porém, o quarteto não é tão “surpresa” assim, pois vem se destacando no cinema e na televisão há tempos.
Schitt’s Creek conta a história da milionária família Rose, obrigada a se mudar para uma pequena cidade do interior depois da falência. Já na sexta temporada, a série foi criada e produzida pelo experiente Eugene Levy e seu filho, Daniel Levy, o Dani. Além de comandar os bastidores, a dupla interpreta o patriarca Johnny e o herdeiro David. Nos EUA, a atração é exibida pelo Pop TV.
Aos 73 anos, Eugene Levy levou para casa o Emmy de melhor ator de comédia. Com quase meio século de carreira, é um dos artistas canadenses mais conhecidos de Hollywood – destacou-se no elenco dos blockbusters American Pie e Doze é demais 2, entre outros filmes.
Eugene iniciou sua carreira na década de 1970. O primeiro sucesso foi a série Second City Television (1976-1984), da qual foi um dos criadores. Nessa comédia sobre uma fictícia estação de TV, o ator interpreta o mal-humorado âncora Earl Camembert.
Trata-se de um raro exemplo de produção canadense incorporada com sucesso pela televisão dos EUA. A série rendeu a Levy dois prêmios Emmy na categoria melhor roteiro/programas de variedade, nos anos de 1982 e 1983.
Dando vida a nerds e tipos pouco convencionais, o ator conquistou seu espaço em Hollywood. Foi coadjuvante em diversas comédias de sucesso – entre elas, Férias frustradas (1983), O pai da noiva (1992), Debi & Lóide: Quando Harry conheceu Lóide (2003) e Aconteceu em Woodstock (2009).
O papel de destaque de Eugene foi como Noah, pai do protagonista Jim Levenstein (Jason Biggs), em American Pie. Único ator a participar dos oito filmes da franquia, lançados entre 1999 e 2012, o canadense fez fama como o paizão disposto a ajudar o filho em qualquer circunstância, até mesmo a perda da virgindade.
Eugene também bateu ponto em Doze é demais 2 (2005) como outro paizão, o neurótico e competitivo Jimmy Murtaugh, arquirrival do protagonista Tom Baker (Steve Martin).
Versátil, Levy foi Albert Einstein na comédia Uma noite no museu 2 (2009) e artista folk em Os grandes músicos (2003) – performance, aliás, que lhe rendeu o Grammy de melhor canção original de filme/TV. Em 2011, recebeu a Ordem do Canadá por sua contribuição como ator, escritor de quadrinhos e dedicação a trabalhos de caridade.
MOIRA Parceira de longa data de Eugene Levy, Catherine O'Hara, de 66 anos, também levou para casa o “Oscar da TV”. Pela segunda vez, foi premiada por sua atuação como Moira Rose, a mulher de Johnny em Schitt’s Creek, repetindo o feito de 2019.
Assim como Levy, Catherine iniciou a carreira em Second City Television, no papel da cantora Lola Heatherton. Os dois também foram colegas em Os grandes músicos (2003), na animação Os sem-floresta (2006) e formaram um casal em O melhor do show (2000), performance que deu à canadense o prêmio de melhor atriz coadjuvante no American Comedy Awards.
As portas de Hollywood se abriram para Catherine graças ao filme Beetlejuice – Os fantasmas se divertem (1988), no qual fez o papel de Delia Deetz. Nos anos 1990, O'Hara ficou famosa como Kate McCallister, a mãe de Kevin (Macaulay Culkin) na franquia Esqueceram de mim.
O papel de mãezona carinhosa se repetiu numa sucessão de comédias românticas – Sobrevivendo ao Natal (2004), Par perfeito (2010), Filhos do divórcio (2013) e Amor certo, hora errada (2013).
Catherine fez também longa carreira como dubladora. Participou das animações O estranho mundo de Jack (1993), Galinho Chicken Little (2004), A casa monstro (2005), Irmão Urso 2 (2006) e Família Addams (2019).
Na seara das séries, ela não se limita a Schitt’s Creek. Participou da sétima temporada da aclamada Modern family como a doutora Debra Radcliffe. Em 2010, a canadense foi indicada ao Emmy de melhor atriz coadjuvante por Temple Grandin.
SCHITT'S CREEK
No Emmy 2020
» Melhor série de comédia
» Melhor ator/série de comédia
(Eugene Levy)
» Melhor atriz/série de comédia
(Catherine O'Hara)
» Melhor ator coadjuvante/série de comédia (Dani Levy)
» Melhor atriz coadjuvante/série de comédia (Annie Murphy)
» Melhor direção/série de comédia
(Andrew Cividino e Dani Levy)
» Melhor roteiro/ série de comédia
(Dani Levy)
» Melhor elenco/série de comédia
» Melhor figurino
l No Brasil
» Em cartaz no canal pago Comedy
Central e na plataforma
Paramount%2b (até a quinta temporada)
Dois coadjuvantes de luxo
Além dos troféus do Emmy 2020 conquistados pelos protagonistas Eugene Levy e Catherine O'Hara, Schitt’s Creek “rapou” os prêmios de coadjuvantes. Dani Levy e Annie Murphy brilharam como David e Alexis, filhos dos Roses.
Ator, escritor, diretor e produtor, Dani, de 37 anos, ficou conhecido por trabalhos realizados para a MTV Canadá a partir de 2006. Ainda jovem, foi responsável por alguns dos programas de destaque da emissora, como o MTV live.
Dani apresentou atrações em outros canais, como The X-factor digital experiment e The great canadian baking show, destacando-se também na cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010.
Em 2011, Levy deixou a MTV para se dedicar à carreira de ator e produtor de cinema. Em 2012, estreou como coadjuvante no thriller televisivo Cyberstalker. Construiu um currículo eclético, com participações menores no drama Offline (2012), na comédia romântica A seleção (2013) e no filme de terror Stage fright (2014).
Dani Levy ganhou visibilidade em 2013, ao criar, em parceria com o pai, a Not a Real Company Productions. O primeiro trabalho foi um piloto para a CBC, que resultou na série Schitt’s Creek. Além do Emmy de melhor ator coadjuvante em 2020, ele levou dois prêmios como roteirista e diretor por “Happy ending”, episódio da sexta temporada da sitcom.
Tamanha visibilidade, certamente, vai se refletir na carreira dele como ator. O canadense faz parte do elenco de Happiest season, comédia romântica dirigida pela americana Clea DuVall e estrelada por Kristen Stewart. A Sony Pictures prevê o lançamento deste filme para novembro.
SUSPENSE O Emmy de melhor atriz coadjuvante em série cômica, certamente, vai chamar a atenção para o talento de Annie Murphy, de 33 anos. Com 22, essa canadense de Ottawa se mudou para Los Angeles, determinada a conquistar seu lugar em Hollywood.
Ela estreou no suspense policial Lethal obsession (2007), fez pequenos papéis nos filmes canadenses Story of Jen (2008), Lick (2010), A windigo tale (2010) e Flashpoint (2008-2012). Também atuou nas séries americanas The beautiful life (2009), Against the wall (2011) e Beauty & The Beast (2012).
Em entrevistas, Annie revela que o início da carreira foi complicado. Diz que lutou para conseguir papéis em comédias embora seu currículo acumulasse dramas, o que dificultou a empreitada. A estreia em séries de comédia ocorreu em 2010, em Blue Mountain State. Porém, o papel de Jill em dois episódios não lhe abriu muitas portas.
O sonhado reconhecimento só veio em 2015, quando a atriz foi escalada para Schitt’s Creek. Como Alexis Rose, ganhou prêmios no Gracie Allen Awards, Gold Derby Awards e Galeca: The Society of LGBTQ Entertainment Critics.
Este ano foi especial, pois Annie levou o Emmy em sua primeira indicação ao prêmio. Agora, ela batalha para se firmar no competitivo mercado das séries. Já está escalada como atriz principal de Kevin can f**k himself, do canal a cabo AMC, que se encontra em pré-produção.
A atriz canadense vai fazer o papel de Allison, mulher do egocêntrico Kevin (Eric Peterson). A comédia de humor negro conta a história de uma esposa passiva que decide assumir as rédeas de sua própria vida.
* Estagiário sob supervisão da
editora-assistente Ângela Faria