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Estado de Minas CINEMA

Nomadland, da cineasta Chloé Zhao, é imersão no mundo dos nômades

Filme que levou o Leão de Ouro em Veneza e está cotado para o Oscar une realidade à ficção, com personagens que vivem e rodam em vans nos EUA


08/10/2020 04:00 - atualizado 08/10/2020 10:15

Cenas com Frances McDormand foram filmadas em cinco estados dos EUA, em locais que simbolizam o fracasso do sonho americano (foto: Festival de toronto)
Cenas com Frances McDormand foram filmadas em cinco estados dos EUA, em locais que simbolizam o fracasso do sonho americano (foto: Festival de toronto)

Foi num Festival de Toronto, três anos atrás, que Frances McDormand assistiu a Domando o destino, da cineasta chinesa radicada no EUA Chloé Zhao. “Quem diabos é Chloé Zhao?”, perguntou. A atriz não é de ficar esperando, faz acontecer. Poucos meses depois, tinha se encontrado com a diretora. O resultado é Nomadland, que foi o mais bem votado pelo público no Festival de Toronto, depois de levar o Leão de Ouro em Veneza. O filme está cotadíssimo para o Oscar, e Frances pode concorrer pela sexta vez – ela ganhou em 1996 por Fargo, e em 2017 por Três anúncios para um crime.

Em Nomadland, Zhao prossegue em seu estilo de colar a realidade à ficção, com personagens saídos da vida e interpretados por atores não profissionais, com a paisagem americana por testemunha. Seu primeiro longa, Songs my brothers taught me (2015), mostrava a relação entre irmãos numa reserva indígena em Dakota do Sul.

Domando o destino contava a história de um caubói da mesma reserva tendo de se reinventar depois de sofrer um acidente grave num rodeio e era estrelado por Brady Jandreau, em quem a trama se baseava. Nomadland é inspirado no livro de não ficção de mesmo nome, de Jessica Bruder, sobre nômades nos Estados Unidos – mais especificamente, baby boomers que vivem em vans e transitam pelo país.

McDormand – a primeira atriz profissional com quem Zhao trabalha junto de David Strathairn – faz a personagem Fern, que cai na estrada depois de perder o marido, o emprego e a cidade onde morava, destruída pela crise de 2008.

Fern interage com nômades de verdade. Ao todo, foram cinco meses de filmagem intercalados de acordo com o clima em cinco estados americanos. “Simplesmente, estávamos presentes nas vidas de outras pessoas, tentando não ser uma força de disrupção”, disse McDormand.

''O que teria sido se nunca tivesse visto Domando o destino e conhecido Chloé Zhao? São muitos, mas parte do sonho americano que consegui realizar foi trabalhar com pessoas como Chloé''

Frances McDormand, atriz

Segundo a diretora, foi fácil convencer Linda May, Swankie e Bob Wells a participar do filme. “No início, ficaram surpresos de querermos contar suas histórias. ‘Não somos ninguém’, diziam. E falamos que eles, sim, é que eram interessantes. E Frances os tratou como se fossem eles as estrelas de cinema. Então, não foi difícil.”

A atriz sentiu que sua imersão no mundo dos nômades estava dando certo quando recebeu um formulário de emprego numa loja Target, no Nebraska. “Cheguei para Chloé e falei que estava funcionando”, contou. Ela também trabalhou em uma fazenda de beterraba e num centro de distribuição da Amazon – fontes de trabalho temporário para quem mora na estrada.

“Não queria discutir a precariedade desses empregos porque, apesar de serem difíceis, ao menos são um trabalho. Então, podemos nos livrar deles, mas, como sociedade, o que vamos oferecer em troca? A questão é muito maior”, disse Chloé Zhao.

McDormand, que interpretou várias mulheres americanas da classe trabalhadora, tem a mesma origem de Fern. “A diferença é que deixei esse mundo para trás aos 17 anos. O que teria sido se eu não tivesse a oportunidade de ir para a faculdade e fazer pós-graduação? E se não tivesse tido a oportunidade de ser parceira de um marido que acreditou em meu potencial e me ajudou a realizar meus sonhos? E se não tivesse conhecido meu filho e a oportunidade de me tornar um ser humano mais completo? E se nunca tivesse visto Domando o destino e conhecido Chloé Zhao? E se tivesse me olhado no espelho e não conseguido me reconhecer como a mulher que está sendo representada em revistas de moda e filmes? São muitos ‘e se’, mas parte do sonho americano que consegui realizar foi trabalhar com pessoas como Chloé Zhao”, afirma a atriz.



CONEXÃO HUMANA

A cineasta diz que não fez o filme para ensinar. “É uma história que todos podem apreciar, não importa em que acreditam ou que partido político apoiam. É sobre conexão humana”, comenta.

Nomadland é um grande passeio pela paisagem humana e física dos Estados Unidos. E Frances McDormand, que teve seu rosto comparado ao de um parque nacional, é a guia perfeita. (Estadão Conteúdo)


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