O Festival de Cinema de Roma homenageou nessa segunda-feira (19) o diretor brasileiro Glauber Rocha (1939-1981), nome fundamental do Cinema Novo, com a exibição de um documentário sobre seu exílio voluntário na Itália, nos anos 1970.
Glauber, claro tem direção do ítalo-brasileiro César Meneghetti, de 55 anos. “É um metafilme, nós nos metemos dentro de um filme e seu mundo”, disse ele, que não pôde comparecer à exibição no auditório do MAXXI, em Roma, devido à pandemia do novo coronavírus.
O longa de Meneghetti se inspira em Claro, que Glauber rodou em Roma, em 1975. O mosaico de memórias, de amigos, de atores, de colaboradores e críticos descreve uma geração que acreditava em princípios e se sentia politicamente comprometida.
“Na montagem, fomos guiados pela sinceridade, pelo emocional, o que vinha do coração. A cronologia não contou. Nós nos deixamos levar”, afirma o cineasta.
Autor de clássicos como Terra em transe e Deus e o diabo na terra do sol, Glauber Rocha renovou a estética do cinema brasileiro e produziu sua obra com a intenção de que ela não apenas interrogasse a realidade, mas também produzisse efeitos concretos na conscientização sobre temas de relevância política.
“Esses jovens de 80 anos que entrevistei ainda são muito vitais e acreditam que devemos lutar por um mundo melhor”, disse Meneghetti, que queria fazer o filme desde 2005, quando estudava no Centro Experimental de Cinema de Roma.
Glauber foi censurado no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985), razão pela qual deixou o país e circulou por vários lugares, como Espanha, Chile, Itália e Portugal. Para Meneghetti, “ele foi um visionário; antecipou o homem global e também foi um pensador”.
O documentário aborda, sem dizer explicitamente, temas muito atuais no Brasil, como autoritarismo, violência estatal e racismo. Usa material inédito do arquivo histórico da televisão estatal italiana. “Foi uma sorte poder mostrar um importante pedaço da história do cinema”, afirma o diretor.