Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

'Diário de um confinado' brinca com os dramas da flexibilização

A pandemia provocada pelo novo coronavírus alterou radicalmente os planos dos artistas, obrigados a buscar soluções que, ao menos, remediassem o surpreendente cancelamento de suas atividades. Entre os inúmeros exemplos destaca-se o ator e roteirista Bruno Mazzeo, que, ao lado da mulher, Joana Jabace, criou a série Diário de um confinado, cuja segunda temporada está disponível na plataforma Globoplay.





Os seis novos episódios mostram novamente o dia a dia de Murilo (Mazzeo), que, ainda cumprindo a quarentena, tenta agora sair de casa. O loft onde vive – na verdade, a sala do apartamento onde Joana e Mazzeo moram com os filhos, no Rio – continua o principal cenário da trama.

“A segunda temporada é dividida em três fatias, e a principal delas ainda é a das cenas do Murilo no apartamento”, observa Joana, que assina a direção artística da série. “Na outra, ele interage com outros personagens por meio de aplicativo de conversa, pelo computador ou celular.”

O personagem fala remotamente com a analista, os amigos, a mãe. “Na terceira fatia, Murilo vai à casa de um amigo, dá uma volta de carro, vai a um restaurante ao ar livre. É alguém que tenta lidar com o mundo que está se flexibilizando, mas ainda tem muito medo. Murilo é um paranoico nato, um angustiado. Ele vive nessa gangorra da dúvida, indo e voltando.”





Se, na primeira temporada, Murilo é obrigado a viver nova rotina (como evitar o contato com entregadores de refeições, por exemplo), agora seu aprendizado é a tentativa, ainda que pálida, de voltar ao mundo. “A gente começa a falar um pouco do que vamos encontrar lá fora. Murilo continua com seus altos e baixos de humor, mas vai tentar dar esse passinho na flexibilização. Porém, ele está ainda mais neurótico. Quanto mais relaxamento, menos relaxado ele fica”, explica Mazzeo.

A maioria dos personagens aparece por videochamadas, dirigidas por Joana, também a distância. Os próprios atores fizeram a captação de suas cenas com kits preparados para uso individual, composto por dois celulares, tripés, microfone externo e aparelhagem usada para controlar a iluminação. “Queríamos continuar sendo produção caseira, mas não amadora”, afirma Mazzeo.

entrevista
Bruno Mazzeo
roteirista e ator

‘‘A gente conseguiu’’

Qual foi o principal aprendizado conquistado na primeira temporada de Diário de um confinado para melhor realizar a segunda?

Joana teve muitos aprendizados na maneira de produzir e dirigir, coisas que até foram acontecendo durante a primeira. Difícil dizer com exatidão, às vezes são até coisas subjetivas, mas também no texto a gente sempre vai entendendo como a narrativa funciona melhor, que tipo de gag funciona mais. A segunda é bem diferente, porque tem mais cenas externas, participações presenciais. Então, tínhamos que descobrir novas maneiras.





Amigos confinados deram sugestões para vocês? 

Claro que as histórias que ouço dos amigos acabam sendo inspiração, assim como as dos amigos parceiros de texto. Uma pena que não conseguimos usar questões de casal, em função de o personagem ser solteiro. Sofri com isso, pois todas as minhas primeiras ideias eram relacionadas ao casamento quarentenado.

A primeira temporada termina em tom poético, carregado de esperança. A série contribuiu para ajudar as pessoas a enfrentar o isolamento social? 

Escrever sempre me faz bem, para botar para fora questões minhas. Acredito que possa ter feito bem às pessoas que se identificaram, mais do que a diversão, o fato de se ver ali, saber que não estão sozinhas nessa.

Murilo se arrisca a sair de casa. Isso era inevitável? 

A série foi criada em cima de uma situação pontual, muito específica. Só faria sentido continuar se ela acompanhasse a evolução do assunto. Acredito que a gente conseguiu. As pessoas continuam me escrevendo que têm se identificado com essa questão da flexibilização neurótica do Murilo. (Estadão Conteúdo)













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